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Alejandra Pizarnik: correspondências

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Por Fernanda Fatureto Alejandra Pizarnik. Arquivo Flia D'Amigo-Digisi. As correspondências de Alejandra Pizarnik e seu psicanalista Léon Ostrov foram reunidas em livro em 2012. Cartas tem edição de Andrea Ostrov e mostra a relação íntima que Pizarnik trava com o papel e sua confiança no profissional. Dessa relação que se converte num tipo de amizade a argentina constrói belos momentos quando da sua estadia em Paris.   “Léon Ostrov foi o primeiro psicanalista de Alejandra, que recorreu a ele quando tinha apenas 18 anos, em meio de 1954. Quando ela se instalou em Paris, entre 1960 e 1964, estabeleceu uma relação epistolar que se converteu em 21 cartas. A relação de amizade entre Pizarnik e Ostrov foi sustentada pelo profundo interesse de ambos por literatura e filosofia.”, afirma-se na introdução do livro.   A poesia de Alejandra Pizarnik nasce da angústia e do contato com o vazio. Léon Ostrov lhe impulsiona a persistir nessa busca: “tenta lhe dar ânimo, reforçar sua autoesti...

Uma leitura do poema “Encontro”, de Alejandra Pizarnik

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Por Caio Marques Peçanha Alejandra Pizarnik. Foto: Lucrecia Plat Alguém entra no silêncio e me abandona. Agora a solidão não está a sós. Tu falas como a noite. Te anuncias como a sede. (Alejandra Pizarnik, em Os trabalhos e as noites  / Tradução Davis Diniz) Antes de tudo, há o peso do suicídio. Pizarnik tirou a própria vida. E se Clarice Lispector disse em algum momento não ser capaz de perdoar o ato derradeiro de Virginia Woolf, pois o único dever diante do mistério seria o de seguir em frente, Alejandra nos coloca de joelhos para que deixemos ao menos a poesia em paz. Para tanto, é necessário resistir à tentação de considerar a obra da argentina enquanto expressão irredutível de um fatalismo. Neste sentido, despejando biografias na latrina, não hesitaria em dizer que os escritos de Lispector e Pizarnik sofrem e fazem sofrer de dor comum: a negatividade. O fundamental, todavia, é mostrar como a insurgência do acaso contra o sujeito, através de eventos ...

Novos traços da última poeta maldita

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Por Inês Martin Rodrigo Era noite, embora sempre seja na escuridão da alma. Não fazia muito frio, mesmo o clima em Buenos Aires no mês de setembro sempre ser severo. O dia anterior havia chovido e as ruas ainda conservavam a umidade do temporal. Alejandra Pizarnik (1936-1972) fazia horas deitada na cama fumando um cigarro depois de outro. Logo, se levantou, alisou o cabelo emaranhado pela modorra, apagou a última bituca no cinzeiro de sua mesa e caminhou, pausadamente, até o quarto de trabalho no apartamento que tinha em Buenos Aires, no edifício de Montevideo 980. Aí, pegou um giz e escreveu alguns versos no quadro-negro que tinha no local: “Não quero ir nada mais que até o fundo”. Foi o último rastro que a poeta deixou e só o encontraram apenas uma semana depois. Na madrugada de 25 de setembro de 1972, Pizarnik ingeriu uma overdose letal de barbitúricos e morreu. Acudiu-lhe uma amiga, que a levou já sem vida, ao Hospital Pirovano. A morte, tantas vezes insultada p...

Alejandra Pizarnik, a poesia, pelo humor e o sangue

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Por Mercedes Roffe A condessa sangrenta constitui o epíteto que Valentine Penrose acrescenta ao nome de Erzébet Báthory referente real da protagonista do poema em prosa e fonte para o texto de Alejandra Pizarnik. Igual a Valentine, a poeta argentina se concentra “na beleza convulsiva da personagem” para dar luz a este “texto marginal”. Marginal e sinistramente belo é o maldito de quatro séculos referendado por esta história e, melhor ainda que ela própria – os crimes de Erzébet – a trama de relações intertextuais que se tece através de uma luxuosa galeria de relembranças e citações que vão de Sade a Rimbaud, de Baudelaire, Artaud, Gombrowicz e, indiretamente, George Bataille. Autora das antologias A árvore de Diana , Os trabalhos e as noites , Extração da pedra da loucura e O inferno musical para nomear só os mais importantes, Alejandra Pizarnik faz de A condessa sangrenta um Aleph onde se concentram o que serão os tópicos básicos de sua obra poética. Mas se de Alep...

Alejandra Pizarnik

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Alejandra Pizarnik (Argentina, 1936 – 1972) escreve sobre jaulas, barcos, olhos. Vinhos, céus, luas. Sortes, flores e pedras muito pesadas. É surrealista, sexual, depressiva. Em seus poemas sempre é noite e há uma caixa de barbitúricos próxima, porque sempre apetecerá ao leitor dizer “até aqui”. É uma menina monstro – como ela chamava Janis Joplin quando falava sobre suas influências –, uma mística, uma fêmea chafurdando nos despojos; tão frágil que não está nunca – porque sempre acaba de partir – e tão sensorial que vive nos objetos de tua casa. Não dói porque dói em todas as partes. “Tu eleges o lugar da ferida”, concedeu. Quando era pequena, chorava com as espinhas e se dopava de anfetaminas para perder peso. Se tornou viciada nas tais pastilhas e vivia entre a insônia e a euforia: cisnes enfermos voando baixo por aqui. Reinventava complexos. Tinha os céus de sua irmã mais velha. Gaguejava. Seus pais eram joalheiros, imigrantes judeus de origem russa e eslovaca. Ela falav...