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Colm Tóibín, orgulho e preconceitos

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Por Alejandro Luque Colm Tóibín. Foto: Suzie Howell    Pátria, família, religião e sexo são os territórios por onde transita o escritor irlandês Colm Tóibín, que muito cedo descobriu que a Irlanda não era apenas uma referência geográfica, mas uma forma de ser.   A cena se passa em Estocolmo, numa noite de primavera. Um jovem escritor espanhol que promove um dos seus romances traduzido para o sueco é convidado para um jantar com autoridades e acadêmicos no suntuoso salão Blå da Câmara Municipal, aquela Sala Azul que à primeira vista não tem nada de azul. Senta-se ao lado dele um certo escritor irlandês de quem ouviu falar vagamente, e eles imediatamente se simpatizam. Seu acento inglês lhe parece terrível, mal consegue entendê-lo em meio ao barulho das conversas, brindes e tilintar de talheres. Felizmente, descobre que o sujeito se defende perfeitamente em espanhol, é esperto e engraçado. A certa altura, embriagados pelo vinho dinamarquês, os dois autores levantam-se ao m...

“O mágico”, de Colm Tóibín recaptura intimamente um gigante literário

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Por Dwight Garner Thomas Mann. Foto: George Platt.   Thomas Mann começou seu longo e definitivo exílio da Alemanha em 1933, depois que Hitler chegou ao poder. Em seguida, o autor de A morte em Veneza e A montanha mágica fugiu para a Suíça com sua companheira, Katia, que era judia. Quando a Segunda Guerra Mundial estourou seis anos depois, os Mann fugiram para os Estados Unidos, primeiro para Princeton e depois para Los Angeles.   A família Mann — o casal tinha seis filhos — conseguiu resgatar alguns de seus pertences (móveis, pinturas, livros) da casa que haviam abandonado em Munique. Entre os itens deixados em sua fuga estavam os diários do escritor, guardados em um cofre em seu escritório. O ganhador do Nobel estava apavorado que os nazistas os encontrassem.   Goebbels não os encontrou. Mas há uma anedota curiosa sobre os escritos: quando finalmente foram publicados nas décadas de 1970 e 1980, mais de vinte anos após a morte de seu autor, fizeram sua vida e obra serem...

Brooklyn, de John Crowley

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Por Pedro Fernandes Há muito que a obra de Colm Tóibín circula pelo Brasil; e por sua presença não só aqui mas ao redor do mundo e pelos prêmios que já angariou parece ser uma das mais consideráveis para a literatura contemporânea. Embora não seja esta a impressão que fica quando damos pela atenção muitas vezes fria da crítica (no sentido de nunca ser as mais efusivas e nem as mais exageradas); é notório que a leitura sobre sua literatura funciona com algumas reservas; talvez à espera do grande momento (uma epifania) capaz de resgatá-la do limbo para onde arrastou-se.  No entanto, parece que o autor não se interessa em construir uma obra capaz de fazer escola e sim preocupada apenas com o desejo de ser uma literatura cujo o exercício dos bons preceitos da narrativa sejam executados com máximo primor. Notem que essa observação tem ela também suas reservas, mas sublinha, sobretudo uma concepção importante sobre qualquer escritor: entre aventurar-se numa subversão, podemo...

Marcel Proust: o labirinto da memória

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Por Colm Tóibín Proust, sua mãe e o irmão Robert. Há uma fotografia de Marcel Proust, seu irmão e sua mãe capaz de produzir calafrios. A Sra. Proust está sentada, enquanto seus filhos, dois jovens próximos aos vinte anos, estão de pé, um a cada lado dela. Estão bem vestidos e em seus olhos há um olhar que faz pensar no  boulevard  e no  salon . Os dois têm algo de felino e afetado. É fácil imaginar porque  maman  tem um ar severo e reprovador. É uma mulher que viu a cara das dificuldades e estes jovens estão preparados para dificuldades mais doces, delicadas e agradáveis. Quando o observador volta a deslizar para seu olhar para eles pode apreciar em Marcel mais inquietude interior; seu olhar não é tão sossegado como o de seu irmão Robert. As cartas que sua mãe enviou a Proust estabeleceram o cenário do primeiro volume de seu romance e marcaram a pauta de sua vida. Uma das correspondências, por exemplo, foi escrita em 1895, quando Proust tinha ...