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Entre Croce e Sainte-Beuve: Carpeaux e os caminhos da crítica

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Por Guilherme Mazzafera No que constitui uma de suas primeiras reflexões em terras brasileiras sobre o ofício da crítica literária, Otto Maria Carpeaux procura qualificar dois termos-chave de seu vocabulário crítico, expressos no título do ensaio: “Situação e presença: algumas reflexões sobre a crítica literária”. 1  Ao propor uma reavaliação radical dos conceitos históricos postulado por Charles Sainte-Beuve e Benedetto Croce, Carpeaux estabelece uma oposição entre tais abordagens: “Sainte-Beuve parte do homem e Croce parte da obra, e parece que estes dois métodos levam a triunfos e a derrotas igualmente opostos.” Sainte-Beuve seria incontestável no que se refere ao passado literário, impregnando sua recepção até o presente vivido por Carpeaux. Por outro lado, seria surdo às manifestações da atualidade, pós-1830, ignorando autores como Stendhal, Balzac, Hugo, Flaubert, Musset e Nerval. Croce, por outro lado, embora tenha sido por muito tempo “o juiz e a consciência da literatura c...

Encontros machadianos: Carpeaux e seu companheiro de bordo

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Por Guilherme Mazzafera Ilustração para Memórias póstumas de Brás Cubas . Mariana Rio. A recorrência de Machado de Assis, bem como de questões relativas à sua obra, funciona quase como leitmotif em meio à verdadeira paideia que Otto Maria Carpeaux mobiliza em sua crítica literária. O interesse inicial por Machado parece se localizar no próprio ato de fuga, exílio e imigração para o Brasil, em 1939, ano do primeiro centenário do escritor carioca. Em seu último livro, a biografia intelectual de Alceu Amoroso Lima, o primeiro brasileiro que conheceu, Carpeaux rememora o caráter de incógnito do Brasil em face do mundo europeu: “naquela época o Brasil estava praticamente desconhecido no mundo. Na Europa só se sabia das queimadas de café e de algumas revoluções meio obscuras, suspeitamente parecidas com os golpes de Estados das repúblicas hispano-americanas.” Ignorando quaisquer grandes nomes de seu futuro lar, com exceção de Villa-Lobos e do próprio Alceu, Carpeaux decide ...

“Pano de fundo variado para um destino comum”: Otto Maria Carpeaux e o romance brasileiro

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Por Guilherme Mazzafera A leitura dos inúmeros ensaios sobre literatura do austríaco-brasileiro Otto Maria Carpeaux (1900-1978), bem como de sua História da literatura ocidental , configura, na oposição entre o recorte preciso e o percurso totalizante, uma espécie de imago mundi da literatura do Ocidente cuja apreensão mais ou menos sistematizada demanda um recorte rigoroso. Aos poucos, o leitor vai construindo copioso mosaico de análises quase sempre breves que mantêm um olho rente ao objeto em estudo, respeitando sua expressão individual, e outro no lastro histórico do qual ele deriva, sem, no entanto, a ele se limitar. No caso deste breve ensaio, proponho um exercício sintético, perseguindo o fio do romance brasileiro na crítica literária de Carpeaux¹. Tendo chegado ao Brasil em 1939 e se estabelecido no Rio de Janeiro como colunista do Correio da Manhã em 1941, a entrada do elemento brasileiro em seu ofício crítico dá-se, nos livros, por meio da seção “No mundo ...