Navilouca
 
Por Eduardo Galeno Do original de Auto da barca do inferno (1517)   O teatro de Gil Vicente é a monarquia de Portugal. Pode parecer estranho nomear assim de supetão um objeto que é formado numa gestação complexa — as letras e as significações das letras, que são tão maleáveis —, mas a dinastia de Avis (no poder do rei transmutado pelas enunciações vicentinas) transfere a imagem teológica para a poética.    A ideia do humanismo perante a moralização ad infinitum  dos costumes, que era preconizado através do ensejo e do uso do tropo alegórico, não é precisa para elencar os traços de um auto . O caráter de humano era calculado pela lógica aristotélica de hierarquia no representamen , ou seja, mesmo com o misto de qualidades da extração social (baixas e altas) no bojo da peça, Auto da barca do inferno  situava exatamente o viés do contrassenso no lugar platônico do diálogo : a homologia , dizia Lyotard, e também a unicidade do referente ( salvação )   Fato é: a possibilidade ...