As tardes com Décio Pignatari

Por Pedro Fernandes

Décio Pignatari ao lado do professor e poeta Francisco Ivan em conferência de abertura do Colóquio Barroco (edição 2009).

1. Este pode ter sido um momento que não se repetirá mais. Tanto pela idade avançada quanto pela já frágil saúde de Décio Pignatari que, apesar de tudo, segue ativo, revisando parte de sua produção intelectual e produzindo novos materiais; nos dias em que estive em duas longas conferências com o fundador do movimento concretista, relatou-nos do trabalho de construir algumas peças de teatro, como a que contará a história (de um ponto muito inusitado) da escritor Nísia Floresta.

2. Décio veio a Natal para ficar boa parte dos dias em que acontece a XVII Semana de Humanidades, evento promovido anualmente pelo Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os dias a que me refiro foram 3 e 4 de junho de 2009. As duas tardes tinham um título muito genérico "Fronteiras na pesquisa em Letras e Artes" e sobre o qual praticamente nada foi dito.

3. Além do curso, Pignatari era convidado para abrir o Colóquio de Estudos Barrocos, evento que acontece, entre uma série de outros do gênero, no interior da Semana de Humanidades. Novamente, o tema parecia fugir da alçada do escritor que, ao invés de falar sobre o tema central do colóquio, discorreu sobre semiótica, os exercícios com os irmãos Campos e, claro, o ofício de professor.

4. Sobre as tardes com Décio, é preciso dizer que, ele está na fase em que se pode dizer tudo e ainda assim ser aplaudido; causou certo burburinho a exaltação de classificar Nísia Floresta como uma esperta cortesã, uma das primeiras que o Brasil produziu com a qualidade devida do que se exigia internacionalmente.

5. Fora isso, é muito rico ouvir, lucidamente, passear por tudo aquilo que, de uma maneira ou de outra, coube no extenso guarda-chuvas de "pesquisa em Letras". Esboçou especulações desde os temas sociais, históricos, e sempre, apesar de negar a importância do Concretismo para arte brasileira, tocou sobre o movimento incursionado com os irmãos Campos; na pauta, ensaiou leituras sobre a literatura brasileira com atenção dedicada para o romance de Machado de Assis, as artes plásticas e a literatura estrangeira.

6. As tardes foram longas e de rica aprendizagem; mostrou que Pignatari, pode ser o poeta que for, é antes de tudo, alguém muito apaixonado pelo ofício de passar adiante o conhecimento adquirido, isto é, um legítimo mestre.

7. Perdão pela imagem embaçada e ruim. Era de alguém tímido ante o homem e, claro, sem o recurso devido para a fotografia; é uma imagem simples de celular.


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