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A tarde da sua ausência, de Carlos Heitor Cony

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Por Rafael Kafka Carlos Heitor Cony. Foto: Leo Ramos Conheci a obra de Carlos Heitor Cony muito recentemente, menos de um mês. Neste período, já li dois livros (o romance Pessach: uma passagem e a novela A tarde da sua ausência ) e já tenho mais um (o quase romance Quase memória ) na fila de leitura. Até o presente momento, tenho gostado demais da leitura de Cony por conta da simplicidade aparente que reina em seus textos sempre à serviço de um subentendido mais aprofundado, cheio de nuances e vida. A sua narrativa se delineia por frases curtas, certeiras, uma pontuação que aumenta a sensação de laconismo de uma narrativa que se propõe a dizer muito com pouco e cujo maior foco é o tempo e a memória. Em Pessach , o protagonista Paulo encara um panorama de quarenta anos de vida por um novo prisma, a possibilidade de entrar ou não em uma luta armada pela derrubada do regime ditatorial imposto pelos militares, com o nome de revolução, no ano de 1964, e que já durava bem uns...

Pessach: a travessia, de Carlos Heitor Cony

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Por Rafael Kafka Carlos Heitor Cony (detalhe). Paulo Monteiro Um dos debates mais acirrados do século XX no campo literário é sobre qual seria a posição do escritor diante dos mais diversos conflitos políticos que nos cerceiam. Para muitos, a função do escritor é simplesmente escrever, nem sendo obrigado a falar daquilo que é objeto de angústia para muitos seres humanos em determinado momento. Para outros, o escritor deve engajar suas letras e se possível até mesmo pegar em armas para chegar a uma mudança política concreta. O livro que melhor me deu uma resposta sobre isso é (o bastante citado por mim) ensaio de Jean-Sartre O que é a literatura? . Nesse texto, Sartre fala que a literatura é uma relação entre escritor, leitor e objeto de leitura e que o escritor escreve sobre aquilo que ele julga importante. Se não fala da miséria, da pobreza e do que as origina isso denota que para este escritor tais temas não são importantes. Em uma interpretação radical dessa leitu...

Carlos Heitor Cony, fragmentos biobibliográficos

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Na hora de pagar, alegando não ter nota menor, deixei-lhe um troco generoso. Ele me olhou espantado, retribuiu a gorjeta me desejando em dobro tudo o que eu viesse a precisar nos restos dos meus dias. Saí daquela cadeira com um baita sentimento de culpa. Que diabo, meus sapatos não estavam tão sujos assim, por míseros tostões, fizera um filho do povo suar para ganhar seu pão. Olhei meus sapatos e tive vergonha daquele brilho humano, salgado como lágrima. ( O suor e a lágrima ) Carlos Heitor Cony. Carlos Heitor Cony nasceu no Rio de Janeiro, em 1926; cursou filosofia no Seminário São José. Logo no início de sua carreira literária ganhou por duas vezes consecutivas o Prêmio Manuel Antônio de Almeida (em 1957 com o romance A verdade de cada dia  e em 1958 com Tijolo de segurança ). E, depois, desses dois livros, escreveria um título por ano até 1960, quando veio a Ditadura Militar; só voltaria aos romances em 1995. Mas, além de escrever romances, o escritor, iniciou-se ...