Boletim Letras 360º #169

Raduan Nassar, o Prêmio Camões de 2016.

Sempre que se reclamar que no Brasil não se lê, poderíamos mostrar o boletim que ora é publicado; não é sempre, mas nesta semana os lançamentos de extensa significação por editoras diversas são tantos que até mesmo um leitor mediano talvez não seja capaz de dar conta de todos eles no que ainda nos resta de 2016. E, se há publicação, imagina-se que há, mesmo pouco leitores. É evidente que não queremos negar nossa medíocre capacidade de leitores, mas só gostávamos de pensar a questão por outro ângulo. Talvez pela pergunta: e os leitores, o que fazem pelos não leitores? A proposta deste blog se consolida como uma alternativa nesse breu. Tanto que, enquanto alcançamos quase 31 mil amigos em nossa página no Facebook, ousamos, por conta própria reinvestir na aposta de agradar nossos leitores: há uma promoção que sorteia um kit com três livros da Lygia Fagundes Telles à escolha do vencedor. Saiba mais indo aqui. Mas antes não esqueça de ver o que há de novo para breve nas livrarias brasileiras nessa leva de lançamentos e relançamentos de livros. 

Segunda-feira, 30/05

>>> Brasil: Uma edição especial para A guerra dos mundos

O romance de ficção científica de H. G. Wells foi publicado em capítulos primeiramente em 1897 no Reino Unido pela revista Pearson e lançado como um romance no ano seguinte. É uma história sobre a invasão da Terra por marcianos inteligentes, dotados de um poderoso raio carbonizador e máquinas assassinas, semelhantes a depósitos de água sobre tripés. A Companhia das Letras publicará uma edição especial da obra com as clássicas ilustrações de Henrique Alvim Corrêa, de 1906, para a obra. Há algum tempo no Tumblr do Letras publicamos alguma parte do trabalho plástico de Corrêa. 

>>> Portugal: O Prêmio Camões 2016 foi para Raduan Nassar

O escritor é o 12.º brasileiro a receber o que é considerado o mais importante prêmio literário destinado a autores de língua portuguesa. O júri sublinhou "a extraordinária qualidade da sua linguagem" e a "força poética da sua prosa". "Através da ficção, o autor revela, no universo da sua obra, a complexidade das relações humanas em planos dificilmente acessíveis a outros modos do discurso", diz a justificativa do júri; realça ainda "o uso rigoroso de uma linguagem cuja plasticidade se imprime em diferentes registos discursivos verificáveis numa obra que privilegia a densidade acima da extensão". Com apenas três livros publicados – os romances Lavoura arcaica (1975) e Um copo de cólera (1978) e o livro de contos Menina a caminho (1994) –, a exiguidade da obra não impede que Raduan Nassar seja há muito considerado pela crítica um dos grandes nomes da literatura brasileira. No Tumblr do Letras dedicamos uma galeria com imagens raras do escritor.

Terça-feira, 31/05

>>> Portugal: Já está acessível aos leitores de língua portuguesa o romance reencontrado de Malcolm Lowry e publicado em 2014 no mundo da literatura anglo-saxã

Era junho de 1944 quando um incêndio destruiu completamente a cabana de pescador na praia de Dollarton, perto de Vancouver, Canadá, onde o escritor inglês Malcolm Lowry passava temporadas com a sua segunda companheira. Do meio das chamas, ele conseguiu salvar o manuscrito de À sombra do vulcão (até então única obra publicada no Brasil, considerada uma das peças mais importantes do modernismo britânico e um dos melhores romances do século XX). Mas apesar dos esforços, e com risco da própria vida não conseguiu salvar outro manuscrito (com cerca de mil páginas) no qual trabalhava havia pelo menos nove anos, e que intitulara In ballast to the white sea (Rumo ao Mar Branco). Não há qualquer registo de que Lowry tenha sequer ensaiado a reescrita desse livro – que, na trilogia de inspiração dantesca que se propusera escrever, seria o correspondente ao Paraíso; o primeiro corresponderia, claro, ao Inferno e Swinging the maelstrom ao Purgatório. O romance foi então dado como perdido. Em 2000, a primeira mulher de Lowry, Jan Gabrial anunciou ter uma primeira versão do manuscrito (com as respectivas notas esquemáticas do autor): cerca de duas centenas e meia de páginas. Essa versão fora deixada com a sogra do escritor, em 1936, quando o casal se mudou de Nova York para o México. Em 2003, dois anos após a morte de Jan Gabrial, o seu executor testamentário entregou na Biblioteca Pública de Nova York uma cópia datilografada do manuscrito (um trabalho feito pela própria Gabrial em 1991). Depois de estudado por um grupo de pesquisadores, o romance – uma espécie de “elo perdido” entre Ultramarina (1933), o seu primeiro livro, e o famoso romance – viria a ser publicado em 2014. Em Portugal, a obra foi recém-publicada com tradução do poeta Daniel Jonas.

>>> Inglaterra: Uma primeira edição de Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll, vai a leilão em junho pela casa Christie's

O lance inicial está entre 1,7 e 2,7 de milhões de Euros. É uma edição raríssima; só se conhecem 22 exemplares dela já que o autor cancelou a impressão depois de comprovar que existiam problemas com as ilustrações. Em junho de 1865 já haviam sido impressas duas mil cópias da primeira edição quando a Mcmillan & Co, a empresa encarregada da tarefa enviou a Carroll e John Tenniel, o ilustrador, 50 cópias do trabalho. O ilustrador logo expressou ao escritor a decepção com as ilustrações e o resultado foi o que se sabe: o escritor mandou vender as cópias impressas como papel de embrulho. Atualmente das 22 cópias salvas, sabe-se que 16 estão em bibliotecas e as outras em mãos particulares.

Quarta-feira, 01/06

>>> Brasil: Um livro que resgata as vivências de João Cabral de Melo Neto fora do seu país

O poeta foi diplomata e por isso viveu na Inglaterra, Equador, França, Suíça, Senegal e, sobretudo, na Espanha — país pelo qual se encantou e inspirado pelas vivências e pela cultura escreveu vários de seus poemas. Em agosto, a Alfaguara Brasil, editora que tem publicado sua obra e revelado papéis inéditos, apresenta "A literatura como turismo", uma coletânea organizada por Inez Cabral, sua filha. São 80 poemas, entrelaçados com textos curtos escritos por Inez com suas memórias da vida com o pai.

>>> Brasil: Mais novos títulos para fechar a publicação das obras de Philip Roth chegam aos brasileiros

A Companhia das Letras há muito que publica a obra do escritor estadunidense que deixou de publicar em 2012. Mas há ainda três livros seus que a editora falta publicar por aqui. Um deles chega no mês setembro: Os fatos. O livro é uma autobiografia em que Roth conta sua história, da infância em Newark, em New Jersey, até a consagração como um dos maiores escritores americanos contemporâneos. O livro foi publicado em 1988 e traz ao fim duas cartas: uma de Roth para um de seus mais famosos personagens, seu alterego Nathan Zuckerman; e outra de Zuckerman para Roth, em que o personagem discute quais são os problemas daquele livro. Também estão planejadas, provavelmente para o ano que vem, as restantes edições da obra de Roth.

>>> Brasil: Publicado em 1997, O marcador de página, há muito fora de catálogo, volta às livrarias

A tradução do livro de Sigismund Krzyzanowski é de Maria Aparecida B. Pereira Soares para a Coleção Leste da Editora 34. A obra reúne seis contos que partem de um mundo tipicamente russo - como as narrativas de Gógol e Dostoiévski. De forma sutil e inusitada, Krzyzanowski desenvolve temas que bem poderiam constar das páginas de Jorge Luis Borges, não fosse temerário rotular de realismo fantástico ou de pura ficção o que poderia ter realmente existido na Rússia soviética.

Quinta-feira, 02/06

>>> Brasil: Chega-nos um dos textos mais antigos de J. R. R. Tolkien, A história de Kullervo

A obra é considerada a precursora das mais conhecidas do escritor de "Senhor dos anéis". Foi escrita quando Tolkien ainda era estudante na Universidade de Oxford, e é a primeira incursão do britânico na criação de um universo de fantasia através da prosa; é portanto um texto que certamente o impulsionou a "escrever suas próprias lendas e mitos". Recuperado pela escritora e professora especialista em Mitologia Comparada Verlyn Flieger, o conto narra la historia de Kullervo o Infeliz, um menino pobre e órfão, com poderes sobrenaturais e marcado por um destino trágico. A personagem de Kullervo é uma figura central na criação de Tolkien e precursor de Túrin Turambar, trágico herói incestuoso de Os filhos de Húrin. A história de Kullervo, publicada aqui pela primeira vez com os rascunhos, as notas e um ensaio-conferência do autor, juntamente com comentários de Verlyn Flieger sobre sua obra-fonte, o Kalevala. A tradução é de Ronald Eduard Kyrmse.

>>> Brasil: Mais dois novos títulos de Varlam Chalámov 

São mais dois volumes dos seis de contos do bem recebido Contos de Kolimá. O primeiro, A margem esquerda, é fruto da tradução de Cecília Rosas e o outro, O artista da pá, a tradução de Lucas Simone; edição da Editora 34. A obra do escritor russo é hoje considerada uma das principais da literatura de testemunho do século XX, ao lado dos relatos de Soljenítsin, Primo Levi e Jorge Semprún.

>>> Brasil: Uma fotobiografia da poeta Ana Cristina Cesar será publicada durante as celebrações em torno da obra da poeta durante a Festa Literária Internacional de Paraty

Inconfissões – fotobiografia de Ana Cristina Cesar é organizada por Eucanaã Ferraz. O poeta optou por uma inversão cronológica em sua narrativa: começa com as últimas fotos da biografada, voltando no tempo até o primeiro registro fotográfico de sua vida. A morte seria óbvia demais para terminar um livro sobre a escritora. A edição é publicada pelo Instituto Moreira Salles.

>>> Brasil: Uma edição para uma das obras consideradas clássicas da literatura escrita por mulheres no Brasil ganha publicação

Sai pela Editora Pedra Azul, A intrusa, de Julia Lopes de Almeida. Um clássico nacional à moda europeia, a obra conta a história da governanta Alice Galba, que, se envolve com o patrão, um advogado devotado ao trabalho que, mesmo jovem, se sente velho e tocado pelo peso de uma promessa feita à mulher no leito de morte.

>>> Brasil: Uma edição com a obra completa para os contos do escritor Murilo Rubião

O contista mineiro é um dos maiores expoentes da literatura fantástica no Brasil. Um pioneiro que, com apenas 33 contos — lapidados à exaustão —, foi toda uma literatura. O realismo mágico, o inesperado, a surpresa e o maravilhamento são a base de sua obra. Esse legado incontornável para as nossas ganha caprichada edição pela Companhia das Letras. Até o fim de junho chega às livrarias o volume Obra completa — edição do centenário, com todos os contos de Rubião, além de ensaio inédito de Carlos de Brito e Mello e um texto do crítico Jorge Schwartz apresentado na década de 1970.

Sexta-feira, 03/06

>>> Brasil: O crítico Manuel Bandeira. Coletânea relembra uma face pouco lembrada do poeta de Pasárgada, no entanto não menos importante

É o seu trabalho como observador e crítico de diversas manifestações artísticas; algo constatado, por exemplo, por figuras como Carlos Drummond de Andrade, quem organizou a edição de crônicas Andorinha, andorinha, recém-reeditada pela Global Editora. A mesma editora, que tem trabalhado pela reapresentação da obra de Bandeira no Brasil, publica agora Crítica de artes, outro volume com textos que comprovam a grande familiaridade do poeta com os universos da pintura, da escultura, da música e outros, pois apresenta quatro ensaios da sua extensa e variada obra ensaística. São textos indispensáveis a todos aqueles que procuram compreender e contextualizar os dilemas e as riquezas das artes no Brasil. Com texto de apresentação de Carlos Newton Júnior, poeta pernambucano e também ficcionista, ensaísta e professor universitário, a obra revela um Bandeira apaixonado por todos os gêneros artísticos.

>>> Brasil: Há muito fora de catálogo, volta às livrarias Minha vida de menina, de Helena Morley

O nome da autora é o pseudônimo para Alice Dayrell Caldeira Brant; a obra um painel multicolorido, desabusado e quase sempre inconformista do Brasil. Aclamado por escritores como Carlos Drummond de Andrade e João Guimarães Rosa, Minha vida de menina é o diário de uma garota de província do final do século XIX. Publicado pela primeira vez em 1942, antecipa a voga das histórias do cotidiano e dos relatos confessionais de adolescentes ao traçar um retrato vivo e bem-humorado da vida em Diamantina entre 1893 e 1895 da pequena Helena Morley; uma obra na qual o leitor é apresentado às inquietações típicas de uma adolescente espevitada e esperta às vésperas de um novo século.

>>> Brasil: A editora Peixoto Neto acaba de lançar uma coleção que reúne uma diversa quantidade de peças de importantes nomes da literatura universal

Teatro de Bolso tem autores nacionais e estrangeiros. E na primeira edição da proposta somam dez títulos: "Liolá", de Luigi Pirandello (ao centro na imagem); "Mãe", de José de Alencar; "Ifigênia em Táuride", de Goethe; "Tempestade", de Aleksandr Ostróvski; "Os Nibelungos", de Friedrich Hebbel; "Uma casa de bonecas", de Henrik Ibsen; "Salomé, uma tragédia florentina", de Oscar Wilde; "Maria Tudor", de Victor Hugo; "A ampulheta e outras peças", de W. B. Yeats, e "Fritzmac", de Artur Azevedo e Aluísio Azevedo.

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