A visão biblioteconômica do mundo
 
  Por Carlo Frabetti             Em minha sombra, o oco breu com desvelo   investigo, o báculo indeciso,   eu, que me figurava o paraíso   tendo uma biblioteca por modelo.    Jorge Luis Borges, “Poema dos dons”       Existem diferentes maneiras de ver o mundo e contar sua história. Algumas se excluem mutuamente, outras se ignoram e outras tantas se complementam; mas, por um motivo ou outro, todos elas merecem ser conhecidas. Uma delas é o que poderíamos chamar de visão biblioteconômica do mundo (VBM), segundo a qual o livro é o culminar de um processo evolutivo que começa com a matéria inanimada, se inflama com a vida e se ilumina com a consciência. E a luz da consciência é condensada na palavra (a carne se torna verbo), que por sua vez se cristaliza na escrita.     O livro seria, portanto, epítome e emblema da consciência e sua continuidade. Pouco importa, para fins teóricos (embora muito para fins práticos), que o suporte de escrita seja a pedra, o papel ou o silício (novamente a ped...