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Mostrando postagens de junho, 2019

Boletim Letras 360º #329

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Este Boletim fecha o mês de junho e o primeiro semestre de 2019. É uma data quase cabalística se formos considerar as duas coincidências. Por isso, nesta edição, acrescentamos outro elemento de valia. Queremos ajudar nosso leitor na construção de suas leituras para o segundo semestre do ano. Por isso, esteja atento às recomendações na seção Dicas de leitura, que apresenta seis destaques das publicações que chegaram às livrarias brasileiras nesses seis primeiros meses. Toda editora quer um Joseph Conrad para chamar de seu. Chega às livrarias outra edição de Coração das trevas Segunda-feira, 24 de junho Um pé de milho , que reúne crônicas de Rubem Braga publicadas em vários jornais e revistas entre 1933 e 1947 é próximo título nas reedições da Global Editora. Alguns dos textos aqui reunidos como “Passeio à Infância” e “Em Cachoeiro”, retratam a infância de Rubem Braga, enquanto que outros, como “História do Corrupião”, “Receita de casa” e a obra-prima “Aula de Inglê

Este livro eu não termino nunca e todo dia o inicio

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Por Beatriz Martins tenho este livro que não consigo e não posso e ao menos se eu ainda quisesse, ainda assim, eu não vou terminar de lê-lo. este livro, cujo lugar é a bancada da minha estante, similar a uma mesa ou um perde-tudo-aí-em-cima, nunca vai pras prateleiras. ele nunca descansa. está sempre ao alcance de uma estirada de braço. vez-em-quando é ele quem me chama. precisa me falar algo, urgente, vai ao banheiro depois ou melhor, me leva, só não me respinga d’água, não liga a quem achar estranho tal maneirice. às vezes se parece a uma tradução de coisas inverbalizáveis. às vezes se parece legitimamente a um extraterrestre extrafísico extra-alguma-coisa de vontades próprias e desconhecidas. não gosta se atropelo suas palavras. demasiadamente se irrita se o leio devagar demais a ponto de minha mente ir lentamente a um outro lugar – lá foi ela e se assentou numa miudeza. um dia me disse algo tão profundo, mas duma profundeza tamanha o era que me obrigou a levantar da

Carlos Drummond de Andrade e Machado de Assis. Registros de irmanação

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Por Pedro Fernandes É possível dizer que um grande criador tenha consigo certa necessidade de negar seus antecedentes imediatos. Assim pelo menos acreditam uns que compreendem o movimento das tectônicas do sistema artístico marcado pela contínua presença da superação pelos sucessores daqueles que formam um sol em torno do qual gravitam outros astros de seu sistema criativo. É verdade que esse desejo de superação só é possível de ser demonstrado pela observação de uma obsessão – tão inovadora, quanto a formação de um novo sistema; isso implica compreender que certas posturas de criadores que somente se debatem no trabalho de reprovação da tradição não alcançam o efeito registrado sabiamente por pensadores como T. S. Eliot ou Harold Bloom. Noutras palavras, o processo de superação só se opera não pelo apagamento do outro, mas pela irmanação com o outro. Isso parece importante considerar porque é uma posição construída durante todo o tempo de lida com a criação e só conc

Ausente, de Marco Berger

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Por Pedro Fernandes As expressões amorosas não teimam em se tornar apenas na sua força contrária. Isso nos diz que o amor é coisa de natureza muito mais complexa que a mera conjunção dicotômica com o ódio e com o mal. É que entre esses dois limites operam-se sutilezas de ordem diversa e quase-sempre não capturadas à primeira vista. Haverá circunstâncias, por exemplo, que o amor pode virar culpa. E é essa uma das principais lições que podemos apreender sobre o filme de Marco Berger. Começar a falar sobre Ausente a partir de um tema aparentemente transversal não é uma tentativa gratuita de se afastar dos dilemas mais complexos que se formam ao longo da narrativa; é, antes de tudo, encontrar uma alternativa capaz de perceber a questão-problema por outro ângulo, diferente daquilo que nossa condição moral tem imposto ver as coisas. É bem verdade que, tal condição opera como restritivo que nos impossibilita avançar sobre a ideia que lançamos sem deixar de atravessarmos tai

Sagarana: meandros de uma estreia

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Por Guilherme Mazzafera Mais de sete decênios após sua primeira edição – ao que se pode acrescentar quase uma década de gestação subterrânea –, Sagarana volta às livrarias em novo projeto editorial pelas mãos da editora Global, que agora detém os direitos de toda a obra de João Guimarães Rosa, com exceção de seu único romance, Grande Sertão: Veredas . Este, cujos direitos pertencem à família Tess, os herdeiros de Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, segunda esposa do escritor, está sob a guarda da Companhia das Letras, que publicou uma belíssima edição do livro que já tive a oportunidade de resenhar aqui no Letras . Após diversos anos sob a tutela da Nova Fronteira, o Sagarana da Global destaca-se de imediato por sua capa, que recusa a iconografia tradicional no boi, substituindo-a por uma bela fotografia de Araquém Alcântara, feita em 2012 no município mineiro de Jaíba, na qual vemos uma árvore ramosa e quase sem folhas contra um céu azul profundo.  Essa atualização da