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As precursoras das modernas damas do crime

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Por Atzin Nieto  Existem apenas duas regras para que um detetive tenha êxito: trabalho duro e bom senso. — Hugh C. Weir Ninguém duvida que a paternidade do gênero policial pertence a Edgar Allan Poe. Como bem aponta o escritor argentino Ricardo Piglia: “A chave é que Poe inventou uma nova figura e assim inventou um gênero. A invenção do detetive é a chave do gênero.”¹ O gênero desfrutaria de grande popularidade, tanto que, no rastro do seu inventor logo surgiram autores como Charles Warren Adams, Émile Gaboriau e Wilkie Collins. No início, apenas se falava de autores homens que escreviam sobre detetives homens. Foi somente em 1878 que surgiu o primeiro romance desse gênero escrito por uma mulher, The Leavenworth Case (trad. livre O caso Leavenworth), de Anna Katharine Green. Mais tarde, graças à publicação de The Penguin Book of Victorian Women in Crime: Forgotten Cops and Private Eyes from the Time of Sherlock Holmes , (trad. livre As vitorianas no crime: policiais esquecidas e d...

Boletim Letras 360º #664

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DO EDITOR Saibam que na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você pode obter um bom desconto e ainda ajuda a manter o Letras. A sua ajuda é essencial para que este projeto permaneça online. LANÇAMENTOS A obra-prima de Erico Verissimo, m istura arrebatadora de fantasia e sátira política,  adaptada para os quadrinhos.  Meio-dia, sexta-feira, 13 de dezembro de 1963. Uma assembleia é convocada em Antares, pequena cidade no sul do Brasil. Há uma greve geral, e até mesmo os coveiros estão sem trabalhar, de modo que os cadáveres não podem ser sepultados. À luz do sol, vagando livremente pelas ruas, os mortos-vivos enfim se sentem à vontade para vasculhar a intimidade alheia e falar o que bem entendem, sem receio de repressão das autoridades. Publicado originalmente em 1971, Incidente em Antares ,   o último romance de Erico Verissimo se tornou uma das obras mais emblemáticas da literatura brasileira. Nesta inédita versão em HQ, com roteiro de ...

O caminho árido da existência: reflexões filosóficas do jagunço Riobaldo

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Por Juliano Pedro Siqueira  A gente tem de sair do sertão! Mas só se sai do sertão é tomando conta dele a dentro. — Riobaldo Grande sertão visto por Poty Lazzarotto A extensa narrativa de Riobaldo — personagem nuclear em Grande sertão: veredas , de João Guimarães Rosa — possui múltiplas interpretações das inúmeras leituras que dele se pode fazer. A versatilidade linguística, o estilo arcaico da escrita e o primitivismo dos cenários descritos, cunhou no escritor mineiro o criador de uma epopeia de vertente mística em que a força religiosa e os conflitos de ordem existenciais emergem em meio às batalhas sangrentas promovidas por jagunços. A análise que parto é justamente esta: extrair a partir das reflexões de Riobaldo, a percepção filosófica que se constrói no curso dos caminhos áridos do sertão neste romance. Um mergulho profundo e complexo nas emoções e pensamentos cuja subjetividade reflete a terra enigmática, solitária, conflitante e sombria, onde o velho jagunço, precisou atrav...

O mau selvagem de Lira Neto — que Oswald é esse?

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Por Lucas Paolillo “É inevitável que o biógrafo se pergunte, em alguns —ou em vários — momentos do trabalho: até que ponto ele tem o direito de se esgueirar, sem maiores restrições, pelos desvãos da privacidade alheia? Quando a pesquisa passa a se confundir com o mexerico, a investigação com a fofoca, o estudo com a bisbilhotice? Aprendi não haver balizas definidas entre um território e outro. Tomo como regra ponderar sobre o quanto determinada informação – por mais indiscreta e inconveniente que seja – será relevante para a compreensão do biografado” – Lira Neto, em “Breve ‘biografia’ da biografia” , 2022.  “Era uma vez O mundo” – Oswald de Andrade, em “Crônica”, 1927. Oswald de Andrade em retrato como candidato a deputado federal, 1950. Coleção Marilia de Andrade. Acervo CEDAE/Unicamp. Foto: autoria desconhecida Ao se manifestar sobre a atividade dos biógrafos, o experiente jornalista João de Lira Cavalcante Neto, o nosso Lira Neto, costuma mencionar a ausência de produções defin...

“O diabo fuma” ou o mistério da imagem final

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Por Carlos Rodríguez  Existem filmes que, entre outras coisas, valem a pena simplesmente por sua imagem final; como se fosse som de um clique, a última imagem fecha o ciclo que o filme inicia. Não é uma imagem didática que explica a história, mas sim uma que a contém. Penso, por exemplo, no final de Longa jornada noite adentro (2018), de Bi Gan, onde um sinalizador, uma vez aceso, continua queimando — uma imagem do tempo relativo, da quietude, uma exploração da extensão da realidade para a fantasia do diretor chinês. A imagem final O diabo fuma (e guarda as bitucas todas na mesma caixa) (México, 2025) também contém o que o diretor Ernesto Martínez Bucio mostrou na hora e meia de filme, que acompanha cinco irmãos entre sete e quatorze anos, confinados em casa. Para chegar à imagem final, que também serve como coda fantástica para o diabólico título do filme — vencedor do prêmio de Melhor Primeiro Filme na seção Perspectivas do Festival de Berlim de 2025 — o diretor desenvolve uma ...

Best-sellers de outros tempos: Harriet Beecher Stowe na cabana do pai Tomás

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Por Javier Pérez  Harriet Beecher Stowe. Foto: Studio Southworth and Hawes Há momentos em que religião e literatura se fundem de forma tão perfeita que se torna difícil discernir onde termina o sermão e começa o romance, onde termina a moralismo e começa a lição moral, onde termina a conscientização e começa a panfleto. Harriet Beecher Stowe nasceu em Litchfield, Connecticut, em 14 de junho de 1811, e morreu em Hartford em 1º de julho de 1896. Ambos os lugares ficavam no que hoje seriam os estados do norte dos Estados Unidos, e vale ressaltar que Harriet nunca havia visitado o Sul antes de escrever A cabana do pai Tomás , nem mesmo para pesquisa ou para se familiarizar com a região. Quando viajou para a Flórida anos depois, foi para promover laranjas, que então começavam a ser comercializadas em todo o país, impulsionadas pela expansão das ferrovias. De fato, ela chegou a comprar uma casa em uma cidade chamada Mandarin, hoje um subúrbio de Jacksonville. Harriet era a sexta de onze ...