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Óxido, de Gastão Cruz (Parte II)

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Por Pedro Belo Clara  O segundo capítulo da obra cuja discussão deixámos em aberto na anterior publicação (ver o final desta post), traz em seu prelúdio elementos antes abordados pelo autor. Embora logo os dilua, lentamente, poema após poema, sem que o capítulo termine antes de revelar o seu real teor. Denominado A VIDA DOS METAIS, abre com o poema “Um nome”, aquele que irá resolver a questão que em si mesmo embala – resgatada a poemas anteriores, como atrás confidenciámos: Chamar é um erro: que nome dar a alguém senão ninguém? Porém um nome é tudo o que subsiste (…) Torna-se difícil calar a sensação de que o tempo espraiado pelos textos poéticos apresentados é um tempo árido onde um certo metal (coração?) oxida. Ou, pelas palavras do próprio autor, um tempo «onde nenhuma vida / ou morte sobrevive» (“Thriller”). No entanto, importa sublinhar as impressões que “Corda”, mantendo a mesma linha de pensamento, nos lega a respeito do ser e de sua nomea...

Óxido, de Gastão Cruz (Parte I)

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Por Pedro Belo Clara O último livro publicado pelo poeta, crítico e encenador algarvio, só pelo nome que ostenta, remeterá o seu leitor para o imaginário das coisas que se permitem degradar pela acção do tempo. E não parecerá falsa a impressão que deixa como sobejo da prova. O metal que oxida é um metal antigo, desgastado, corroído, quiçá abandonado sem que para ele um uso surja. Não se estranha, portanto, que aos lábios essa substância traga um travo de acre teor, natural numa maturação de avesso, isto é, num processo onde não são os açúcares a atingirem a sua plenitude, antes um esvaziar desses elementos da equação pensada. Esse metal surge como metáfora habilmente colocada entre poemas de modo nem sempre visível, mas indubitavelmente presente. Quererá isto dizer que Óxido é um livro de poemas amargurados? Bom, cada leitor formulará o seu parecer se a isso se propuser, mas, salvaguardando o bom senso e uma via de apreciação isenta de meras especulações, há que dize...

Gastão Cruz, poeta e ensaísta

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Por Pedro Fernandes Som da linguagem Por vezes reaprendo o som inesquecível da linguagem Há muito desligadas formam frases instáveis as palavras Aos excessos do céu o silêncio as constelações caem vitimadas pelo eco da fala. — Gastão Cruz, em Câmpanula   Minha descoberta sobre o trabalho poético de Gastão Cruz se deveu ao contato com outra obra: a de Fiama Hasse Pais Brandão. Os dois foram casados e atuaram vivamente nas artes em Portugal. Estiveram, por exemplo, entre os fundadores do Grupo de Teatro de Letras, de quando eram estudantes na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; os dois estão entre os nomes principais do coletivo Poesia 61, que se tornaria um marco para a poesia da segunda metade do século XX.   Minha descoberta de Gastão Cruz foi logo dupla: o poeta autor da recente antologia editada no Brasil A moeda do tempo e outros poemas (Língua Geral, 2009) e o ensaísta que no dia 18 de setembro de 2009 subiu à tribuna do histórico prédio da primeira sede da U...