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Mostrando postagens de março, 2016

Bent, de Sean Mathias

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Por Pedro Fernandes O filme não é novo. Data de 1997. É baseado numa peça de teatro de 1979 de Martin Sherman e que tem adaptação inicialmente em Londres e depois na Broadway com ninguém menos que Richard Gere no papel principal: o da personagem Max, quem depois de viver na clandestinidade sua promiscuidade com outros homens, é preso pelo nazismo num campo de concentração. A obra, quando  no teatro foi, além do sucesso da crítica – algo que certamente influenciou ser levada para a grande tela – um celeuma entre os espectadores. Havia poucos anos que a Inglaterra invalidava o crime de ser homossexual e até então pouco ou quase nada se sabia do que o regime de Adolf Hitler havia cometido contra a comunidade LGBTT e o texto de Sherman se não deu início foi um dos precursores e provocadores ao interesse dos pesquisadores pelo tema tratado por ele nos palcos. A apresentação desse fato é totalmente necessária não apenas para que o leitor saiba quais foram as bases para a const

A cor púrpura, de Alice Walker

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Por Renato Fernandes A autora Alice Walker criou um livro um tanto diferente de outros e um mundo que deixa o leitor agradecido porque este, apesar de muitos dos acontecimentos ainda se repetir, não é mais o seu próprio mundo. De 1900, o tempo da ação do romance, para cá, muita coisa mudou. Mas, muito ainda está por mudar porque a história da humanidade tem sido uma história de retrocessos. A protagonista Celie, uma jovem negra nascida numa cidade segregada, conta sua história através de cartas. Muitas delas são escritas para Deus e outras para sua irmã Nettie. Há algumas cartas que são escritas por Nettie para sua irmã e ela explica sua história quando está na África. Na sua maioria, tudo está escrito em primeira pessoa, mas há algumas em que a escrita reconta o que outros disseram. O título significa a mudança e a transformação que a protagonista experimenta através de sua vida. O tempo rememorado por Celie é o de depois que a escravidão foi abolida nos Estados Uni

William Shakespeare, a invenção do mito

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Por Jon Viar Apricio Durante as últimas semanas li vários artigos na imprensa sobre Miguel de Cervantes e William Shakespeare, em torno dos quatrocentos anos da morte dos dois. Sobre o maneta de Lepanto continuo descobrindo novidades e curiosidades. Mas sobre o bardo de Stratford só encontrei tópicos com muito pouco ou quase nenhum rigor. Quando nos referimos a Shakespeare convém indagar além do mito e do negócio criado depois da fama em torno de seu nome. É chamativo o fato de que nesses artigos não se mencione a controvérsia sobre a autoria das obras tendo em conta que desde que Delia Bacon publicou The philosophy of Shakespeare’s plays unfoles em 1857, a polêmica não findou nos meios acadêmicos e artísticos. Os chamados stratfordianos são todos aqueles defensores da versão oficial segundo a qual Shakespeare seria o autor de todas as obras a ele atribuídas. Mas há outras teorias. Li em algum jornal afirmações tão categóricas como a de que William Shakespeare aprendeu

Mario Vargas Llosa: vida e liberdade (parte 1)

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Por Enrique Krauze Mario Vargas Llosa, 1936. Inquietações “Escrevo porque não sou feliz, escrevo porque é uma maneira de lutar contra a infelicidade”, declarou há muito Mario Vargas Llosa ( Diálogo com Vargas Llosa , 1989). O principal indício sobre a origem íntima dessa infelicidade é a aparição, no paraíso familiar de sua infância, aos dez anos de idade, depois da crença de que o pai que havia idealizado nestava morto. Reaparição terrível, cuja sombra ameaçadora determinaria grande parte de sua vida. Um amigo muito próximo, o grande pintor peruano Fernando de Szyszlo, recordava que em janeiro de 1979, ao chegar ao lugar onde velavam o corpo de seu pai, Mario apenas ficou alguns segundos diante do homem estendido no caixão e sem dizer uma palavra apressou-se em sair. A literatura tem sido o meio através do qual Vargas Llosa pode enfrentar essa ferida de jovem, vinculada em mais de um sentido, tal como o da ferida original de seu país. “Quando se acabou o Peru?

Boletim Letras 360º #159

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Edições raríssimas da obra de William Shakespeare vão a leilão Um boletim tal e qual a semana: enxuto. Por isso, sem mais: essas foram as notícias partilhadas entre segunda e sexta-feira em nossa página no Facebook que já tem quase 24 mil amigos! Sim, estamos felizes demais por isso! Que sejam bons amigos, interessados em literatura, em artes, no lado bom da humanidade e já é um privilégio para todos. Segunda-feira, 21/03 >>> Brasil: Chega às livrarias o novo romance de Salman Rushdie Depois de uma tempestade em Nova York, fatos estranhos começam a ocorrer. Um jardineiro percebe que seus pés não tocam mais o chão. Um quadrinista acorda ao lado de uma personagem que parece um de seus desenhos. Ambos são descendentes dos djins, figuras mágicas que vivem num mundo apartado do nosso por um véu invisível. Séculos atrás, Bunia, princesa dos djins, apaixonou-se por um filósofo. Juntos, tiveram filhos que se espalharam pelo mundo humano. Quando o véu é rompido,

A última convidada de Josué Montello

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Por Rafael Kafka A última convidada é o primeiro livro de Josué Montello que pego para ler e muito tem me agradado o estilo desse autor maranhense cuja obra mais famosa, Os Tambores de São Luís , espero ler em breve. Falando de um universo pequeno-burguês preocupado por demais com as aparências e as colunas sociais, o romance em questão é um interessante relato entremeado por memórias e crises existenciais ligadas ao sentimento de culpa. Patrícia é uma moça que sofre de insônia e está prestes a comemorar 40 anos de vida e 18 de casada. Logo no começo do romance, em uma abertura a qual lembra No caminho de Swann de Proust. Assim como o texto proustiano, a prosa de Montello tem como intuito promover uma investigação narrativa da afecção que é o ato de recordar, como ilustra Paul Ricouer na primeira parte de seu  A memória, a história, o esquecimento . O ato de rememorar aqui é sempre provocado pelo presente, que cria pontes de analogias com o passado nem tão recente assim

Qual era a cor dos olhos de Franz Kafka?

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Por Avi Steinberg Há muito que as histórias de Franz Kafka passaram para o anedótico e constituem o tipo de trabalho que você não precisa ter lido a fim de saber que elas existem. Assim como tratamos determinadas situações por “shakespearianas” e outros acontecimentos de “proporções bíblicas” – tenhamos ou não lido obras como Júlio Cesar ou o Livro de Jó – as qualidades do “kafkiano” são familiares a nós não apenas pela leitura das histórias de Kafka e são parte das histórias que vivenciamos diariamente. Usamos “kafkiano” para nos referir a situações embaraçosas com serviços de atendimento ao cliente, para falar sobre as relações escusas do estado para com os cidadãos comuns etc. Para um escritor essa é uma honra, ainda que não completa, ser lembrado sem que o leiam; de toda maneira é uma forma de manter-se sempre presente e sempre mal compreendido. Para ajudar a reverter essa deriva da reputação de Kafka, Reiner Stach foi curador de uma coleção de artefatos da vida do

Os segredos da Senhora Wilde

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Por Eduardo Lago Oscar Wilde, Cyril e Constance Em 1879, ano em que deixou Oxford para iniciar a conquista da celebridade em Londres, Oscar Wilde conheceu numa festa uma jovem de boa família e rara beleza que se chamava Constance Lloyd. Casaram-se cinco anos depois, quando a cidade já havia se rendido ao talento do escritor irlandês, embora a moça de cabelo castanho, olhos cor de mel e rosto com traços pré-rafaelista havia sucumbido à primeira vista à ingenuidade e aos encantos do irresistível dândi. Fora de si, quando Oscar a pediu em casamento, Constance enviou ao seu irmão Otho um bilhete em que dizia: “Estou comprometida com Oscar Wilde e sou perfeita e enlouquecedoramente feliz”. Otho Lloyd pareceu não esperar pela notícia. “Se se tratasse de qualquer outro”, escreveu a um amigo, “não colocaria em dúvida que estava apaixonado por minha irmã”. O casamento foi um espetáculo à altura dos quadros cênicos que aparecem em suas comédias. Passaram a lua de mel em Paris. Em meio