Zila Mamede — itinerário e exercício da poesia (3)
 
O arado  – chegada à infância, à terra-mãe e à plenitude poética  Por Paulo de Tarso Correia de Melo*   Ayao Okamoto.  Arado  1997          Arado     Arado cultivadeira   rompe veios, morde chão   Ai uns olhos afiados   rasgando meu coração.     Arado dentes enxadas   lavancando capoeiras   Mil prometimentos,juras   faladas, reverdadeiras?     Arado ara picoteira   sega relha amanhamento   me desata desse amor   ternura torturamento.     (Zila Mamede,  O Arado )      Zila Mamede e Câmara Cascudo. Foto da década de 1960.      Zila Mamede sentiu a voz irresistível da Terra, chão de trabalho anônimo onde vivem os marujos sem mar dos campos semeados, e encheu-se de versos votivos em louvor do esforço antepassado.   [...]   A moça da cidade, do rio e do mar, foi seduzida pelo silencio das searas, a labuta do amanhecer, os bois adormecidos, o cavalo branco abandonado, as visões avoengas da casa-grande, plantada no meio do mundo vegetal e resistindo na perpetuação...