Receita de um poeta
 
Emilio Nanni  Não nos preocupemos com as palavras   Elas caem não sei de onde  Vêm de cheio uma após outra   A galope ou fugindo do negro de nós   E escapam, derrapam, ficam e fincam em versos, por vezes destoados, mas versos.   Não faria sentido   Ficar sentado, parado, perdido no vácuo do papel   A suspirar por donzelas, por outros eus, pelo mundo   A esse modo as palavras correm, têm medo de como serão usadas   Elas preferem ser abusadas e caírem mortas-vivas, rotas, num verso sem fim.   Não há necessidade de arrumá-las como que numa prateleira   Elas vêm faceiras, gostam mesmo é da desordem   Porque é na liberdade, no caos, que se ergue o sentido   Que se mostram coerências, coesões   É no desconexo que se ergue o poema.   * Acesse  o e-book  Palavras de pedra e cal  e leia outros poemas de Pedro Fernandes.