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O estilo Tom Wolfe

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Por Juan Tallón A notícia da morte de Tom Wolfe no último dia 14 de maio me pegou na página 332 de Bloody Miami , do escritor. Não podia acreditar. Que tipo de causalidade será essa? “Aqui morreu o autor”, anotei numa margem do romance, que fechei durante várias horas. Depois me pus a pensar no estilo que embebia Bloody Miami , que era o que havia embebido Um homem por inteiro (1998) e antes A fogueira das vaidades (1987), e ainda antes suas célebres reportagens. Fui tão atrás que me encontrei com Tom Wolfe aos seis anos de idade, em sua casa de Richmond, onde havia nascido em 1930. Era aquele garoto que um dia viu seu pai trabalhando no escritório, pois tinha uma revista agrícola chamada The Southern Planter . Thomas Kennerly Wolfe era agrônomo e seu filho assumiu que também ele, no futuro, viria escrever. “Há uma grande vantagem em ter (erroneamente ou não) a impressão que tens uma vocação muito cedo porque a partir desse momento em diante começas a focar todas tu...

O fruto de teu ventre: maternidade e literatura

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Por Grace Morales Medeia , de   Henri Klagmann (1868). É verdadeiramente significativa a quantidade de romances e ensaios recentes sobre mulheres que renegam sua condição de mãe ideal e que questionam os papéis clássicos. Tudo isso, além do carrossel dos produtos infantis... Não saberia dizer se esta polêmica é consequência de um problema real ou um interesse criado pela mídia e por empresas para explorar necessidades pré-fabricadas. O fato é que no passado era muito difícil encontrar um romance centrado na gravidez e no parto; as escritoras têm buscado incluir estes temas ao longo de todo o século XX e na maior parte das situações a partir de posições críticas. Antes, qualquer experiência vital tem se tornado protagonista de uma variedade de livros, mas o ato de ser mãe não foi o centro de nenhuma grande história, exceto enquanto referências secundárias. Em alguns casos dos romances que trazem essa questão, ele aparece ligado à condição de adolescências problemátic...

Boletim Letras 360º #274

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Está aberto até a primeira semana de junho o período de inscrições para participar da nova promoção do Letras; o sorteio de Na outra margem, o leviatã  – livro de contos de Cristhiano Aguiar acontece em nossa conta no Instagram . A seguir as notícias divulgadas esta semana em nossa página no Facebook .  O conteúdo inédito de duas páginas censuradas do Diário de Anne Frank foi revelado esta semana. Mais detalhes ao longo deste Boletim. Segunda-feira, 14/05 >>> Brasil: 4321 , de Paul Auster Em meados de 2017 noticiamos que o livro considerado o projeto mais ambicioso do escritor estadunidense estava em tradução por Rubens Figueiredo. O projeto em breve chega às livrarias: em junho – avisa a Companhia das Letras. O que norteia 4321  são questões como o que define uma vida, quais escolhas formam um indivíduo e o que constrói uma identidade. No romance finalista do Man Booker Prize 2017, Archie Ferguson é filho ...

Como nasce e renasce um leitor

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Por Rafael Kafka Comecei a ler nessa semana Servidão humana , de Somerset Maugham, e escolher a opção de leitura de um livro por vez – tomada após um infeliz acidente com meus óculos causado por uma mente acelerada, cansada e desatenta – me levou a perceber detalhes do gesto de ler muitas vezes ignorados por nós quando nos propomos, com nossa mente academicista e utilitarista demais em tempos pós-modernos, a nós ocuparmos com diversas leituras. Muitas vezes o tempo de leitura mais focado garante que uma cena, por si só, garanta a nós um profundo prazer estético e intelectual por conta de sua dimensão existencial e reveladora. Na leitura multifocal acabamos perdendo muito disso, pois com a pressa ou não sentimos plenamente a poesia desta ou daquela cena ou frase ou não nos permitimos refletir e sentir tal dimensão, produzindo nós mesmos nossos pensamentos e textos que merecem ser compartilhados com outros leitores ávidos de debates de ideias e impressões. Nesse sentido...

Tirza, de Arnon Grunberg

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Por Pedro Fernandes A vida que se esconde no subsolo. Esta é uma definição acertada para Tirza , de Arnon Grunberg. Este é um romance que volta a algumas das obsessões do escritor, sobretudo aquela que poderíamos designar como o impasse entre culturas num estágio da civilização ocidental em que essa se vangloria de que as relações globais é sua maior conquista depois de instaurada as fronteiras de nação e de identidade nacional. Mas, nele, o holandês se debruça a investigar o complexo das relações de posse imposto por um modelo familiar segundo o qual os pais têm sobre os filhos uma responsabilidade desmesurada de prepará-los para mundo e em parte alimentados pelo desejo de não perecerem, no futuro, do abandono e do esquecimento. Nesse ínterim, a personagem Jörgen Hofmeester é um retrato ideal através do qual se pode avaliar agudamente a condição em que a posse é tornada obsessão individual ao ponto de toda uma existência ser canalizada para o que, aos olhos do manda...

Vinte e uma obras recentes do romance francês

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Jean Marie-Gustave Le Clézio ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2008; seis anos depois, um compatriota seu, Patrick Modiano, recebia também o galardão mais importante das letras. A França foi a terra de Stendhal, Balzac, Flaubert e na atualidade continua tendo uma diversidade de romancistas de primeiro nível. Embora nem sempre sejam nossos conhecidos, pela maneira tímida como suas obras circulam por aqui, a lista a seguir chama atenção para o que podemos dizer "estes são nomes do primeiro quartel do século XXI para se ter em conta". É impossível ficar só num romance de Modiano, mas muitas de suas obsessões estão nas páginas que circulam no Brasil, que, muito recente recebeu duas trilogias do escritor: Para você não se perder no bairro ( Ronda da noite ,  Uma rua de Roma , vencedor do prestigioso prêmio Goncourt em 1978, e  Dora Bruder ) e Essencial ( Flores da ruína , Remissão da pena e Primavera de cão ). Algo semelhante acontece com Le Clézio, que nesta lis...