Dois manuscritos com poemas de Machado de Assis
 
       A CARIDADE   Ela tinha no rosto uma expressão tão calma  Como o sono inocente e primeiro de uma alma,  Donde não se afastou ainda o olhar de Deus;  Uma serena graça, uma graça dos céus,  Era-lhe o casto, o brando, o delicado andar,  E nas asas da brisa iam-lhe a ondear  Sobre o gracioso colo as delicadas tranças.   Levava pela mão duas gentis crianças.   Ia caminho. A um lado ouve magoado pranto.  Parou. E na ansiedade ainda o mesmo encanto  Descia-lhe às feições. Procurou. Na calçada  À chuva, ao ar, ao sol, despida, abandonada,  A infância lacrimosa, a infância desvalida,  Pedia leito e pão, amparo, amor, guarida.   E tu, ó caridade, ó virgem do Senhor,  No amoroso seio as crianças tomaste,  E entre beijos - só teus - o pranto lhes secaste  Dando-lhes pão, guarida, amparo, leito e amor   (De Crisálidas )         QUINZE ANOS*   Era uma pobre criança...  - Pobre criança, se o eras! -  Entre as quinze primaveras  De sua vida cansada  Nem uma flor de esperança  Abria a medo. Eram ...