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A mesma fome, de Marize Castro

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Por Pedro Fernandes Algo nasceu agora sem raça, sem sexo. Possui uma alegria inolvidável. Está no mesmo patamar dos seres e das coisas que se dilatam e se aprofundam dentro de si mesmos. A tarefa mais ardilosa para o poeta que deixou de ser uma entidade sensível e suscetível às variações e virações das musas é a de existir. Quer dizer, não é que as musas tenham deixado o mundo pelo seu excesso de balbúrdia, mas o tempo da demasia deixou-nos um bocado mais alheios e céticos à suscetibilidade das entidades que noutro plano regem (de alguma maneira) nossa condição actancial de existir. Poetas de toda estirpe podem estar suscetíveis a isso. O preço que se paga por tanto não é só o levante dos individualismos – é a abolição dos sentidos, dentre eles, a possibilidade de abrir-se sensivelmente aos objetos de prazer, como a poesia, e a multiplicação do banal e da barbárie. Que no passado se condenassem os poetas pela mesma condição de marginais que uns pou...

O novo livro de Marize Castro

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Marize Castro. Foto: jornal  Tribuna do norte A poeta Marize Castro regressa à poesia em livro. Habitar teu nome  publicado pela Una Editora é a surpresa (boa surpresa) deste fim de 2011. O novo livro chega dois anos depois de Lábios-espelho . Esta é a sexta obra da poeta que começou a publicar em 1984 com  Marrons crepons marfins .   Neste percurso, a poesia de Marize Castro se tornou uma das mais importantes da cena literária brasileira contemporânea. Nelson Patriota em nota reproduzida na orelha do novo livro chama atenção para uma poesia “que se alimenta de sua própria substância interior de onde extrai um inesgotável repertório de variações.”   E outra vez encontramos, uma poética que, infiltrada na reentrância do corpo, do corpo feito palavra, canta seus afluxos e derivas. Neste livro, todo anseio é por encontrar na reentrância da própria palavra, como se esta fosse a concha que habita a fotografia da capa, uma maneira outra de ser, jamais pre...

Marize Castro recita poemas de Lábios-espelhos

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Por Pedro Fernandes A primeira vez que li a poeta foi o seu livro Marrons crepons marfins . Esse é o seu primeiro título, aliás; publicado em 1984. A obra veio-me na época em que me encontrava no cimo de muitas decisões acadêmicas. Sabia que devia enveredar pelos estudos da Literatura, mas ainda não sabia bem o quê ou qual autor ou ainda qual Literatura deveria eleger como objeto de estudo. Foi por isso e foi também pela curiosidade de conhecer novos autores, aqueles que não estão inscritos no currículo do curso de Letras e que são muitas vezes os nomes que decidimos (quando vamos para os estudos literários) estudar. Por essa época conheci muito dos escritores da Literatura Potiguar e o caso completou-se mais tarde quando cursei Literatura Potiguar. Mas, Marize de Castro, veja não estava no rol dos poetas estudados. Deve ter sido citada, mas estudada mesmo, não foi. Esse silêncio e o meu encontro com o seu recente livro  Lábios-espelhos fizeram-me inteirar melhor...

Esperado ouro, de Marize Castro

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Por Pedro Fernandes Escrever me faz suportar todo incêndio - toda quimera (Marize Castro) Tenho revisitado Marize Castro. Desde alguns dos seus primeiros livros, como  Marrons crepons marfins  (1984 e título com o qual ganhou o Prêmio de Poesia da Fundação José Augusto) e Poço. Festim. Mosaico  (de 1996, Prêmio Othoniel Menezes) ao seu último lançamento, Lábios-espelhos  (2009). Quero, entretanto, tecer uma breve nota sobre  Esperado ouro (2005). Como uma nota, é breve; é mais para deixar escrito aqui alguns poemas que grifei na sua obra para uma leitura mais acurada do leitor. Pareceu-me que Esperado ouro  é um metalivro, porque é preenchido de uma poesia que é fala de si, ou uma escrita dobrada sobre si própria. Refletida pele-a-pele a palavra e suas dobras. Pele, dobras e carne. A mesma carne feminina, pulsante de desejo, instintivamente fêmea, ativa pelo cio divino: "Hoje descobri que quando estou dormindo/ Deus segu...