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Sophia de Mello Breyner Andresen e João Cabral de Melo Neto, convívios pela poesia

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Por Pedro Fernandes Sophia de Mello Breyner Andresen. Foto: Fernando Lemos.   O que sempre importa no trabalho de buscar compreender os meandros do convívio entre escritores é encontrar as semelhanças e distanciamentos sobre suas maneiras de compreender os processos criativos. Quase sempre, encontramos pequenos traços de influência que podem vigorar de uma ou de ambas as partes e se fazer notar na obra literária. Quando não, o que ressoa é apenas afeto, trocas de gentilezas e cordialidades mútuas, uma ou outra leitura sobre os contextos ocupados por cada um, sem os grandes apelos que se faz recorrente quando os envolvimentos alcançam uma maior intimidade.   O convívio entre os poetas João Cabral de Melo Neto e Sophia de Mello Breyner Andresen é sui generis . Os registros sempre entregam uma admiração respeitosa, e às vezes desmedida, da parte dela, desde o primeiro encontro em setembro de 1958 em Sevilha quando os dois se conhecem pelo intermédio do poeta carioca José Paulo M...

Correspondência trocada entre Sophia de Mello Breyner Andresen e Jorge de Sena entre 1959 e 1978

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  Por Maria Vaz “Filhos e versos, como os dás ao mundo? Como na praia te conversam sombras de corais? Como de angústia anoitecer profundo? Como quem se reparte? Como quem quer pode matar-te? Ou como quem a ti não volta mais?” Este poema foi escrito por Jorge de Sena e dirigido a Sophia de Mello Breyner Andresen na sua obra Peregrinatio ad loca infecta , corria o ano de 1969. Em boa verdade, as missivas publicadas resultam do esforço de Mécia Sena e de Maria Sousa Tavares, filha de Sophia. Com esta materialização de amizade vertida em verso e prosa celebra-se mais do que a poesia ou do que o diálogo levado a cabo por duas figuras incontornáveis do mundo da poesia em Portugal e de extrema relevância e importância indesmentível para toda a lusofonia. Além da forma, da motivação da troca da correspondência, do tom muito mais informal e pessoal do que a formalidade de alguns poemas em que a erudição intelectual de ambos não os conseguia trair, o que salta a...

Sophia de Mello Breyner Andresen, “um tumulto de clarão e sombra”

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Por Eduardo Moga A poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen é objetiva e solar, celebrativa e áurea. Uma “exalação afirmativa” percorre desde seu primeiro livro, Poesia , publicado em 1944, até o último, Mar , aparecido em 2001. É uma característica singular, que a distingue do resto da lírica contemporânea, presa na introspecção elegíaca, no lamento do eu. A poesia de Sophia, como os romances de Mark Twain, transmite um sentimento de felicidade: é alegre e firme; parece encontrar gosto no mundo.  Em seus primeiros livros – Poesia , Dia de mar , Coral – essa satisfação se apresentava com inequívocos tons românticos, que descreviam uma personalidade cristalina e fúlgida, ansiosa por se encaixar nos fractais do real. Mas esta realidade não é dolorosa e sim amável, angélica; e ela recorre à condição de poeta para ser: “Procurei-me na luz, no mar, no vento”. Este alexandrino ilustra alguns dos motivos aos quais recorre Sophia de Mello para representar seu abraço com o ...

Eu sei que nunca se dirá tudo o que a poesia é

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Por Pedro Fernandes A constatação exibida neste título é de Sophia de Mello Breyner Andresen; aparece num texto recuperado pela edição 10 da Revista 7faces publicada em 2014, mas data dos anos 1960 quando é apresentado no oitavo número da Colóquio / Letras, periódico da Fundação Calouste Gulbenkian. Na passagem da primeira década do século XXI, se ensaiou no Brasil uma entrada da obra da portuguesa. No mesmo ano da aparição da revista brasileira, a extinta Cosac Naify chegou a editar dois contos de Sophia: A menina do mar e A fada Oriana . Depois disso nada mais foi feito para que a aparição da luz do cometa se convertesse entre nós em algo mais que um ponto cintilante. O momento não foi único. Exatamente dez anos antes, apareceu uma antologia organizada por Vilma Arêas, Poemas escolhidos . Porque Sophia, se tornou reconhecida como poeta, este momento, aliás, pareceu mais verdadeiro para os que esperavam por ver sua obra editada no Brasil. Mas, gorou em definitivo. Não...

A poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen

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Por Maria Vaz Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu a seis de Novembro de 1919, na cidade do Porto. A sua família paterna tinha ascendência dinamarquesa, motivo que talvez tenha dado asas à criação da sua obra “O cavaleiro da Dinamarca”, um conto infantil publicado pelo ano de 1964. A família materna, por seu turno, tinha as suas origens intimamente relacionadas com a aristocracia portuguesa. Não obstante o fato de ter tido uma educação puramente conservadora e católica – o que seria de esperar devido às tradições do seu meio familiar –, Sophia teve a coragem de se assumir defensora de políticas liberais, criticando duramente o regime salazarista. O lado humanitário da poetisa fez com que se distinguisse além do mundo das letras: foi sócia fundadora da “Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos” e foi, após o 25 de Abril de 1974, representante do Partido Socialista na Assembleia Constituinte. Matriculou-se na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1936...

Dia do mar, de Sophia de Mello Breyner Andresen

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Por Pedro Belo Clara Sobre Sophia já tudo terá sido dito. Se não tudo, pelo menos quase. Mesmo que as múltiplas considerações de notáveis amigos, familiares ou meros admiradores da célebre autora não sejam suficientes, a obra falará por si – como seria de esperar. Nas palavras de José Agostinho Baptista, a própria definição de tudo, sonho e real, ou a simples manifestação léxica erigida em verso só aos poetas cabe em direito: «eles que digam tudo, quase tudo, eles que nos cerquem, que nos toquem». E Sophia sem dúvida que pertence a essa ínclita estirpe de poetas que ainda nos cercam e nos tocam com a mais suave subtileza de uma palavra depurada ou de um poema amanhecido. Encerramos o mês que, como se sabe, marcou uma década desde o desaparecimento físico de Sophia com a sugestão de mais um livro de índole poética. No caso, Dia do Mar , um dos seus primeiros trabalhos, editado em 1947. A bem da verdade, a sugestão é meramente simbólica, já que em alguém tão versado em div...

Coral, de Sophia de Mello Breyner Andresen

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Por Pedro Belo Clara Lançado ao público pela primeira vez em 1950, Coral  foi o terceiro livro de poesia de uma das mais talentosas mulheres que Portugal já conheceu. De facto, se nos focarmos no campo das letras lusitanas, o nome de Sophia surgirá com o epíteto de "principal referência". Tanto assim é que José Saramago, não em raras ocasiões, sugeriu o nome desta autora como séria candidata a um Nobel que, contudo, nunca viria a lhe ser outorgado. Seja como for, entre aqueles que a viram nasceram para o mundo e para as letras, a qualidade, inovação e talento que lhe são inerentes jamais se apresentam como factores passíveis de dúvida ou de questionamento. A obra em causa, apesar de constituir um testemunho das primeiras aventuras poéticas de Sophia, surpreende pela notável maturidade que apresenta e por, desde logo, apresentar, num traço bem definido, as traves mestras de todo o trabalho poético da autora. Contudo, sublinhe-se o seguinte facto: a edição de que...