Na pureza do sacrilégio, de Carlos Cardoso
 
Por Pedro Fernandes             E como falar     de outra forma?     de cortar     e reformatar o futuro,     e assim querer     e ser sem par.         A pergunta lançada pelo primeiro poema de Na pureza do sacrilégio  é capciosa: abre-se em direção a pelo menos outras duas interrogações. A primeira delas é produto da angústia de todo poeta. Num tempo quando perdemos as contas de vozes tão singulares e válidas por gerações e temporalidades, o que ainda resta dizer em forma de poema? A outra, derivada desta, como ser outra vez voz entre vozes depois de algumas largadas? Não pense o leitor que as respostas venham logo em seguida. Nem no livro; tampouco aqui. Ao contrário, o poema abre-se em outras indagações e finda por se constituir um canto angustiado de alguém que parece sentir-se a esmo à procura de uma resposta, mesmo sabedor de que esta não vem ou não existe (em matéria de poesia) de forma simples e objetiva. O mesmo vale para estas notas. O bom poeta é cônscio de que a única respo...