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Aprendizagem da dúvida: Tensões entre desolação e fé no romance “Hóspede por uma noite”, de Shmuel Agnon

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Por André Cupone Gatti Shmuel Agnon. Arquivo: Casa Agnon   I. Se o século XIX, com a sua variedade de novas ideias, e com o seu irrefreável ânimo progressista e moderno, fragmentou a tradição judaica em facções das mais diversas possíveis e, desse modo, a tornou mais vulnerável ao descarrilado avanço da História, o século XX fez dessa mesma tradição um arruinado e obsoleto poço de desalento frente à barbárie de violentos eventos históricos, dos quais sobressaem as duas mais desumanas guerras de que se tem notícia. O esfacelamento do humano, tal como a gratuidade da destruição, faz do século XX um século órfão de certezas e transbordante de dúvidas que dificilmente, ou nunca, serão resolvidas. Imersa nesse cenário de incertezas, a herança material e espiritual dos judeus da Europa, no período entre-guerras, assistia à própria ruína. Os shtetl, redutos habitacionais dos judeus na Europa do leste, após a Primeira Guerra Mundial, encontravam-se fisicamente destruídos, habitados por ind...

Noivado, de Shmuel Agnon

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Por Pedro Fernandes Shmuel Agnon. Foto:  David Rubinger. Há uma moral da história em Noivado , de Shmuel Agnon¹, indispensável à unidade da narrativa: uma promessa quando realizada com o devido fervor jamais deixará de se cumprir. Na infância, Jacob Rechnitz, contrai um enlace afetivo com uma menina sua vizinha, Susan Ehrlich. O episódio, apesar da inocência de duas crianças que se gostam, acompanha toda a vida dessas duas personagens, muito embora o tempo e as circunstâncias estabeleçam para Jacob o progressivo distanciamento dos dois e, com ele, um apagamento da promessa pueril: primeiro é sua saída da morada vizinha à propriedade dos Ehrlich, depois, sua ida para estudar fora do país e seu estabelecimento em Jafa como professor e pesquisador de botânica, e, por fim, o irrecusável convite para uma cátedra na universidade de Nova York. Ou melhor, aquilo que se estabelece ainda na nossa infância tem contínuas implicações para a vida adulta, o que significa diz...

Vida e obra de Shmuel Yosef Agnon

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Por Noé Gruss Clássico da literatura hebraica moderna, Agnon possui uma originalidade certa em sua concepção literária e em seu estilo. Por outro lado, sua obra está em harmonia perfeita com sua vida. Os contos procedem de um realismo autêntico, a despeito da impressão que eles dão de ser antes de tudo um tecido de misticismo e de fantasia, tal opinião, justificando-se, ao que parece, pelo estilo enraizado na literatura antiga, medieval e religiosa. Para compreender essas contradições aparentes, é necessário debruçar-se sobre a própria história de Agnon desde a sua primeira infância. Notemos, desde já, que o universo de Agnon compõe-se de Butchatch, sua cidade natal, e de Israel, onde viveu grande parte da sua vida, assim como da Alemanha onde viveu vários anos depois de ter recolhido contos de rabinos, de tsadikim , de hassidim . Assim, Agnon se inspirou quase que exclusivamente no que viu com seus próprios olhos. Infância na Galícia Nasceu em 17 de julho de 1888 em uma ...

Agnon, o homem de três sombras

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Por Amós Oz Por vezes, depois de termos nos despedido de tio Yossef e tia Tzipora, se ainda não era muito tarde, visitávamos, por vinte minutos ou meia hora, o vizinho da frente. Entrávamos furtivos na casa de Agnon, sem nada dizer a tio Yossef e tia Tzipora, para não deixá-los tristes. Às vezes, à saída da sinagoga, o sr. Agnon nos encontrava a caminho do ponto de ônibus da linha 7. Agnon então puxava meu pai pelo braço e ameaçava ― se recusar a ir à casa de Agnon e iluminá-la com a beleza da radiosa esposa, entristecida ficará a casa pela ausência da radiosa esposa. E assim Agnon conseguia um leve sorriso dos lábios de minha mãe, e meu pai concordava, dizendo: “Mas só por alguns minutos, desculpe-nos, senhor Agnon, não ficaremos por muito tempo. Temos de chegar ainda hoje a Kerem Avraham, o menino está cansado e deve acordar amanhã cedo para a escola”. “O menino não está nem um pouco cansado”, eu dizia. E o sr. Agnon: “Ouça bem, meu caro doutor: dos lábios ...