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Mostrando postagens com o rótulo Philip Roth

Quando ela era boa, de Philip Roth

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Por Pedro Fernandes Philip Roth. Foto: Inge Morath.   Antes de publicar When She Was Good , em 1967, Philip Roth já era autor de outros dois livros: Goodbye, Columbus and Five Short Stories (1959) e Letting Go (1962). É ainda um escritor interessado em explorar o folhetinesco ou à procura do grande romance. O leitor custa se integrar no universo dos acontecimentos porque, como criança aprendendo a andar, um narrador titubeia sem saber ao certo como caminhará. Enquanto nos adaptamos ao sobre o que irá contar , eis outro problema, ele nos oferece um complexo enredamento de núcleos familiares, cada um, com múltiplas personagens e múltiplos enredos. Somente quando encontra um dos fios e o elege como principal é que nos situamos e podemos melhor acompanhar os passos muito precisos da narração que não se descuida de alinhavar os aparentes fios desconexos do começo. Tudo isso serve para dizer como este romance constitui um sério exercício de aprendizagem que resultará o engenhoso Portno...

As polêmicas vidas de Philip Roth

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Por Javier Aparicio Maydeu Philip Roth. Fotos: Eve Arnold   Nunca saberemos como Philip Roth resenharia esta biografia de Philip Roth, o romancista mascarado que quis se disfarçar de autobiográfico em Os fatos e que sempre precisava inventar suas próprias vidas e confundi-las com as vidas dos outros que sua profissão o levava a conceber em forma de personagens, jogando de desfigurar as fronteiras que separam o criador de suas criaturas, emaranhando o novelo de identidades.   Na famosa entrevista para The Paris Review , o autor de A marca humana deixou claro que “a ideia é transformar pessoas de carne e osso em personagens fictícios e personagens fictícios em pessoas de carne e osso. […] Um escritor é um ator. Tem que haver algum prazer neste trabalho, e é isso, andar por aí disfarçado. Atuar como um personagem. Fazer-se passar pelo que você não é. Fingir”.   E seus leitores sabem muito bem que ele perverteu fragmentos de sua vida disseminando-os entre seus personagens...

Vidas de romancista

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Por Antonio Muñoz Molina Philip Roth. Foto: Ethan Hill   Nos últimos anos de sua vida, absolvido por decisão própria da urgência de escrever, Philip Roth aprendeu a desfrutar de algo que nunca havia conhecido antes, o simples prazer de não fazer nada. Em sua casa de campo, que havia sido por quase meio século o mosteiro de sua dedicação disciplinar à literatura, ele agora olhava pela janela a paisagem, os pássaros cruzando o céu, ouvindo por muito tempo a chuva ou o vento nas folhas daquelas árvores monumentais da América. Na biografia de Roth, recentemente publicada e recentemente proibida, Blake Bailey tem o prazer de se recriar ao contar esse penúltimo tempo, antes da devastação final da doença, em que o romancista que nunca se concedeu um dia de trégua — nem o mundo o concedeu — aceita a velhice e adquire um pouco de paz de espírito.   O leitor da biografia também aprecia esses momentos de descanso. Contar a vida inteira de Philip Roth deve ter sido quase tão exaustiv...

O esforço de assimilação em Pastoral americana

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Por Rafael Kafka Philip Roth. Foto: Philip Montgomery. Em seu Modernidade e ambivalência , Zygmunt Bauman fala de regimes totalitários, em especial o nazismo movido por ideias de pureza racial, como um sistema de pensamento ligado à ideia moderna de homogeneidade. Para o pensador polonês, sistemas como o nazismo encontram suas fontes nos ideais de harmonização de intelectuais como Kant, obviamente em uma interpretação motivada por ressentimento, complexo de inferioridade e desespero. O nazismo e outros totalitarismos, inclusive o soviético, são formas de eliminação do outro. O desejo aqui, mesmo que contido apenas no campo da ideologia mais rasa para disfarçar interesses mais profundos, é criar um ambiente social em que a ambivalência não existe, a contradição e o choque de ideias deixem de ser uma problemática para os sistemas políticos. Nesse sentido, elementos como o nacionalismo, já tão destacado por Stuart Hall em seu curto, porém seminal, A identidade cultural na ...

Philip Roth no cinema

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cena de  Goodbye, Columbus , de Larry Peerce (1969) A morte do grande escritor estadunidense Philip Roth nos leva a revisitar uma grande quantidade de materiais, entre eles os audiovisuais, em torno de sua obra. Incluindo adaptações de seus romances para o cinema – mesmo que estas em grande parte não correspondam aos interesses de figurar em listas de bons filmes –, documentários e entrevistas reveladoras. Esta lista recolhe algumas dessas produções sobre e em torno de um dos maiores escritores do século XX. Dois documentários Philip Roth Unleashed , de Sarah Aspinall (2014) A BBC britânica é um dos melhores exemplos de que o investimento público em cultura pode render substanciosos frutos. Este documentário da série “Imagine”, dividido em duas partes e transmitido em 2014 confirma isso, embora o título deixe um pouco a desejar; o “desacorrentado” é que soa mal, como se o escritor fosse um preso censurado a quem fosse necessário dar “rédea solta” para falar com...

Philip Roth, agora mesmo começam outros círculos

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Philip Roth. Foto: Sara Krulwich.   É quase unanimidade que Philip Roth é um dos autores mais importantes da literatura estadunidense da segunda metade do século XX. Quase porque é pública a querela na entrega do Man Booker Prize ao escritor em 2012. Carmen Callil, reputada crítica literária e membro do júri, demitiu-se do seu posto e dentre as declarações que deu sobre a obra do escritor uma dizia que ele “continua com os mesmos temas em cada um de seus livros. É como se sentasse sobre minha cara e não me deixasse respirar”. Bom, desprezando certa grosseria nos temos, é fala coloca em relevo algo do perfil de Roth que chegou a ser sublinhado, por exemplo, no obituário escrito pela revista The New Yorker no qual recordava os temas preferidos do escritor: “a família judia, o sexo, os ideias estadunidenses, a traição aos ideais estadunidenses, o fanatismo político e a identidade pessoal”. Philip Roth nasceu em 19 de março de 1933 em Newark, Nova Jersey. Filho de e...

A marca humana, de Philip Roth

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Por Pedro Fernandes Philip Roth. Foto: Bob Peterson. As informações sobre A marca humana colocam este romance ao lado de Pastoral americana e Casei com um comunista entre os livros de Philip Roth sobre a vida na América do pós-guerra – “um painel impressionante em que indivíduos de grande vigor moral e intelectual são assolados por forças históricas fora de controle”, diz a contracapa da edição publicada no Brasil com tradução de Paulo Henriques Brito pela Companhia das Letras. A citação desses termos aqui tem um interesse: o de repensá-los. Que este é um romance sobre as interpenetrações sócio-históricas no processo de constituição das identidades dos sujeitos não há dúvidas. Aliás, pode-se mesmo dizer que toda a obra do escritor circula essa perspectiva sobretudo quando são as identidades deslocadas do padrão defendido pelos estadunidenses mais radicais, como é o caso do negro e do judeu especificamente.  Mas que as personagens sejam meramente “assoladas por ...

O complexo de Portnoy, de Philip Roth

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  Por Pedro Fernandes Philip Roth. Foto: Jimmy Jeong. Um grito desbocado contra um sistema fabricado para punir seus indivíduos. Esta é uma só das possibilidades de leitura do romance que se inscreve entre os primeiros – e logo entre os que projetaram o nome do escritor Philip Roth. Publicado no final da década de 1960, nele se condensa todo o espírito de rebeldia nascido anos antes num Estados Unidos que embora tenha vendido a imagem de símbolo da liberdade sempre foi um país retrógrado, no sentido moral e dos costumes, e opressor, contra todos aqueles que divergem do status quo determinado pelo ideal social imposto pelo poder. Philip Roth não ataca abertamente esse modelo social porque está imbuído do espírito artístico de não se revelar abertamente sobre o que repudia – a estratégia não é burlar o poder, mas de rir-se dele e não ser acusado de romancista panfletário. O resultado é uma arma de alta precisão indispensável desde sempre: quando da sua publicação ...