Capitão América: o primeiro vingador, Joe Johnston

Por Pedro Fernandes

Chris Evans na pele do Capitão América em O primeiro vingador

Ele surgiu no quase-auge (ou terá sido auge?) dos quadrinhos americanos. É fruto de um período em que o mundo está bem dividido – amigos e inimigos – e os Estados Unidos, claro, no primeiro grupo, mesmo que, ainda quando de sua criação, em 1941, o país ainda não houvesse entrado de vez para o conflito da Segunda Guerra. A personagem é criada como um símbolo da propaganda belicista, e o roteiro não só respeita como destaca isso. A história de criação deste super-herói se confunde com a história de criação de outros super-heróis, surgidos, na sua grande maioria, como apoio moral a uma sociedade desacreditada de seu poder de dominação. Capitão América está situado num tempo em que o inimigo atendia por um nome apenas, Adolf Hitler. E claro está em algum momento do filme quando o aspirante a capitão aparece esmurrando o führer. Hoje se sabe que o inimigo está em toda parte. Talvez o Caveira Vermelha, o vilão inimigo do capitão, tenha mesmo conseguido seu plano de onipresença.

O enredo já conhecido do público dá contas de um jovem, Steve Rogers, que movido pelo aparato midiático do estado americano a fim de recrutar homens para a frente de batalha, quer, a todo custo – mesmo tendo mais de quarenta tipos de “deficiências” listadas na sua ficha de inspeção – entrar para as Forças Armadas. É quando, depois de cinco tentativas, se apresenta na sua vida Dr. Erskine. Fugitivo dos planos alemães, ele tem em Steve a cobaia para conduzir seu experimento de criação de supersoldados. Experimento dado certo, é daí que irá se formar o herói.

A adaptação para o cinema está bonita de se ver. Faço um julgamento de quem não leu nenhum gibi ou acompanhou o desenho. É, pois, um julgamento do filme pelo filme. Esteticamente, Capitão América é bem construído. A formação do super-herói não é feita de um quadro para outro da película. E o enredo é muito bem estruturado. Com um pé na ficção e outro nos fatos históricos da 2ª Guerra Mundial, fica claro para o telespectador, como se constrói dentro e fora dos campos de batalha um sentimento de patriotismo, ou, a bem dizer, como se fazem os heróis. A direção do filme consegue – mesmo no meio de toda exaltação patriótica – provocar o telespectador a ver heróis como o América como produto de uma alucinação. Outro fato: o filme não se perde apenas no seu centro sustentador, mas tem a capacidade de respeitar os espaços cênicos das outras personagens. 

Agora, claro, não haveremos de deixar de comentar aqui do péssimo desfecho desse enredo. Como num livro o leitor sempre prima pelo desfecho da narrativa, no cinema o telespectador sempre prima pelo encerramento da trama. Sabido é que, o grau de dificuldade de certos encerramentos é, às vezes, superior aos começos. Mas colocar um herói fabricado com o propósito que foi fabricado, deslocado no espaço tempo de setenta anos com ainda a mesma bravura parece ser um anacronismo imperdoável. Preferia que tudo terminasse naquela nave se espatifando no gelo ártico e o retorno para início do filme com exploradores encontrando o escudo do capitão. Feria menos nossa capacidade de ficção. Seria exagero dizer que este é um filme brilhante, mas ele, certamente, entra para o rol dos não brilhantes mas que carecem de um comentário.

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