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Mostrando postagens de setembro, 2025

Boletim Letras 360º #655

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DO EDITOR Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras. Edimilson de Almeida Pereira. Foto: Carlos Mendonça LANÇAMENTOS A poesia completa do mineiro Edimilson de Almeida Pereira ganha edição em dois volumes . É um instante de celebração oferecido pela Mazza Edições. A casa publica a obra do juiz-forano desde 1987 e foi responsável pela edição de alguns dos seus principais livros. Poesia & Agora - reunião organizada em dois volumes acondicionados numa caixa resgata títulos esgotados, estabelece a versão definitiva dos textos e os apresenta em ordem cronológica pela primeira vez. A obra traz posfácio assinado pela crítica literária e professora da Universidade Federal de Ouro Preto, Carolina Anglada, que destaca a maneira como a obra do autor tensiona temporalidades e territórios, convidando o leitor a uma leitura arguta e sensível do mundo contemporâneo. Para Anglada, esta reunião de 28 livros ...

Prólogo aos Prólogos, com um prólogo de prólogos

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Por Anuar Jalife Jorge Luis Borges. Foto: Dino Fracchia. Estas páginas ostentam um título apócrifo para se juntar, pelo menos na imaginação, às páginas de um autor essencial da língua espanhola. Essa é a alquimia do prólogo, que permite que uma nova substância se una a uma anterior e, no melhor dos casos, a transforme. Borges praticou essa arte com frequência ao longo de sua carreira literária, desde que escreveu o texto de abertura para a coletânea de poemas La calle de la tarde , de sua amiga Norah Lange, em 1925. Essa obra contínua está documentada em três coletâneas: Prólogos de la Biblioteca de Babel (2000), Biblioteca pessoal (1988) e Prólogos, com um prólogo de prólogos (1975), que celebrou seu 50º aniversário em 10 de janeiro.  O livro editado pela Torres Agüero Editora, reúne trinta e oito prólogos escritos entre 1925 e 1974 e inclui um borgiano “Prólogo de prólogos”, uma espécie de prólogo “elevado à segunda potência” — como o próprio contista o define. Neste texto...

Desculpe-me, mas literatura não é o que eu quero que seja literatura

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Por Pedro Fernandes  Jonathan Wolstenholme, A Literary Joust . 1. No auge da vida social na internet fui um opinador contumaz: dos costumes, da política, da literatura e das artes que mais frequento. Um mal crônico iniciado quando comecei a frequentar as colunas de opinião nos jornais — muita coisa desse período, aliás, passou para este blog; talvez eu deva admitir que a existência deste espaço é uma prova viva desse meu público e desnecessário  mea culpa .  Quando me centrei nos estudos literários, quando a vida prática passou a exigir mais tempo que a nossa disponibilidade diária para a reflexão, quando se instalou a terrível crise da leitura vivida neste século de escravidão silenciosamente imposto pelas redes sociais, quando as opiniões políticas ganharam o estatuto de diálogo surdo de animais, optei por me aquietar. Uma decisão sensata, admito toda vez que leio e passo ileso a um assunto útil à minha inútil opinião. Vez ou outra, na dificuldade dessa minha incontinê...

És tu, Kafka?

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Por Carlos Rodríguez Ele não era tão estranho ou excêntrico. Também não era feio nem bonito. Não era excessivamente sedutor ou interessante. O retrato rompe com a imagem de um homem perturbado, solitário e deprimido. Já à primeira vista, o Kafka que Joel Basman retrata na minissérie austríaca de David Schalko é decepcionante. Ao vê-lo, perguntamo-nos: será este o autor de A metamorfose ? Não diziam que ele era a criatura mais estranha de Praga ou, segundo outras versões, um jovem de pele morena, atlético e sedutor? É preciso ver este Kafka sob a luz, uma luz inesperadamente pálida e resplandecente para reconhecer que, mesmo no meio da sua vida, vivia o claro-escuro excepcional que alimentava a sua obra. A estética de Kafka (2024) evoca as imagens estáticas de René Magritte, um mundo diáfano que não deixa de ser perturbador. A imaginação do escritor é evidente na abundância de luz e cor. Por exemplo, uma janela de escritório, como um espelho, repete indefinidamente o funcionário à máqu...

A forja de Eneias

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Por Juliano Pedro Siqueira “A sorte favorece os destemidos.” —  Virgílio, 70 a.C-19 a.C  Giacomo del Po. A luta entre Eneias e o rei Turno . A Eneida é considerada um dos épicos fundadores da cultura ocidental, tanto por sua urgente relevância histórica quanto por sua brilhante narrativa poética. Ao longo do tempo, tem servido de inspiração a vários autores, os quais bebem das suas límpidas e inesgotáveis fontes. Com este poema, Virgílio legou à humanidade uma notável epopeia. Assim como Homero concebeu Odisseu — narrando sua incansável batalha no regresso à Ítaca —, o poeta romano, por sua vez, deu vida ao herói Eneias, o guerreiro forjado pela fúria dos deuses e pelas ciladas perpetradas por ardis tiranos que segue firme na obstinada missão de apossar das plagas que viria ser o novo reino entregue aos descendentes de Ascânio.  Eneias é tomado por grandes virtudes. Na sua peregrinação infernal — que inclui a travessia do Estige ao encontro do velho pai Anquises —, perpa...

Best-sellers de outros tempos: Os Thibault, de Roger Martin du Gard

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Por Javier Pérez  Roger Martin du Gard. Foto: P. Delbo Quando falamos de romances-rio, ou verdadeiros monstros de longa extensão, geralmente pensamos naquelas obras russas do século XIX, ou em folhetins quase  intermináveis em que as personagens sofrem um bocado, estilo Charles Dickens, ou as em que o autor se esforça para descrever, por exemplo, os esgotos de sua cidade, como Victor Hugo faz na parte final de Os miseráveis . Mas essas espécies raras também apareceram no século XX, ainda que em seus primórdios, e são verdadeiros prodígios de exuberância, incontinência verbal e grafomania. Podemos citar, sem qualquer pretensão de sermos exaustivos, Marcel Proust e seu À procura do tempo perdido, publicado entre 1913 e 1927, ou A montanha mágica , de Thomas Mann, escrito entre 1912 e 1924 e mais curto que o romance francês. No entanto, apesar de contar com essas duas obras-primas de qualidade indiscútivel, o gosto da época pendia para autores mais acessíveis, como Roger Martin ...