Seis poemas de “American Primitive” (1983), de Mary Oliver
 
Por Pedro Belo Clara (Seleção e versões) Mary Oliver. Foto: Mariana Cook   JOHN CHAPMAN    Usava uma panela de chumbo como chapéu, a mesma em que cozinhava a ceia,  ao anoitecer, nas florestas do Ohio. Vestia uma  serapilheira e caminhava  descalço, os seus pés tortos como raízes. E para onde quer que fosse  as macieiras floriam na sua peugada, tão encantadoras quanto jovens raparigas.   Nenhum índio, colono ou animal selvagem alguma vez o maltratou, e ele, por sua vez, tudo honrou, toda a criatura de Deus! nem hesitava, numa noite chuvosa,  em partilhar o abrigo dum tronco oco, bem junto a qualquer criatura que lá estivesse: cobras, talvez um guaxinim ou um urso parecendo uma enorme laje.   Lembrava a Sra. Price, de Richland County, já falecida, cuja casa de seus pais por vezes o recebia em visita: apenas por uma vez  falou sobre mulheres, e aqueles olhos cinzentos    tornaram-se gelo. “Algumas são falsas”, sussurrara — e ela sentira  a dor de tais palavras, re...