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Mostrando postagens com o rótulo Lima Barreto

O que­­ aprendemos com Policarpo Quaresma?

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Por Guilherme França Lima Barreto reimaginado com o fardão da Academia Brasileira de Letras. Projeto de Arte Urbana Negro Muro.   Todos têm um plano para o Brasil. Não importa se estamos no táxi, no trabalho, na missa ou no botequim, há sempre alguém falando, quiçá gritando, sobre os problemas que acometem as instituições, a política, a educação, a economia e todo o aparato de poder existente num país de dimensões continentais como o nosso.   Nesses discursos, não é raro perceber um tom saudosista ou, então, revolucionário por parte do interlocutor, que assolapado pela ideia que tem de seu país, provavelmente fala não apenas em seu nome, mas também daqueles que talvez não se recorde mais ou que não se sabe nada sobre a vida e história.   Como sempre, parece-me que além da história real dos efeitos de algumas revoluções, a literatura também já deu conta de retratar esse movimento pelo qual um entusiasta de certas ideias acaba esmigalhado por elas quando postas em p...

Recordações do escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto

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Por Pedro Fernandes Lima Barreto. Arquivo Biblioteca Nacional.   Lima Barreto publicou Recordações do escrivão Isaías Caminha primeiro em folhetim numa revista criada por ele próprio e que só teve quatro números conhecidos. O primeiro saiu num sábado, 25 de outubro de 1907; o autor de Floreal era um jovem de 26 anos e este empreendimento, subtitulado “Publicação bimensal de crítica e literatura”, foi para ele, certamente, a realização de um sonho. Havia pouco tempo que uma série de acontecimentos penosos se colocara no seu caminho, entre eles, a necessidade de abandonar os estudos na Escola Politécnica do Rio de Janeiro devido a necessidade de sustentar a família depois da loucura do pai. Nesse breve intervalo de tempo, que cobre os anos de 1903 e o de aparecimento do folhetim, o iniciante escritor trabalhou em várias frentes: como amanuense na Secretaria da Guerra, como colaborador no semanário O Diabo , como jornalista no jornal Correio da Manhã , na escrita de Clara dos Anjos ...

O lugar e o não-lugar do sujeito enunciador na narrativa de Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto

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Por Thiago Feli cio cena da adaptação de Triste fim de Policarpo Quaresma  para o teatro por Antunes Filho, 2011. Parece redundante e curioso o fato que Lima Barreto, depois de ter sido estudado e ter tido sua obra analisada sob diversos ângulos, ainda tenha coisas a se dizer sobre sua literatura. É que os clássicos gozam dessa prerrogativa, de sempre estarem abertos a possibilidades interpretativas que não se esgotam, ao contrário, se amplificam. A obra de Lima Barreto também proporciona esse encadeamento de interpretações que nos leva a enxergar na narrativa Triste fim de Policarpo Quaresma como a literatura não se esgota. Portanto, pretendo comentar aqui e analisar como se apresenta o lugar e o não-lugar do sujeito enunciador nesta narrativa que alcançou o título de clássico nacional. Para isso, uso como embasamento teórico as noções de lugar e não-lugar elaboradas pelo filósofo Marc Augé. Inicialmente deve-se saber que o romance em questão faz par...

O Bovarismo como pedra de toque na obra de Lima Barreto

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Por Alexandre Rosa cena da adaptação para o cinema de Triste fim de Policarpo Quaresma Ainda como estudante da Escola Politécnica, Lima Barreto iniciou sua carreira literária escrevendo para a revista humorística Tagarela , criada em 1902, pelos caricaturistas Calixto Cordeiro e Raul Pederneiras. São textos importantíssimos para a compreensão ulterior de sua obra, na medida em que já podemos observar a prosa crítica e afiada do autor, dirigida para alguns temas que se tornariam constantes em sua produção. 1 No texto “Vendo a Brigada stegomya ” ( Toda crônica , vol. 1), encontramos um procedimento muito peculiar à escrita barretiana, qual seja: uma espécie de estilo ensaístico, que serve de preâmbulo antes de o autor adentrar na problemática em si. Neste caso, estamos nos referindo aos comentários acerca dos “Batalhões” e “Brigadas” que se formaram para combater o mosquito da febre amarela no Rio de Janeiro do início do século XX. As considerações pré...

Clara dos Anjos: a chaga dos anos 20

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Por Thaís Farias Vargas Di Cavalcanti.  Lima Barreto: o triste contemporâneo Clara dos Anjos é um romance do “escritor maldito”, alcunha dada a Afonso Henriques de Lima Barreto pelo literato e jornalista H. Pereira da Silva. A trama é desenvolvida nos bairros do subúrbio do Rio de Janeiro, que se transforma em palco de denúncia social, onde o cotidiano da mestiçagem é destrinchado sem floreios, sem rodeios, marcando a exclusão daqueles que residem no “refúgio dos infelizes”, como enuncia o narrador desta triste novela. Cabe dizer antes de qualquer escrito que Lima Barreto foi avaliado negativamente no mundo literário, não só durante a existência corpórea, mas também postumamente. Muitos críticos, em especial aqueles que organizam os manuais sobre a história da literatura brasileira, relatam que o romancista escreveu sobre suas vivências, não dissociando as mazelas pessoais das obras; muitos desses críticos são ferozes no que concerne ao estudo de s...

A traição ao anonimato papeleiro: os cem anos da primeira edição de “Triste fim de Policarpo Quaresma”

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Por Alfredo Monte Cena da adaptação de  O triste fim de Policarpo Quaresma para o cinema "Meu senhor, exclamou ele no tom mais cortante, onde acredita estar? Desconhece a tal ponto os procedimentos adequados? O senhor deveria antes de mais nada apresentar sua demanda ao encarregado de serviço. Este deveria encaminhá-la na boa e devida forma ao chefe da repartição, o chefe da repartição ao chefe da divisão, o chefe da divisão ao meu secretário, o qual afinal a submeteria à minha apreciação" (trecho de O capote , de Nikolai Gógol) Um dos textos mais brilhantes e lúcidos da nossa ficção, Triste fim de Policarpo Quaresma teve sua primeira edição em livro há cem anos, embora escrito nos primeiros meses de 1911 (a partir de agosto até outubro, saiu em folhetins na edição da tarde do Jornal do Commercio ). Foi a segunda obra que Lima Barreto (1881-1922) conseguiu publicar em sua tumultuada carreira, seis anos após Recordações do escrivão Isaías Caminha . Mu...

Aversão ao futebol

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Por Lima Barreto Tendo recebido de Porto Alegre, por intermédio desta revista [ Careta ], uma terna missiva do Dr. Afonso de Aquino, meu saudoso amigo, em que ele me fala da “Carta Aberta” que o meu amigo também Dr. Carlos Sussekind de Mendonça me dirigiu, publicando-a sob a forma de livro e com o título O Esporte está deseducando a mocidade brasileira  lembrei-me de escrever estas linhas, como resposta ao veemente e ilustrado trabalho do Dr. Sussekind. Confesso que, quando fundei a Liga Brasileira Contra o Futebol, não tinha, como ainda não tenho, qualquer erudição especial no assunto, o que não acontece com o Dr. Mendonça. Nunca fui dado a essas sabedorias infusas e confusas entre as quais ocupa lugar saliente a chamada Pedagogia; e, por isso, nada sabia sobre educação física, e suas teorias, nas quais os sábios e virtuosos cronistas esportivos teimam em encaixar o esporte. A respeito, eu só tentava ler Rousseau, o seu célebre Émile ; e mesmo a vagabundíssima Educação de ...