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Mídia e sociedade (desconstruindo o sensacionalismo)

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Por Pedro Fernandes  O artigo   "Mídia, BBB e sociedade" despertou uma outra visão, necessária de ser exposta como inversamente proporcional àquela uma vez escrita. Enquanto afirmava que a mídia televisiva cumpre um papel comedido, estrito ou que ela comporta-se em prol do belo, do sensacionalismo e do espetacular, por isso só, fui levado a enxergar minha própria opinião sobre outro ângulo, a título de aventurar-se ainda mais nesse objeto de análise. Naquele artigo, a posição em que me coloquei foi na de sujeito enquanto ausente do objeto-mídia (em posição externa); aqui, pretendo vestir o avesso e analisá-lo como sujeito imbricado no conjunto de engrenagens que o comporta.   Basta que tomemos como afirmativa a necessidade de unir massas em torno de si em busca do elemento número um, a audiência, para percebermos que todas as emissoras sentem a necessidade de exibir as mesmas coisas, só que do ponto mais dramático, do fulcro, do furo de reportagem, d...

Uivo, de Allen Ginsberg

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Por Pedro Fernandes Ilustração de Eric Drooker para uma edição de Uivo  em HQ Devo retomar no início deste texto uma fala do jornalista, poeta e escritor José de Paiva Rebouças para uma palestra na qual compus mesa ao lado da também poeta Nina Rizzi, isso por ocasião da Feira do Livro de Mossoró deste ano. Depois de ler um poema de Castro Alves, Paiva confessou do inquietamento e de até certa desilusão ou o desafio que determinados poetas impõem para quem lida com a palavra: aquela sensação que padecemos de limitação que se guia pelo entendimento “se alguém escreve uma coisa desse tipo como eu poderei superá-lo ou sobreviver depois disso?”. Essa confissão de Paiva dialoga perfeitamente com muitos dos momentos de leitor que tenho vivido ao longo de minha curta trajetória. E repetiu-se quando, recentemente, dei com um poema de um poeta até então desconhecido para mim, Allen Ginsberg. O poema foi traduzido pelo título de “Uivo” e pode ser lido aqui . Indo para as terras d...

Mídia, BBB e sociedade

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Por Pedro Fernandes Falar sobre a mídia na mídia apresenta-se como algo comedido, estrito. No entanto, não farei uso do comedido e estrito espaço dessa mídia para falar dela; como já está subentendido no "BBB" do título deste texto, levarei em consideração a mídia televisiva para falar sobre ela. Esta se apresenta socialmente como um monstro cibernético daqueles à Spielberg, que ameaça as esferas da produção cultural, arte, literatura, filosofia, ciência etc. E vou mais adiante. A mídia televisiva apresenta-se como sujeito fabricador de sujeitos a seu modo de agir, pensar (?). Não há necessidade de compará-la a uma arma no espaço social, afinal de contas, existe poder maior que entrar em nossa casa, livre e espontaneamente, tomar nossa fala e incutir idéias, modos? A mídia televisiva é algo invisível, silencioso e que detém um poder tamanho que no alto dessa silenciosidade e invisibilidade nos cala, nos cega a tal ponto de nós mesmos afogarmos nossas necessidad...

Ray Bradbury: Fahrenheit 451 não é o que dizem ser

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Por Amy E. Boyle Johnson Quando os prêmios Pulitzer foram entregues em maio de 2007, durante um almoço na Universidade de Columbia, duas menções especiais foram feitas. Uma sobre John Coltrane (que morreu em 1967), a quarta vez que um músico de jazz foi homenageado. A outra foi sobre Ray Bradbury, a primeira vez na história da honraria que um escritor de ficção científica e fantasia foi homenageado. Bradbury, um antigo morador de Los Angeles que leva uma vida cívica ativa e até escreve ao Los Angeles Times cartas sobre seus pontos de vistas do que lhe aflige na sua cidade não compareceu ao evento dizendo que estava sob recomendações médicas de evitar fazer certas viagens. Mas, a verdadeira razão, disse ao LA , tinha menos a ver com as limitações da idade (ele havia feito 82 anos em agosto) do que unicamente com o fato de ir a Columbia fazer acenos com Lee C. Bollinger, reitor da Universidade, e sorrir para uma fotografia. Ele queria fazer um discurso, mas não havia permi...

Grazia Deledda

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Apesar de pouco conhecida no Brasil, Grazia Deledda escreveu algumas verdadeiras joias do romance – são obras em pleno vigor da forma, erguidas com todas as faculdades de grande romancista. Seu nome não é só uma marca indelével na literatura italiana, mas para a literatura universal. Nasceu no ano de 1871 em Nuoro, interior de uma Sardenha brava, violenta e luminosa. Seu pai era um agricultor rico e um louvável poeta no dialeto local. Na sua biblioteca, Grazia Deledda aprendeu logo a amar os livros, a sentir a nobre ação de descobrir as pessoas, a luz, os costumes trágicos que a rodeavam ou que só conhecia através de relatos e lendas populares. Toda sua obra é uma revelação constante, sempre atrativa de sua terra natal, a esquecida, quase ignorada melhor dizendo, antes dela descobri-la com o fervor realista com o qual pintou sua literatura. A Itália não via na Sardenha mais que uma ilha maldita, ninho e refúgio de seres brutos. Fazendo por seu país o que Verga e Capuana fize...

A primeira vez que o Ulisses, de James Joyce, ganhou as telas

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Paul Cadmus. Jerry , 1931. Óleo sobre tela. Museu de Arte de Toledo / reprodução.   Hoje é comum encontrar registros das artes plásticas que possam incluir o valioso romance de James Joyce, em edições das mais variadas. Mas agora o ano era 1931. Ulisses , publicado pela Shakespeare & Co. nove anos antes, em Paris, continuava censurada em vários países, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido.   Nessa década imediatamente a prodigiosa anterior, Paul Cadmus e Jared French já se conheciam intimamente. Os amantes fizeram um périplo que resultou na concepção e feitura da tela Jerry , finalizada quando Cadmus chega a Europa em 1931. Esse trabalho é significativo no quadro criativo do artista estadunidense porque concentra a técnica e o estilo que o fará reconhecido. Ele próprio considera a pintura como seu primeiro trabalho da maturidade.   O que chama atenção, além do moço French no fulgor da sua beleza e a maneira como olha para fora do enquadramento da arte, é o reg...