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Mostrando postagens de novembro, 2015

À esquerda de si mesmo

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Por Manuel Hidalgo Arthur Miller (1935-2005) se fez pelo paradigma do intelectual estadunidense de esquerda. Seu êxito como criador, seu compromisso político e sua relação com Marilyn Monroe o dotaram de uma grande projeção pública. Alto, esbelto, atraente, de ampla fronte, com óculos de pensador e, frequentemente, cachimbo entre os lábios, ele forjou uma imagem midiática que o tempo atenuou, mas não conseguiu dissolver. Nova-iorquino, com infância entre Manhattan e Brooklyn, estudou jornalismo na universidade de Michigan. Filho de imigrantes judeus e poloneses, manteve certa militância no judaísmo laico, apoiando a criação do estado de Israel e denunciando o antissemitismo, notoriamente em seu romance Foco (1945). Todos eram meus filhos (1947) foi, entre as várias criações, seu primeiro triunfo como dramaturgo na Broadway. De Ibsen a O’Neill, a obra transparecia suas influências realistas e a herança do Group Theatre, que Miller caracterizaria substancialment

Boletim Letras 360º #142

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Em 2016, cumpre-se 30 anos da morte de Jorge Luis Borges e o mundo das letras espanholas já prepara as celebrações. Entre elas, uma megaexposição. Mais informações ao longo deste boletim. Ambição nossa? Quem disse para não termos metas ambiciosas? Encantados com a rápida virada de 20 para 21 mil amigos em nossa página no Facebook, contávamos sortear dois exemplares da Nova reunião de poesia , de Carlos Drummond de Andrade depois de alcançarmos a meta de 1,5 mil partilhas da imagem da promoção  que ficou no topo do nosso mural. Ingenuidade, santa ingenuidade! Tanto sabemos que por nas redes sociais quase nada do se escreve é lido (e ainda há as limitações de visibilidades impostas pela rede) que ousamos criar e manter a meta que depois vimos como inalcançável. Claro, não é uma post com tema da moda ou novidade bombástica dessas que buscam a grande parte dos frequentadores de espaço como estes. Mas, não há espaço para mágoas e respeitamos os que participaram e cumprimos com o sort

Literatura e Jornalismo ou Jornalismo e Literatura, não importa a ordem, importam esses doze livros

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Como a história, a literatura e o jornalismo são sustentados pelo ponto de vista de quem narra. A variável nos três modos narrativos encontra-se na forma como o fato é reproduzido através da escrita. Mas, mesmo as fronteiras entre escrita são tão tênues que a possibilidade de separar tais modos alguma vez não existiu. Claro, estávamos numa ocasião em que o conceito para literatura ainda não tinha seu crédito como passou a ter com o nascimento dos estudos literários. Mas, mesmo depois da separação, seus escritores, alimentados por escolas de escrita diferentes conseguiram criar algumas fronteiras que, forte para uns, muito frágeis para outros. E esse segundo grupo jamais deixou de ousar nas interferências dos modos narrativos; muitos estiveram na fronteira e, na extensa necessidade de nomear tudo, passamos a chamar de jornalismo-literário, história-romanceada etc. As variáveis com que se nomeia as relações de escrita demonstram a impossibilidade de agregá-la em univer

Verdade ao amanhecer, de Ernest Hemingway

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Por Pedro Fernandes Ernest e Mary Hemingway em África entre 1953 e 1954. Foi das experiências neste último safári que nasceu o projeto de Verdade ao amanhecer , não concluído e publicado postumamente pelo filho Patrick. Contam os registros sobre a aparição de Verdade ao amanhecer , de Ernest Hemingway, em 1999, que este foi um título marcado por uma série de burburinhos da mídia e com forte apelo midiático pelos grupos editoriais; também pudera, sempre quando morre um grande escritor fica a suspeita de que trabalhava em algo significativo e se, como foi o caso do estadunidense, nada é revelado nos primeiros anos mas só muito tempo depois, poderá ser um livro de compilação com receitas de bolo e esse mal aterrador do capital que rege com fina força desde sempre, e hoje mais, o mercado das publicações, explora a descoberta ao limite. Verdade ao amanhecer  ficou por escrever. Hemingway começou a feitura do livro, mas depois de abandonar o projeto nunca mais voltou a ele.

Os laivos de metafísica na obra de Nuno Júdice

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Por Maria Vaz Nuno Júdice é um dos poetas contemporâneos que constam da minha lista de preferências: aquela lista de poetas a que se recorre em dias de reflexão. Quem disse que as palavras alinhadas em verso não podem ser uma espécie de religião? É que, de facto, miscigenam-se com o culto ao à beleza e com aquilo que aquela, tantas vezes, esconde, na sua forma ponderada de sublimação do real. Repetidas vezes damos por nós a questionarmos filosoficamente o sentido dos ‘pequenos nadas’ que a vida quotidiana nos trás ou as grandes questões a que apenas a imaginação, ancorada na crença ou na medida da consciência que possuímos, permite conjecturar. E não será o pensamento mais racional uma mera conjectura falaciosamente assente em certezas falsificáveis? Nestes domínios a tolerância carrega consigo a aversão a dogmatismos, a restrições de uma moral que perecerá, na medida em que o bem e o mal acarretam, necessariamente, uma construção a partir de um referencial subjectivo. Enfi

Diz-me com quem andas e te direi quem és: influências literárias na obra de Gabriel García Márquez

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Por Megan Barnard Alguma vez Gabriel García Márquez comentou acreditar que a principal razão pela qual os escritores leem os romances dos outros era para aprender como foram escritos. Para o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, os livros tinham uma importância tremenda e com frequência escreveu e falou sobre os outros autores que mais haviam lhe influenciado. Em 1981, o ano anterior ao de quando ganhou o maior galardão de sua carreira, García Márquez identificou várias das influências capitais em sua obra numa entrevista que concedeu à Paris Review : “Quando escrevi meus primeiros contos me disseram que se percebia neles um cariz joyceano”, disse. “Nunca havia lido Joyce, de modo que logo fui ler Ulysses ”. Começou com uma tradução em espanhol que mais tarde qualificou de pobre, depois foi ler o original em inglês e uma boa tradução francesa.   Sem dúvidas, esse romance o impactou profundamente conforme declarou: “Aprendi algo que haveria de ser muito

Walt Whitman, o poeta do futuro, da multidão e da liberdade

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Por Neiva Dutra Walt Whitman nasceu em 31 de maio de 1819, em West Hills, Long Island. Foi um autodidata. Aos treze anos, já trabalhava como aprendiz de impressor no Brooklyn e cinco anos mais tarde escrevia para diversos jornais; base que o levou a ser  diretor do  Long Islander  entre 1838 e 1846 e do  Brooklin Daily Eagle , a partir de 1846, cargo que abandonou em 1848 por divergências em questões políticas, especialmente o problema da escravidão. Em 1850 viajou a Nova Orleans, onde trabalhou como construtor durante cinco anos. Um ano depois editou, com seus próprios recursos, o livro  Folhas de erva (1855), que se converteu em sua única e essencial obra, plena de liberdade formal, de acentuado lirismo, inclinação liberal e expressividade poderosa.  A imprensa atacou-a furiosamente como escandalosa pela forma – versos longos, com termos próprios da linguagem popular e direta – e pelos temas.  Porém, também despertou a admiração de Ralph Waldo Emerson, quem teve a l