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Mostrando postagens de novembro 16, 2020

Fisionomia afetiva das estantes

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Por Guilherme Mazzafera Biblioteca de Antonio Candido. Foto: André Seiti   A estante é o homem: eis a máxima imperecível. Não se trata de apostasia pelas verdades transcendentes, mas daquela devassa ao material que nos define como seres históricos, enraizados nas palavras de romances que nos levam... às verdades transcendentes. Ou ao Japão feudal, à Samoa do tísico Stevenson, e, quem sabe, a algum lugar em La Mancha de cujo nome não me quero lembrar.       Todo leitor se depara com aquele momento crucial de adquirir (ou mandar fazer) uma ou mais estantes. Quando perguntados sobre o sentido de estocar material já lido (falarei dos não lidos adiante), não há melhor resposta que a do cético George Costanza ― o mesmo que, perenemente corrompido pelos hábitos televisivos, não conseguiu encarar mais de duas páginas de Breakfast at Tiffany’s ― diante do esgar prático de seu amigo Jerry Seinfeld: it’s a book ! Há todo um universo vocabular próprio para o armazenamento sentimental de livros. E