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Mostrando postagens com o rótulo Bertolt Brecht

Seul suja

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Por Pablo Augusto-Silva Se tivéssemos como missão selecionar um trecho que resumisse o espírito do romance da coreana Bae Su-ah (1965-), Sukiyaki de Domingo  (tradução Hyo-jeong Sung, Estação Liberdade, 2014), seria este diálogo entre uma exótica modelo de pelos púbicos e um jornalista: “Daqui a dez anos? – repetiu a mulher a pergunta, como se tivesse sido pega de surpresa e logo ficou pensativa. – Acho que não estarei fazendo nada. Provavelmente não serei mais modelo de pelos púbicos daqui a dez anos. Eu não gosto de viajar e nem me dou bem com as pessoas. Realmente não sei o que será de mim daqui a dez anos. Não consigo pensar em nada concreto, questionada assim, de modo tão repentino. Mas sei que não quero ficar com a pele flácida. Pelo menos isso é certeza. Fora isso, nunca pensei no assunto. – Não consigo te imaginar com a pele flácida daqui a dez anos. – Ah, pode acontecer. Vou estar com mais de 30 – insistiu a mulher. – Eu conheço várias mul...

Os oito odiados, de Quentin Tarantino

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Por Pedro Fernandes Tornou-se lugar comum a exaltação da genialidade: basta que alguém faça alguma coisa que se distinga das formas triviais e ganhe com isso alguma visibilidade. Fazer alguma coisa que se distinga das formas triviais, entretanto, nem sempre é um signo de genialidade, logo, não é possível chamar alguém, por esse motivo, de gênio. Essa questão é trazida para o início de um texto que aparentemente se configura como um conjunto de notas sobre o mais recente trabalho de Quentin Tarantino por uma causa – a febre que tomou alguns expectadores mais exaltados, fãs do diretor, a partir de Os oito odiados .  Se esta é uma das produções melhor realizadas – é meu ponto de vista, de alguém que descobriu o diretor em Pulp fiction (o título que certamente o tornou querido entre todos), deixou de ver alguns outros trabalhos seus e, a partir de Kill Bill não perdeu nenhum dos seus filmes – isto não o faz de um todo genial. Mesmo porque o adjetivo talvez nunca sirva ...

Bertolt Brecht no banco dos réus

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Poeta, dramaturgo e teórico, Bertolt Brecht autor de obras famosas como Ópera dos três vinténs (1928) e Mãe coragem e seus filhos (1938) nunca negou ser um marxista comprometido. Propôs um novo teatro para quebrar o que via como confortável às convenções da classe média, tanto o drama trágico como o realista. Sua teoria do teatro épico subjacente à sua prática firmou-se como uma tentativa de chocar o público complacente com o que chamou de Verfremdungseffekt (estranhamento ou efeito de distanciamento). A enorme influência de Brecht é sentido não só na Europa, mas também fora do continente, como nos Estados Unidos, onde se estabeleceu por um tempo curto, juntamente com muitos outros artistas e intelectuais alemães que fugiam da perseguição nazista. Em 1943, colaboraram com Brecht os companheiros também exilados Fritz Lang e o compositor Hanns Eisler para um filme Os carrascos também morrem , seu único roteiro produzido para Hollywood, vagamente baseado no assassinato do nú...

As obras de Brecht no cinema

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A relação do dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956) com o cinema vai além das inúmeras adaptações que foram feitas de sua Ópera dos Três Vinténs desde quando Pabst dirigiu sua primeira versão, em 1931, e da influência que exerceu sobre cineastas como Rainer Werner Fassbinder e o dinamarquês Lars von Trier. Para quem ainda desconhece como essa relação começou, a Versátil Home Vídeo colocou no mercado uma caixa com os primeiros trabalhos de Brecht no cinema, desde sua estreia, em 1923, dirigindo o ator Karl Valentin em Os Mistérios de Uma Barbearia (1923), ao clássico dirigido pelo alemão Fritz Lang no exílio americano, Os Carrascos Também Morrem (1943). A caixa de Brecht traz ainda um premiado documentário com imagens raras e entrevistas do dramaturgo. Dirigido por Joachim Lang há quatro anos, A Vida de Bertolt Brecht é uma introdução valiosa ao pensamento de um homem que representou para teatro o que Einstein foi para ciência e Chaplin para o cinema. Aliás, ...

Bertolt Brecht

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São raras as vezes em que a popularidade de um artista se confunde com a grandiosidade de seu trabalho. Não que a grandiosidade de um trabalho artístico esteja atrelada (ou deva estar necessariamente presa) a um circuito fechado de profundos entendedores e apreciadores. Aliás, talvez esta separação tenha sido o grande agravante ou pelo menos parte dele, quando o assunto é o grande declínio sofrido pelas artes na sociedade contemporânea. Mas, o desenvolvimento dessa ideia pode servir para outro debate que poderemos produzir por aqui; por enquanto, serve-nos de base para verificar o amplo campo de influências que a obra de um artista produziu aos de seu tempo e aos que vieram depois dele e ainda para visualizar sua popularidade. Bertolt Brecht colocou seu trabalho a serviço de uma ideologia – não a comum, mas a de interrogação sobre o mundo e a ordem predominante. Terão acusado de arte panfletária e vazia esteticamente? Sim. Muitas vezes. O fato é que sua obra é um grito pungente sob...