Dois poemas de Pedro Fernandes
 
    Johann Henrich Füssli       Vulgada romântica   Ao martirológio dos suicidas me junto eu  Por drama por tolice estou  O infortúnio, a fatalidade dos desgraçados  Arraigam a pele, come a carne humana   Bate o coração morto-vivo num peito inerte  Dum homem abatido pelos seus ideais  Três ou quatro razões  Capazes de levar-me desse chão  Ao abandono voluntário da existência   Que resta de mim em essência  Tão poucas razões travadas num colóquio constante  Entre felicidade e infelicidade dum pobre diabo  Que raro adega a ter de voltar a cabeça  Ao estrondo seco dum tiro  Esmigalhando um crânio com prazo de validade corrido   A vida acabou-se num fialho de sangue  Desfez-se o homem audacioso e o homem paciente  Eles eram prova de qualquer coisa  Nomeadamente de um sentido:  A ausência dele     Poema em processo   como gotas d’água  que caem do teto de uma caverna  meio que, por acaso, no papel       na figura do poeta  prefiro fecundar-me e parir  em palavras, poemas   afinal poema é se...