Mais dois poemas de Pedro Fernandes
 
     Francis Bacon. Crucificação . Três estudos. 1962.         INSTANTE (POEMA. REVOLUÇÃO)   calarei a todos com tiros de fuzil  para que me ouçam  no interior de minha fala poética  que se desdobra na trama frenética  as palavras no papel.   passarei por cima dos primeiros  com a ajuda de minha insana infâmia  no interior de meus gritos amarrados  à tinta na cadeia papel branco.   na história não há espaços para o sutil  para a felicidade como dizia hegel.  no meu poema há brechas para tanto  mas vigora mesmo um grito melancólico  no bucolismo nefasto e vadio  das palavras negras presas no papel.   do poder absoluto resta eu  desmanchado em palavras [balas]  atiradas com fuzil [minha caneta]  ou gritos preso(a)s [as palavras]  num poema de papel.    DOS FINS DO DIA EM QUE A LUA SOBE MAIS CEDO     Dos fins do dia em que a lua sobe mais cedo  Sempre voltei para casa assim como sol  E deixei me embalar nas linhas tênues  Ou oblongas dum verso  Como colecionador de sua humildade  Julgo-me...