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Mídia, BBB e sociedade

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Por Pedro Fernandes Falar sobre a mídia na mídia apresenta-se como algo comedido, estrito. No entanto, não farei uso do comedido e estrito espaço dessa mídia para falar dela; como já está subentendido no "BBB" do título deste texto, levarei em consideração a mídia televisiva para falar sobre ela. Esta se apresenta socialmente como um monstro cibernético daqueles à Spielberg, que ameaça as esferas da produção cultural, arte, literatura, filosofia, ciência etc. E vou mais adiante. A mídia televisiva apresenta-se como sujeito fabricador de sujeitos a seu modo de agir, pensar (?). Não há necessidade de compará-la a uma arma no espaço social, afinal de contas, existe poder maior que entrar em nossa casa, livre e espontaneamente, tomar nossa fala e incutir idéias, modos? A mídia televisiva é algo invisível, silencioso e que detém um poder tamanho que no alto dessa silenciosidade e invisibilidade nos cala, nos cega a tal ponto de nós mesmos afogarmos nossas necessidad...

Ray Bradbury: Fahrenheit 451 não é o que dizem ser

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Por Amy E. Boyle Johnson Quando os prêmios Pulitzer foram entregues em maio de 2007, durante um almoço na Universidade de Columbia, duas menções especiais foram feitas. Uma sobre John Coltrane (que morreu em 1967), a quarta vez que um músico de jazz foi homenageado. A outra foi sobre Ray Bradbury, a primeira vez na história da honraria que um escritor de ficção científica e fantasia foi homenageado. Bradbury, um antigo morador de Los Angeles que leva uma vida cívica ativa e até escreve ao Los Angeles Times cartas sobre seus pontos de vistas do que lhe aflige na sua cidade não compareceu ao evento dizendo que estava sob recomendações médicas de evitar fazer certas viagens. Mas, a verdadeira razão, disse ao LA , tinha menos a ver com as limitações da idade (ele havia feito 82 anos em agosto) do que unicamente com o fato de ir a Columbia fazer acenos com Lee C. Bollinger, reitor da Universidade, e sorrir para uma fotografia. Ele queria fazer um discurso, mas não havia permi...

Grazia Deledda

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Apesar de pouco conhecida no Brasil, Grazia Deledda escreveu algumas verdadeiras joias do romance – são obras em pleno vigor da forma, erguidas com todas as faculdades de grande romancista. Seu nome não é só uma marca indelével na literatura italiana, mas para a literatura universal. Nasceu no ano de 1871 em Nuoro, interior de uma Sardenha brava, violenta e luminosa. Seu pai era um agricultor rico e um louvável poeta no dialeto local. Na sua biblioteca, Grazia Deledda aprendeu logo a amar os livros, a sentir a nobre ação de descobrir as pessoas, a luz, os costumes trágicos que a rodeavam ou que só conhecia através de relatos e lendas populares. Toda sua obra é uma revelação constante, sempre atrativa de sua terra natal, a esquecida, quase ignorada melhor dizendo, antes dela descobri-la com o fervor realista com o qual pintou sua literatura. A Itália não via na Sardenha mais que uma ilha maldita, ninho e refúgio de seres brutos. Fazendo por seu país o que Verga e Capuana fize...

A primeira vez que o Ulisses, de James Joyce, ganhou as telas

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Paul Cadmus. Jerry , 1931. Óleo sobre tela. Museu de Arte de Toledo / reprodução.   Hoje é comum encontrar registros das artes plásticas que possam incluir o valioso romance de James Joyce, em edições das mais variadas. Mas agora o ano era 1931. Ulisses , publicado pela Shakespeare & Co. nove anos antes, em Paris, continuava censurada em vários países, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido.   Nessa década imediatamente a prodigiosa anterior, Paul Cadmus e Jared French já se conheciam intimamente. Os amantes fizeram um périplo que resultou na concepção e feitura da tela Jerry , finalizada quando Cadmus chega a Europa em 1931. Esse trabalho é significativo no quadro criativo do artista estadunidense porque concentra a técnica e o estilo que o fará reconhecido. Ele próprio considera a pintura como seu primeiro trabalho da maturidade.   O que chama atenção, além do moço French no fulgor da sua beleza e a maneira como olha para fora do enquadramento da arte, é o reg...

Sobre a educação

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Por Pedro Fernandes As questões que preenchem os espaços discursivos acerca da educação no Brasil são tantas que chegamos mesmo admitir ser impossível contornar o quadro do decadentismo que se assiste de certos anos para cá. Uma, de todas as discussões, no entanto, se destaca: não sei se por deficiência nos próprios cursos de licenciatura, ou “falhas de percurso” obtidas ao correr dos quatro anos da faculdade, levanta-se no entorno do espaço escolar um movimento em prol de certa “facilitação” de fórmulas e/ou teorias sob o prisma de uma educação construtivista. Isso levando em consideração que o cenário pedagógico no Brasil vê-se “influenciado” pelas teorias de Piaget e Vigotski. O construtivismo, base teórica dos estudos desses dois teóricos, ao chegar ao Brasil parece carrear todo pensamento das instâncias superiores, formuladoras de leis e paradigmas para o docente, a uma aplicabilidade mais que urgente delas no espaço escolar. No entanto, a teoria não parece...

Voltar a Dino Buzzati

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Por Luis Mateo Díez   Jorge Luis Borges, amante confesso e fascinado daquela que é unanimemente considerada a obra-prima de Dino Buzzati: O deserto dos tártaros , dizia que podemos conhecer os clássicos mas é mais difícil fazê-lo com os contemporâneos e, no entanto, há nomes que as gerações futuras não se resignarão a esquecer. Um deles é provavelmente, afirmava o escritor argentino, o de Dino Buzzati, cuja vasta obra, não raro alegórica, exala angústia e magia, a influência de Poe e do romance gótico como foi declarada por ele; outros falaram de Kafka, mas por que não aceitar, sem desmerecimento algum de Buzzati, como ilustres mestres?   O deserto dos tártaros é, por várias razões, uma obra singular, além de uma obra-prima e o limite do que se supõe o todo da obra do autor se relaciona com essa inquestionável mas também com a herança de todos os demais. Este não é um daqueles casos em que o romance sozinho fulgura à distância, quase como se o próprio autor tivesse saído do c...