 |
Adélia Prado. Foto: Ana Prado |
LANÇAMENTOS
Doze anos após o lançamento de
sua última obra, Adélia Prado, vencedora dos prêmios Camões e Machado de Assis,
retorna à poesia com O jardim das oliveiras
, uma reunião de 105 poemas
inéditos.
Após doze anos sem publicar um
livro inédito desde o comovente
Miserere (2013), Adélia Prado retorna
ainda mais profunda e madura em
O jardim das oliveiras, um livro que é
ao mesmo tempo síntese e reinvenção de sua obra, um mergulho poético na aridez
e na transcendência, no mistério e na lucidez. Os poemas aqui reunidos retomam
temáticas vivas na obra da autora, como o conflito essencial entre luz e sombra,
fé e dúvida, poesia e silêncio. Em versos de grande força simbólica, o sagrado
e o cotidiano se entrelaçam com rigor e desatino. A poeta elabora uma reflexão
radical sobre a origem da linguagem poética e seu papel diante do mundo ― “era
Deus quem doía em mim”, escreve, em um dos momentos mais cortantes da obra. A
poesia aqui se mostra em estado de vigília: há ecos metalinguísticos, diálogos
com a própria história literária da autora, desde o nascimento de
Bagagem até a
comunhão mais serena com o mistério. É um livro que ouve vozes ― as do povo, de
Minas, do divino, da vida íntima ― e as entrelaça com extrema precisão sonora,
clareza lírica e uma compaixão crescente pela condição humana.
Você pode comprar o livro aqui.
A peça de teatro Heliogábalo
,
de Jean Genet (1910–1986), por muito tempo considerada perdida, foi
recentemente descoberta em uma biblioteca nos Estados Unidos e ganha, agora,
sua primeira edição brasileira.
Traduzida por Régis Mikail e
Renato Forin Jr., a obra chega ao país pouco mais de um ano após sua primeira
publicação na França, em edição crítica organizada pelo professor François
Rouget. A obra foi escrita nos moldes do teatro clássico e apresenta a história
ficcionalizada do imperador adolescente Heliogábalo (203–222), figura histórica
e lendária que promoveu um curto e turbulento reinado do Império Romano.
Misturando tensão política, espiritualidade, misticismo e crítica social, Genet
transforma o palácio imperial romano em um grande palco onde tudo é
performance: o Império, a família, a fé e o poder.
Heliogábalo questiona
a própria noção de verdade e os meandros da essência humana, temas centrais na
obra do autor. Sem exigir conhecimento prévio sobre a Antiguidade, a peça fala
com inquietante atualidade ao abordar ditaduras infantilizadas, encenações
reais ou virtuais da política, líderes místicos que orbitam entre o delírio e a
autocracia, temas ressoam na trajetória desse déspota romano adolescente do
decadentismo. O manuscrito, que dá origem à esta edição, foi encontrado na
Houghton Library, da Universidade de Harvard, e foi produzido por Genet em
1942, período em que esteve preso em Fresnes. Segundo os críticos, foi o
momento mais fecundo de sua criação, coincidindo com o início da redação do
romance
Nossa Senhora das Flores. A publicação conta ainda com prefácio
do professor François Rouget, que contextualiza a peça dentro da obra e da vida
de Jean Genet. O livro é publicado pela editora Ercolano.
Você pode comprar o livro aqui.
Entre fábula e romance de
iniciação, aventura e filosofia um livro que questiona a natureza humana e a
força de nossos desejos.
Archy nasce em uma toca no meio da
floresta, em uma ninhada de fuinhas. Seu pai foi morto por um homem, e sua mãe
luta para alimentar seus filhotes no coração do inverno. Muito rapidamente,
Archy entende que também deve caçar se quiser manter seu lugar na família. Mas
mal ele tenta roubar um ninho e se machuca. Seu destino então toma um rumo
sombrio: tornado inútil para sua mãe, ele é vendido a um velho e cruel raposo,
Solomon, o agiota, que o transforma em seu escravo e depois em seu aprendiz,
antes de revelar seu segredo: ele conhece a existência da escrita, de Deus e da
morte… Solomon lega a Archy este testamento que o acompanhará por toda a vida
em sua exploração da floresta. Mas será um tesouro ou um fardo esse segredo do
homem? Estando entre fábula e romance de iniciação,
As minhas estúpidas
intenções mistura aventura e filosofia para melhor questionar a natureza
humana e a força de nossos desejos. O livro sai pela Âyiné com tradução de
Pedro Fonseca.
Você pode comprar o livro aqui.
Neste romance autoficcional,
Marcelo Labes narra os anos de formação de um garoto num colégio interno no Sul
do Brasil.
Rafael vem de uma família simples
de Santa Catarina e encontra na possibilidade de se tornar pastor luterano a
saída para todos os seus problemas. Admitido como bolsista na Escola
Evangélica, um colégio interno no Rio Grande do Sul, ele logo descobre que seus
planos fracassaram: o curso pré-teológico havia sido encerrado, e resta a ele
cursar o magistério. No entanto, esse desvio de caminho acaba se mostrando o
início da grande experiência transformadora de sua vida. Em primeira pessoa,
acompanhamos os dias e as noites na escola (e as escapadas para fora dela) e
tudo o que esse período representa para um adolescente em plena formação: as
amizades, as paixões, as bebedeiras e as descobertas além da sala de aula. Em
meio aos anos escolares, conhecemos também um Rafael já adulto e solitário,
cujas lembranças parecem levá-lo sempre ao mesmo lugar. Vencedor do Prêmio São
Paulo de Literatura, Marcelo Labes constrói em
Memória do chão uma
história universal sobre amadurecimento e autodescoberta, e investiga até onde
conseguimos fazer as pazes com aquilo que nos torna quem somos. Publicação da
Companhia das Letras.
Você pode comprar o livro aqui.
Aquelas questões das mais
atuais e espinhosas que os novos modelos sociais impõem às meninas.
Tudo começa como num conto de
fadas. Aos sete anos, Elizabeth ganha um vestido de princesa e, quando vence o
concurso de minimiss em que sua mãe a inscreveu, colocam-lhe uma coroa na
cabeça. É aí que começa o inferno, que sua infância começa a ser roubada. E o
pior: ela nunca mais vencerá. Elizabeth tem o corpo de uma segunda colocada, e
não há nada que possa fazer — esse é o drama de sua mãe. À medida que cresce, a
menina passa a odiar o mundo inteiro e, com a adolescência, nada melhora. Seu
corpo vira um campo de batalha; controlá-lo parece ser a única forma de tomar
as rédeas do próprio destino. Então, ela decide colocá-lo a serviço de sua
vingança: transforma-o, esculpe-o, deforma-o. Nunca mais será a princesinha de
ninguém. Entediada, minha mãe me transformou numa boneca. Brincou com a boneca
durante alguns anos, e a boneca se encheu. A boneca se vingou.
Flórida é
um romance de fôlego, ousado e bem-sucedido. Com ritmo cortante, humor afiado e
uma linguagem sem firulas, o autor mergulha em temas atuais e espinhosos: a
ditadura da imagem, o culto ao corpo, a sexualização da infância, a ambição
projetada dos pais, o assédio, o mal-estar adolescente. A aposta de Olivier
Bourdeaut — vestir a pele de uma jovem protagonista tão complexa e
contraditória — era arriscada. E ele acertou em cheio. O livro sai pela
Autêntica Contemporânea; tradução de Monica Stahel.
Você pode comprar o livro aqui.
Um terror gótico que cresce
silencioso, desafiando certezas e diluindo as fronteiras entre o real e o
imaginado.
Um casal parte rumo ao sempre
ambivalente sul, em busca de algo que nem eles mesmos conseguem nomear. O que
começa como uma simples viagem se transforma em uma jornada inquietante, onde o
cotidiano se entrelaça com um simbolismo sugestivo e sombras inesperadas
emergem a cada passo. Em
Não são férias, Olivia Gallo constrói uma
narrativa envolvente e carregada de mistério, semeando a trama com sinais sutis
de um terror gótico que cresce silencioso, desafiando certezas e diluindo as
fronteiras entre o real e o imaginado. Catalina sempre acreditou que a cidade
era seu lugar, mas a inquietação que a consome a leva a buscar algo além do
concreto e das rotinas previsíveis. Junto de Juan, seu namorado, ela parte rumo
ao sul, onde a casa de infância dele promete a chance de um recomeço. Porém, o
que parecia ser uma simples viagem se transforma em um percurso íntimo e
inesperado. O vasto cenário natural, as pessoas que cruzam seu caminho e as
mudanças em sua relação a desafiam a enxergar sua própria vida sob novas
perspectivas. Entre a beleza e as dificuldades desse novo mundo, Catalina
precisará confrontar seu passado, aceitar as incertezas do presente e, talvez,
encontrar um futuro que jamais imaginou. Uma história sobre identidade,
transformação e os caminhos imprevisíveis que nos levam de volta a nós mesmos. Tradução
de Rafael Souza; publicação da editora Tordesilhas.
Você pode comprar o livro aqui.
Uma coletânea organizada pelas
escritoras Gabriela Aguerre e Natalia Timerman que reúne, de forma inédita,
textos de importantes autores e críticos contemporâneos sobre os limites da
ficção.
Quando o eu fala em um texto, quem
escreve? O mistério da voz narrativa e a relação que traça junto ao público
leitor é um antigo debate teórico. A cumplicidade entre autor e leitor é,
afinal, o fundamento de qualquer pacto literário, mas hoje, ao que parece, sua
estabilidade se encontra em disputa. Escrever a partir da primeira pessoa, as
chamadas “escritas de si”, enseja paixões de especialistas e do público em
geral. O debate, no entanto, usualmente se estabelece na dimensão afetiva, dos
gostos pessoais, e para fugir da banalização e do esvaziamento do termo, que
desponta como a marca da escrita do início do século, as organizadoras compilam
alguns pontos para uma discussão mais proveitosa. Estão aqui reunidos grandes
nomes que despontam no cenário literário brasileiro, escritoras e escritores,
críticas e críticos interessados nos temas da autoficção, do relato, da
escrevivência, da memória, entre outros. Na primeira parte desta coletânea, “Eu
e nós: gêneros instáveis”, estão reunidos ensaios que revisam e testam a
instabilidade das classificações. Na segunda, “Eu disputa: conceitos em
debate”, são apresentados textos que tensionam a calcificação dos termos
críticos. E, por fim, “Eu escrevo: a própria voz” aproxima sujeito e verbo no
enunciado para narrar à luz da própria experiência.
Eu escreve: dilemas das
escritas de si não traz respostas absolutas; em troca, oferece
possibilidades para a compreensão de uma questão antiga, mas que, com
especificidades contemporâneas, exige novas abordagens. Este é um convite para
expandir as fronteiras da nossa observação e esgarçar os limites entre fato e
ficção, para então refletir sobre quem, como, onde, por que e o que escreve
neste início de século. Publicação da editora Record.
Você pode comprar o livro aqui.
Quase uma década depois da
publicação de Entre o mundo e eu
, um dos maiores pensadores da
atualidade retorna à não ficção, em ensaios que mesclam memórias, reflexões e
relatos de viagem para mostrar como as histórias que contamos podem forjar a
realidade.
Ta-Nehisi Coates apresenta, em
três ensaios que se entrelaçam, uma poderosa reflexão sobre a força das
palavras. No primeiro deles, relata uma viagem ao Senegal. Nunca havia pisado
no continente africano, mas, ao conhecer Dakar, sente como se estivesse em dois
lugares ao mesmo tempo: a cidade propriamente dita e o reino mítico panafricano
em que ele foi criado para acreditar. No segundo ensaio, agora na Carolina do
Sul, o autor explora um mito diferente. Ao encontrar uma professora cujo
emprego está ameaçado por adotar em sala de aula um de seus livros, Entre o
mundo e eu, descobre um grupo de apoiadores, entusiastas de suas obras, em sua
maioria brancos. Na Palestina, que rende o mais longo e último ensaio, Coates
percebe a lacuna devastadora e conflitante entre as narrativas que aceitamos e
a realidade da vida no local. Ele se reúne com ativistas e dissidentes,
israelenses e palestinos, e, ao visitar Jerusalém, o coração da mitologia
sionista, e os territórios ocupados, vê a realidade que o mito pretende esconder.
Escrito num momento dramático da história, Coates revela aqui a intimidade de
seus pensamentos com destemor e profunda consciência.
A mensagem mostra
a necessidade urgente de nos libertarmos dos mitos nacionalistas destrutivos
que moldam o mundo — e nossas almas — e abraçarmos o poder libertador das
verdades mais difíceis. Tradução de Carolina Cândido; publicação da Objetiva.
Você pode comprar o livro aqui.
REEDIÇÕES
Romance de estreia de Tatiana
Salem Levy e vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, A chave de casa
ganha
nova edição com orelha e posfácio inéditos de Diana Klinger e Natalia Timerman.
Em seu premiado romance de
estreia, Tatiana Salem Levy apresenta os traços estilísticos e a originalidade
literária que a consagraram como uma das mais promissoras escritoras da
literatura brasileira contemporânea. A personagem-narradora, neta de judeus turcos,
recebe do avô a chave da antiga casa da família em Esmirna, Turquia. A busca
pelas raízes e pela herança familiar se desenrola no limiar entre realidade e
ficção. O intenso fluxo de memórias é condensado para se transformar em uma
narrativa composta por diversas vozes que se complementam. A chave de casa é
uma obra que evoca a memória e os sentidos ao abordar o exílio, a dor do luto,
a paixão e, sobretudo, o lugar da escrita diante da complexidade do real. Publicação
da editora Record.
Você pode comprar o livro aqui.
Esta edição de bolso reúne os
livros de uma das mais destacadas poetas da nova geração. Com apresentação de
Eduardo Coelho.
Romance em doze linhas e outros
poemas reúne a obra poética da escritora fluminense — com exceção de seu título
mais recente,
Veludo rouco (2023):
A fila sem fim dos demônios
descontentes (2006),
Balés (2009),
Rapapés & apupos
(2012),
Rua da padaria (2013) e
Ladainha (2017). Na poesia de
Bruna Beber, há ironia, verve, musicalidade, malícia e malandragem, além de
memórias da infância na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, e observações
sobre São Paulo, cidade para onde se mudou na vida adulta. Não raro, em um
mesmo poema uma alegria escrachada se funde com uma melancolia profunda, em
cenas em que o cotidiano convive com a mais selvagem das imaginações. Publicação
da Companhia das Letras.
Você pode comprar o livro aqui.
RAPIDINHAS
Primo Levi, o missivista.
Depois de publicar uma nova edição de
É isto um homem?, a editora Rocco
se prepara para trazer aos leitores brasileiros as cartas trocadas entre o
escritor e o seu tradutor para o alemão Heinz Reidt.
Cem anos de solidão, de Luisa
Rivera. A cultuada edição comemorativa do principal romance de Gabriel García
Márquez com projeto elaborado pelo filho, Gonzalo García Barcha, e exuberantes ilustrações
de Luisa Rivera chega a nossas livrarias com a já reconhecida tradução de Eric
Nepomuceno.
Mais Anne Carson no Brasil.
A Relicário Edições publicará
Vidro, ironia e Deus, livro que, no conhecido
estilo da escritora canadense, entrelaça o contemporâneo e o clássico. Entre os
textos, a coletânea traduzida por Adriana Lisboa reúne o poema “O ensaio de
vidro”.
DICAS DE LEITURA
1.
Memórias de Adriano, de Marguerite
Yourcenar
(Trad. Martha Calderaro, Nova Fronteira, 304p.) A vida de Adriano
reconstituída pelo imaginado ponto de vista do imperador revisita o humanismo
antigo num mundo em crise e dilacerado pela guerra.
Você pode comprar o livro aqui.
2.
O livro do meu pai, de Djaimilia
Pereira de Almeida (Todavia, 272p.) Com a busca por um livro imaginado por um pai que
acabou de morrer se escreve um livro que é uma meditação acerca da finitude e do
inacabado.
Você pode comprar o livro aqui.
3.
Pensar com as mãos, de Marília
Garcia (Martins Fontes, 256p.) Uma poeta desloca-se do ofício da poesia para
pensar ensaísticamente a poesia e outras expressões do literário que formam seu convívio criativo.
Você pode comprar o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSASQuem não inventa, não vive.
Comentários