Boletim Letras 360º #164

Mário de Sá-Carneiro: Portugal lembra os 100 da morte do poeta e mentor do modernismo português através de uma leva de eventos e com eles a revelação de alguns materiais inéditos. Mais informações ao longo deste boletim.


Esta é mais uma edição do Boletim Letras 360º. O Letras in.verso e re.verso vai para dez anos online muito em breve. Isso dá quantas semanas? Bem, não calculamos. De vida nas redes sociais, se a memória não nos trai vai para seis anos. E isso dá quantas semanas? Também não calculamos. Mas, desta postagem, lá vão 164 semanas. Ah, o tempo!

Segunda-feira, 25/04

>>> Portugal:Exposição revela peças raras e inéditos de Mário de Sá-Carneiro

Há entre as primeiras edições raras, incluindo um impecável exemplar do livro de poemas Dispersão, manuscritos nunca reproduzidos, como o das "Sete canções de declínio", e até a única carta de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa que não está na Biblioteca Nacional de Portugal, e uma amarelecida folha solta com meia dúzia de palavras rabiscadas a lápis, numa caligrafia larga e irregular: “Um grande, grande adeus do seu pobre Mário de Sá-Carneiro”. Este bilhete de despedida de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa “é um dos documentos mais comovedores da literatura portuguesa”, diz o pesquisador italiano Giorgio de Marchis num texto que assina para o desdobrável que serve de catálogo à exposição. De 26 de abril de 1916, o dia em que poeta se suicidaria num quarto de hotel em Paris, ingerindo cinco frascos de arseniato de estricnina, esta é a última fala de um diálogo entre os amigos modernistas. A exposição "Mil anos me separam de amanhã" acontece em Paredes de Coura, marca o centenário da morte do poeta, e Fica aberta durante o mês de maio. Vejam no Tumblr do Letras uma reprodução desse material.

Terça-feira, 26/04

>>> Brasil: Morreu o escritor Salim Miguel

Na sexta-feira passada, 22 de abril. Tinha 92 anos; Salim nasceu no Líbano e chegou ao Brasil com seus pais e duas irmãs quando tinha só três anos. Do Rio de Janeiro, onde morou pouco tempo, a família foi para Santa Catarina. Autor de mais de trinta livros e ganhador de prêmios como o Machado de Assis (2010) e o APCA (1999), o escritor despertou para a literatura ainda na adolescência. Aos 27 anos, já trabalhando como jornalista, lançou seu primeiro livro, apontando para o que seria um viés central de sua obra, com o título Velhice e outros contos

>>> Estados Unidos: Sim, há um novo texto de Harper Lee

A confirmação é dada pelo biógrafo da escritora Charles J. Shields; segundo o The Guardian, o pesquisador localizou um texto na revista Grapevine, um periódico para profissionais do FBI. A peça jornalística, escrita em março de 1960, aparece poucos meses antes da escritora publicar O sol é para todos. O texto, que não está assinado, é sobre o assassinato, numa fazenda no Kansas, de Herb e Bonnie Clutter e os seus filhos adolescentes. Sabe-se que Harper Lee tinha acompanhado em 1959 o seu amigo de infância Truman Capote ao Kansas, numa investigação que viria a dar origem a A sangue frio; o texto decorre dessa ocasião. Agora será republicado no mês de maio nos Estados Unidos.

>>> Portugal: A nova edição da Revista Blimunda está ao alcance dos leitores

O número 47 veio a público no último dia 25 de abril, data importante para os portugueses (e para o mundo que não concorda com a arbitrariedade dos golpes e zela pelo direito à democracia); os 42 anos da Revolução dos Cravos, a que assinala o fim do extenso período de trevas que cobriu Portugal durante a ditadura é o tema central da Blimunda: esta aí a entrevista a Gene Sharp, autor do livro From Dictatorship to Democracy – obra cuja leitura acabou levando à prisão a 17 ativistas angolanos; a conversa com o brasileiro Julián Fuks autor de A Resistência. Está na abertura de novo espaço da revista que será ocupado Andréa Zamorano, escritora brasileira radicada em Portugal, que escreve “O Esqueleto”, tem a opressão de uma ditadura como pano de fundo. Marca ainda os 400 anos da morte de Miguel de Cervantes, com um texto de José Saramago e um artigo do escritor e cineasta espanhol Javier Rioyo sobre a passagem de Cervantes por Portugal. Tudo e mais disponível gratuitamente através do link.

Quarta-feira, 27/04

>>> França: Uma ilustração original de Saint-Exupéry para O Pequeno Príncipe é apresentada pela primeira vez e vai a leilão

O piloto escreveu e ilustrou a história - todos sabem. Mas, poucos desenhos ainda não tiveram exposição pública. Essa aquela é uma delas. A ilustração original e assinada por Exupéry vai a leilão no dia 31 de maio e está cotada inicialmente no valor de 60 mil Euros. A imagem corresponde à página 87 da edição original da obra. O Pequeno Príncipe tornou-se reconhecidamente um texto de grande alcance mundial com tradução em mais de 270 línguas. Antes de leiloada, a peça irá compor algumas exposições na França e nos Estados Unidos.

>>> Chile: Cerimonial de sepultamento dos restos mortais do poeta realizou-se ontem, 26 de abril de 2016

Direta ou indiretamente a Ditadura Militar matou Pablo Neruda; como matou muitos outros grandes nomes do pensamento e das artes. É a conclusão definitiva que se tira depois do longo itinerário pelo qual passou os restos mortais do poeta - desterrado para que se averiguasse as suspeitas de haver sido envenenado e não morrido vítima do câncer do próstata que carregava. O cerimonial que na década de setenta foi um grito político por liberdade, teve outros ares, mais tranquilos, embora o espírito da lembrança pelos males dos golpes gestados pelos interessados no poder a qualquer custo tenham se feito presentes. Os restos mortais repousam agora no terreno da casa onde viveu parte importante de sua vida com Matilde em Isla Negra. Falamos sobre as investigações em várias posts do BO Letras 360º e especificamente em matérias no blog: a primeira foi esta; depois, esta. As investigações deram duas frentes de análise: uma, reafirma a morte pelo câncer e a outra, que detectou a presença de organismos suspeitos ligados a um possível envenenamento.

Quinta-feira, 28/04

>>> Itália: Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, um andrógino?

No mundo, essa deve ser a pintura mais estudada. O mais recente garante que a mulher que vemos representada na pintura é o resultado da junção de dois modelos: Lisa Gherardini, casada com o rico mercador florentino Francesco del Giocondo, e Gian Giacomo Caprotti, conhecido como Salai ou Pequeno Diabo, um dos aprendizes que o pintor terá escolhido para seu amante. É o que Silvano Vinceti, o pesquisador que lidera o Comité Nacional para a Promoção do Patrimônio Histórico e Cultural italiano; ele está também à frente de uma equipe de arqueólogos e cientistas forenses que há quatro anos escava o Convento de Santa Úrsula, em Florença, na tentativa de encontrar os restos mortais de Lisa. Vinceti não afasta ainda a possibilidade de a figura feminina ser Beatrice D’Este, nobre italiana casada com Ludovico Sforza, duque de Milão e grande mecenas, em cuja corte Leonardo da Vinci trabalhou no final do século XV (Beatrice é, aliás, associada a outras pinturas do mestre). É que ele acredita que o artista poderá ter começado a pintar o retrato ainda na década de 1490 e não em 1503, como é comumente aceite. As conclusões estão baseadas numa análise detalhada de dados a partir da tecnologia de infravermelhos, que permite ver o que está por baixo da camada visível da pintura. A ideia de que a Mona Lisa é meio mulher e meio homem resulta do cruzamento de outras pinturas em que Salai foi o modelo, como a pintura São João Baptista (1513) e o desenho Anjo Encarnado (1513-1515).

Sexta-feira, 29/04

>>> Brasil: Viagem com um burro pelas Cevenas, o segundo livro escrito por Robert Louis Stevenson, ganha edição de luxo

O livro até então inédito por aqui recebeu cuidadosa tradução de Cristian Clemente e delicado tratamento editorial da Carambaia que deu aos 1000 exemplares da edição todas as nuances da matéria narrativa nas impressões gráficas: o volume é revestido por um material que simula a pele de um burro e internamente, a disposição do texto – alinhado apenas pelas margens, sem quebra de parágrafos – recria o universo visual do percurso. Sim, Viagem com um burro pelas Cevenas trata-se de um pitoresco diário narrando a travessia feita pelo autor escocês acompanhado de uma jumenta, a quem chama de Modestine, pela cadeia montanhosa das Cevenas, no sul da França. A aventura durou doze dias, de 22 de setembro, quando Stevenson partiu do vilarejo de Le Monastier, com a burrica e um saco de dormir, a 3 de outubro de 1878, quando ele chega a seu destino final, a cidade de Alais. Com fina ironia, o autor relata essa trajetória ritmada sobretudo pelo humor da teimosa Modestine, que ora empaca, ora decide sozinha a trilha a seguir. A edição agora publicada traz um posfácio assinado pelo francês Gilles Lapouge, que faz uma leitura do relato do Stevenson a partir dos de outros escritores viajantes. E analisa a figura do burro, representada por Modestine, que, para ele, é a verdadeira autora da viagem e do relato.

>>> Espanha: Encontrado documento com assinaturas de Miguel de Cervantes

Está num texto em que o autor do "Dom Quixote" busca legitimar o passado “cômico” de seu amigo e autor de comédias Tomás Gutiérrez durante o processo que este empreendeu contra a Cofradía del Santísimo Sacramento del Sagrario de Sevilha por não admiti-lo. Trata-se de uma redescoberta - uma vez já se saber da existência desse material que foi estuado em 1914, mas desde então dado como perdido. E se deu durante os trabalhos de catalogação da Biblioteca da Universidade de Sevilha. O documento do siglo XVI, que consta de 97 fólios manuscritos, recolhe as declarações que Cervantes fez para apoiar a Gutiérrez neste procedimento no âmbito da jurisdição eclesiástica.

>>> Inglaterra: Morreu a ficcionista e ensaísta inglesa Jenny Diski

Autora de uma dúzia de romances e livros de contos que tratam com invulgar honestidade temas como as obsessões sexuais, a depressão ou a loucura, mas também de obras como Stranger on a Train (2002), um peculiar e premiado livro de viagens sobre os Estados Unidos, ou Sixties (2009), mistura de ensaio e volume de memórias sobre os anos 60, morreu na quinta-feira, 28, aos 68 anos, após ter sido diagnosticada em junho de 2014 com um câncer de pulmão; a escritora nasceu 1947. Apesar de reconhecida internacionalmente, sua obra é toda inédita no Brasil.

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