Drummond, o lutador
 
     Carlos Drummond de Andrade. Foto: Marcel Gatheurot, de 1959. Fonte: Blog A biblioteca de Raquel             Para quem sempre disse que o trabalho com a poesia é tarefa árdua. Trabalho sério. E aquele que reenvintou a poesia brasileira, no Dia D, dia do poeta de Itabira não há versos mais justos e adequados do que O lutador , publicado originalmente no livro José  (1942).    Lutar com palavras  é a luta mais vã.  Entanto lutamos  mal rompe a manhã.  São muitas, eu pouco.  Algumas, tão fortes  como o javali.  Não me julgo louco.  Se o fosse, teria  poder de encantá-las.  Mas lúcido e frio,  apareço e tento  apanhar algumas  para meu sustento  num dia de vida.  Deixam-se enlaçar,  tontas à carícia  e súbito fogem  e não há ameaça  e nem há sevícia  que as traga de novo  ao centro da praça.   Insisto, solerte.  Busco persuadi-las.  Ser-lhes-ei escravo  de rara humildade.  Guardarei sigilo  de nosso comércio.  Na voz, nenhum travo  de zanga ou desgosto.  Sem me ouvir deslizam,  perpass...
 
 
 
 
 
 
 
