O Pântano, de Lucrecia Martel



Da elogiadíssima nova safra do cinema argentino, a diretora e roteirista Lucrecia Martel é talvez o principal destaque individual, aquele que mais tem se preocupado em criar um universo ficcional próprio e original. Em seus dois longas, O Pântano (2000) e A Menina Santa (2004), ambos passados no norte da Argentina (região onde nasceu), há uma semelhança no trato da dissolução dos relacionamentos familiares, na influência da culpa católica e também em ambientações particulares, como a presença de piscinas.

O Pântano, o mais cultuado dos dois, conta a história de duas matriarcas e suas famílias desajustadas que passam alguns dias na úmida cidade de La Ciénaga (título original da obra). Mecha (Graciela Borges) observa, literalmente inerte, quase sem se levantar da cama, o marido se afundar no álcool e a relação incestuosa entre os filhos. Já Tali (Mercedes Morán), tenta se dedicar ao máximo à família, e ainda assim, não consegue impedir um acidente doméstico com o filho. Os personagens estão acomodados no sofrimento, algo que Lucecia Martel afirma perceber no povo argentino.

A cineasta não se preocupa em ser agradável. O ambiente é claustrofóbico: latidos, zunidos, corpos se quebrando, em um estado permanente de ebriedade - seja química, seja moral. E, apesar da decadência das relações, há um forte vínculo físico, com os personagens sempre se tocando. O Pântano  ganhou o prêmio Alfred Bauer, dedicado a diretores estreantes, no Festival de Berlim de 2001.

*Revista Bravo! 2007, p.108

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