Uma revista que anseia quebrar o improvável

1ª edição da revista bólide

Quando tivemos contato pela primeira com a bólide recebemos a revista com o título “a tarefa de editar o improvável”. De fato, num país em que publicações do gênero têm pipocado nos últimos anos, cada novidade que se apresenta vai sendo exigida dela algo de novo que a diferencie entre as já existentes e não caia na mesmice. Vendo de longe já a segunda edição, parece-nos que o periódico tem seus elementos “novos” para vingar entre a leva de novas edições: a começar pelo design – elemento que é o primeiro a ser observado em qualquer publicação, seja impressa, como é o caso do periódico aqui em questão, seja eletrônica. Aquele ditado popular de não se julgar o livro pela capa já é falido. Qualquer editor sabe que está na primeira impressão o impulso que faz entrar na publicação e conhecê-la melhor. Aliás, é preciso dizer, inclusive, que nossa aproximação com os da equipe editorial se deu justamente por essa impressão primeira que a julgar pela presença de uma matéria sobre a revista neste blog já deduz que foi um encontro saudável, que o aspecto primeiro chamou-nos, de imediato, nossa atenção.

Pensada como uma revista de literatura e arte, bólide publica narrativa curta, poesia, ensaio, imagem e entrevistas; pensada como arquivo por vir, a ideia se estrutura em dois pontos importantes e que estão em constante tensão: o primeiro é como ser um arquivo organizado de modo a comportar o heterogêneo, o disperso, o sem classificação ou hierarquia. Daí, surge o segundo ponto, o princípio do arquivo padece ainda do mal em privilegiar determinados materiais em detrimento de outros. Isto é, mesmo sendo um arquivo por vir, bólide não se esquiva do mal das escolhas. Agora, nem sempre padecer é ser: bólide quer agregar também o que não estará no centro do arquivo, e por isso desenvolve publicações especiais, que podem ser um livro, um fanzine, um múltiplo.

Antes de comentar sobre as edições já colocadas em circulação é preciso esclarecer outra curiosidade que sempre recai nessas horas, que a sobre o ato de nomeação, isto é, o porquê da revista atende por esse nome – bólide. Esse nome, contam Eliana, Joana e Ricardo, os propositores do projeto, surgiu quando estavam na elaboração do esboço para o que seria a revista, a sua proposta, o seu conceito e o desenho do projeto. “Bólide pode ser este corpo-pensamento”, diz Joana, “pois é também um tipo de meteorito. Para nós, a revista é um desejo de atravessar o presente, abrindo uma fissura. É um movimento, é também um corpo luminoso, e para pensar com Giorgio Agamben a questão do contemporâneo, este corpo luminoso carrega com ele a escuridão. O nome e a proposta da bólide trazem esta tensão. Há também a referência, que para nós é importante, dos bólides de Hélio Oiticica.”

Pensada para ser uma revista trimestral, o primeiro número de bólide teve como proposta trabalhar com relações transversais entre narrativa, poesia e arte, pensando o procedimento da montagem como campo operatório do heterogêneo, do movente, do descontínuo, do aberto. Com projeto gráfico desenvolvido por Eliana, os cinco primeiros números são pensados como peças de uma espécie de jogo: cada edição traz a capa feita por um artista visual convidado. Na primeira edição, por exemplo, o trabalho é do curitibano Maikel da Maia. Por citar o termo “curitibano” é necessário ressaltar que a revista nasce em Curitiba, cidade, aliás, que tem sido um dos lugares de destaque na cena literária contemporânea.

O primeiro reúne colaborações de autores como Annita Costa Malufe, Carlos Henrique Schroeder, Fabio Morais, Laura Erber, Mario Bellatin, Ricardo Pedrosa Alves, Marilá Dardot, Roberto Echavarren, entre outros.
A 2ª edição da revista bólide

Em junho chegou-nos o segundo número com trabalhos que se relacionam com os confins da loucura: obsessão, desastre, repetição do diferente, morte, erotismo, experiência limite. Entre  os colaboradores estão: Paulo Bruscky, Patrícia Galelli, Greta Benitez, Casé Lontra Marques, Catarina Costa, João Manuel Ribeiro, Franco Rella, Peter Pál e Rodrigo Garcia Lopes.

O terceiro número, que ainda será lançado, aborda de maneira dialógica a tradução e a etnopoética, com maneiras de pensar a alteridade, seja ela linguística, contextual, visual, pensando a tradução como relação. Entre outros, há tradução de canto indígena e de narrativas orais maias, do escritor mexicano Cocom Pech.

A bólide é publicada pela editora Medusa e é editada por Eliana Borges, Joana Corona e Ricardo Corona; com distribuição nacional para livrarias feita a partir da Editora Iluminuras. O projeto é financiado, via Lei de Incentivo à Cultura (da Fundação Cultural de Curitiba), pela Caixa Cultural. 


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