Breve consideração sobre a literatura intempestiva

Por Henrique Ruy S. Santos Marques Rebelo. Foto: Décio Mendes, dezembro de 1964. Bem-aventurados os escritores que alcançam, única e exclusivamente pelo valor de sua pena, o merecido reconhecimento e colhem em vida os louros que tão dignamente recompensam seus dons. Afinal, parece ser este o paraíso da meritocracia literária que uma pessoa afeiçoada às letras deve querer cultivar: escritores e escritoras com liberdade e condições para exercitar seu ofício e um público igualmente livre e bem-condicionado para julgar as obras. Acontece que falar em “valor” de uma obra, pelo menos se se quiser falar a sério sobre o valor de uma obra, é tarefa que sempre implica um bocado de hesitações e reticências. No caldeirão da crítica artística, ou mesmo da simples prática opinativa sobre determinado autor, livro, filme etc., entram ingredientes contextuais que vão desde o lugar e o tempo da dita obra até a forma como se insere no escopo de uma determinada tradição ou, o que pode ser ainda mais...