Escritores da liberdade
Por Pedro Fernandes

Depois de muito tempo longe de conhecer gente interessante,
estive num congresso em Campina Grande sobre literatura infantil, em maio desse
ano. Agora eu estava escrevendo — acabei de escrever —, uma fala minha sobre o
dia 15 de outubro e a primeira coisa que cai em minhas mãos é um filme chamado Escritores da liberdade que eu conheci através de uma pessoa muito
interessante no dito congresso paraibano.
Fiquei feliz por dois motivos, primeiro porque gosto muito de cinema, mas gosto
de adorar mesmo, e, apesar de não ser do tipo que coleciona, me ligo à história
e tal e por elas vou gostando de um monte outros de filmes e de um monte de
lugares que espero conquistar a metade deles, ainda que no plano do imaginário.
Admiro iniciativas dos audaciosos que vez por outra nos proporciona um
cineclube (e cito o da Biblioteca Ney Pontes em Mossoró e outros que aqui-acolá
tenho a honra de participar) para a gente assistir uns filmes que não passam no
cinema ou na TV, clássicos cinematográficos tão importantes quanto os clássicos
da literatura.
Agora o segundo motivo está para além do todo mundo que já tinha
assistido estava me recomendando, porque achava que de alguma forma eu iria me
identificar com a história. Confesso que todos acertaram. Mas não é apenas isso
é porque a história real que se passa na cidade de Los Angeles, no turbulento
início dos anos 90 me aproximou e muito do universo dos alunos de quem já fui
professor.
Este filme que é um filme legal mesmo porque se dobra sobre o ponto de
vista da literatura sobre os jovens, e vice-versa, e ainda recobra o ponto de
vista do preconceito que se faz ainda tão presente entre nós.
Ele me fez lembrar um monte de mestres que estão aí na periferia tentando
educar a molecada que o Estado não faz questão de que não seja educada. As
escolas são analfabetas e a culpa não é do professor; eu enquanto professor sou
testemunha ocular desse crime.
Está diante de um computador como agora estou e a falar de professores, alunos
e escolas é muito fácil, mas desloque-se desse conforto e vai ver isso todo
dia... Iremos nos deparar com marmanjos dando na cara de professor. Quanta
deselegância! E pensar que no meu tempo de escola nutria um respeito tão grande
pela figura do professor...
O professor é tipo meu herói! Aí, você pode falar: “é, mas tem uns...”, mas,
venhamos e convenhamos, tem “uns” em qualquer lugar, em qualquer tipo de
profissão. Aliás, transmitir conhecimento não devia ser profissão, devia ser
encantamento, e esses feiticeiros deveriam ter todo o ouro que precisassem,
quando o diamante acabasse.
Não abro mão, professor devia ter capa e cinto de utilidade. Eu acho que
professor voa, tem super-poderes e visão de raios-X. Eu quando estou em perigo
chamo um professor, não quero nem saber se ele é da rua ou se é da escola,
consulto sempre um mestre.
Bom, tirando meus efeitos especiais, acho que podemos dizer que eles são, antes
de tudo, professores, mas mais que tudo, libertadores. Ao mestre com carinho e
toda aula devia ser cinema, porque o professor é luz, é câmera, é ação. Pena é
estarmos num país em que isso ainda pertence ao corpo do sonho.
* Este texto foi publicado em 15 de outubro de 2008 no jornal Tribuna do Norte.
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