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Mostrando postagens de 2019

Out-of-Place Artefact

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Por Davi Lopes Villaça “Siga os passos de Aurora, a assassina viking dos tempos modernos”, convida a descrição do primeiro episódio de Out-of-Place Artefact , nova série dirigida por Bruno Decc. Poderia ser também o início da sinopse de algum filme trash, desses cuja graça reside justamente na inconsistência do enredo, na ruptura contínua com quaisquer princípios de verossimilhança. Mas a proposta de Out-of-Place Artefact é bem mais séria: parte de um cenário nonsense para atacar problemas concretos da atualidade. Por que Vikings? Os guerreiros nórdicos aparecem em trajes típicos, treinando com espadas e machados, como se tivessem preservado suas tradições; ao mesmo tempo, porém, mostram-se plenamente inseridos na sociedade moderna, desempenhando inclusive um papel fundamental dentro dela. Os vikings de antigamente representavam para a Europa cristã um povo bárbaro e uma ameaça à civilização. Os de hoje, integrantes de uma elite econômica global, pertencem ao mundo c

Boletim Letras 360º #355

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Atravessamos um breve recesso, para ganhar novo fôlego para o ano que começa. Enquanto isso, refletimos sobre o papel do blog nas redes sociais, sobretudo no Facebook, de onde extraímos as notícias que formam há 355 semanas as edições do que podemos chamar de nossa coluna fixa: o Boletim Letras 360º. Entre as reflexões está a compreensão sobre os rumos desse trabalho. Notem: não o do blog, mas o veiculado em redes como o Facebook. Os pontos de questão são diversos; vão do baixo engajamento das publicações nesta rede social ao uso de um tempo que poderíamos usufruir angariando outras coisas, mais concretas, para o projeto. Caso o leitor queira conversar sobre tudo isso pode deixar seu comentário nesta post, escrever para o nosso e-mail ou nos procurar nas redes sociais. Levaremos essas inquietações para esses canais também. O que por hora sabemos é a necessidade de reocuparmos espaços com o Facebook e isso pode passar pelo fim desse trabalho de triagem que desenvolvemos desde muito

Os melhores de 2019

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  Por Pedro Fernandes Ilustração: Rachel Gannon O ano que agora termina foi de árduo trabalho. Mas, a melhor das sensações para momentos como esse, de retrospectiva com sublinhado para o marcante, é a de dever cumprido. Não que tenha estabelecido metas de leitura. Não. Tenho verdadeiro pavor ao termo quando me refiro a escolhas de livros, filmes e quaisquer outros objetos artísticos. Não deixo de imaginariamente construir minhas listas. Agora, metas nesse sentido, quase sempre resultam em frustração e angústia, porque não se é possível obedecer a um ritmo mecânico, puramente. Bom, talvez esse motivo se justifique pela minha própria vivência com a leitura: sempre dividida entre a liberdade e a obrigação de ler. É que, quando o assunto é ler para estudar, o ritmo nunca se impõe como espontâneo. Muito do que li e gostaria de recomendar nas listas, sobretudo na prosa, não aparece aqui. É que, diferentemente das listas anteriores, em 2019, utilizei com um critério, depoi

As melhores leituras de 2019 na opinião dos leitores do Letras

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― Nas profundezas , de Joris-Karl Huysmans. É uma verdadeira obra de arte literária que lhe ensina sobre Ocultismo e degeneração social sem ser pedante. Uma obra visionária da decadência que aflige a sociedade francesa. (Raphael Rocha de Almeida, Vila Velha / ES) ― Torto arado , de Itamar Vieira Júnior. Livro que expõe um retrato social das populações rurais invisíveis para a sociedade globalizada. Cultura, costumes, conflitos e vulnerabilidades são retratados com maestria pelo autor. (Rosana Vinguenbah Ferreira, Vargem Bonita / MG) ― O retorno , de Dulce Maria Cardoso. É um belíssimo romance de formação, que brinca com certas estruturas do gênero, atento ao contexto histórico retratado: o retorno dos colonos portugueses a Portugal depois de anos de colonização. A autora destrói qualquer maniqueísmo que já esteve associado à narrativa colonizatória ao colocar como ponto de vista da história uma personagem de 14 anos, que passa por uma jornada de conhecimento e con

Os melhores de 2019: cinema

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―  Dor e glória , de Pedro Almodóvar Encontramos aqui o tema do vazio criativo e o seu preenchimento com aquilo que de melhor pode fazer um artista: multiplicar-se para ser a si e um outro, sendo este aqueles que em toda parte padecem da impossibilidade dessa condição. Volta à estrutura da metaficção e uma diversidade de outros matizes que qualificam seu universo criativo, como o desejo, e compõe, certamente o mais introspectivo dos seus trabalhos. Junta-se à maturidade criativa, há muito alcançada, a experiência do vivido como jogo entre a exposição e a revelação. Equilibrando-se em contradições finda por oferecer uma lição sobre o poder do amor nas transformações individuais, para bem e para mal, ou se isso parecer muito piegas em se tratando do modus pensante do cineasta, como as vidas alheias interferem no curso de nossas existências, outra vez para bem e para mal. Leia mais  aqui .  ― Roma , de Alfonso Cuarón O filme que se apresenta como um retrato autobiográfico d

Destaques em projetos editoriais de 2019

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A polêmica por um livro a peso de ouro O ano de 2019 marcou o início da reedição da obra de João Guimarães Rosa depois da saída dos domínios da Editora Nova Fronteira – mesmo com uma vasta quantidade de títulos disponíveis então recém-editados por esta casa editorial. Grande parte desse projeto tem sido conduzido pela Global Editora, mas nas negociações fechadas no ano anterior, o romance Grande sertão: veredas ficou com o Grupo Companhia das Letras. O anúncio de uma edição de luxo ao custo de quase dois mil reais foi motivo de acalorada discussão entre leitores em vários canais; enquanto todas se digladiavam, os 63 exemplares do livro – número que se referiu à quantidade de edições da obra já editada no Brasil – se esgotava. Não durou nem mesmo um dia entre a abertura e o fim das vendas. As polêmicas, embora essenciais para reabrir o debate sobre a democratização de acesso ao livro num país profundamente marcado por índices penosos de leitura, ganharam caminhos duvidosos:

Os melhores de 2019: poesia

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― Melancolia , de Carlos Cardoso. Aqui encontramos um poeta interessado em constituir um diálogo mais perto dos ventos ainda vivos (porque perenes) do nosso modernismo – não apenas pelas recorrências  espirituais  desse tempo patentes nessa dialética entre o passado e presente, mas pelas referências ricamente construídas, algumas reveladas, outras nem tanto, e pelo interesse de transformação do lugar da memória e do lugar natal em universalismos do eu-poético. Alguém poderá dizer que existe nisso certo saudosismo. Mas não é. É a direção certa de um poeta cuja maturidade permite aproximar-se dos nossos melhores lugares e, da maneira sempre esperada, alargá-los no intuito de contribuir para o andamento da nossa literatura. Leia mais aqui .  ― Onde estão as bombas , de Tatiana Pequeno. O poeta não é uma voz deslocada no tempo. Talvez nunca tenha sido e, na contemporaneidade, menos ainda. O poeta é uma voz entretecida pela aguda observação do seu tempo e por isso deve possib

Os melhores de 2019: prosa

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― Serotonina , de Michel Houellebecq. O escritor francês é, sem dúvidas, um dos romancistas contemporâneos com melhor faro para dizer sobre o longo período de intermitência para o fim dessa civilização. Não são poucos os escritores que ocupam esse lugar, mas o francês tem uma vantagem própria: está entre os mais originais pela precisão com que consegue capturar no interior da volubilidade ou da multiplicidade das questões o ponto fundamental capaz de nos colocar frente a frente com a versão mais amarga e cruel de nós mesmos. O romance aqui em destaque não foge desse interesse. Ou melhor, se desfaz da exceção ao constatar nossa própria condição de limitados e incapazes frente aos problemas do mundo. Alguns leitores poderão perceber que na atmosfera carregadamente sombria e intempestiva dessa narrativa paira algum veio de esperança. Mas, não. No deserto, nem tudo que reluz é água. Este é um romance sobre a incerteza de encontrarmos uma alternativa capaz de nos reabilitar enquant