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A vertigem corrigida

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Por Antonio Ortega Mais de um século depois de sua morte e não somos capazes de determinar o alcance da figura e da obra de Arthur Rimbaud. Quase sempre nos contentamos em assinalar a extraordinária velocidade como sucedeu sua vida e a prodigiosa capacidade de sua escrita. Dos grandes poetas da literatura francesa moderna, seguramente é quem tem exercido uma influência mais decisiva. É a uma só vez ponto de chegada e de partida, exemplo do movimento incessante do ato mesmo da criação: uma obra tecida sobre a mesma tela da existência, fruto de uma continuidade em que a escrita se antecipa à vida proclamando seu futuro. O inventário existencial e espiritual que aparece em seus textos poéticos, com sua carga literária e vital, vem reafirmar esta premissa com seu testemunho confiável: “Pautei a forma e o movimento de cada consoante, e, com ritmos instintivos me orgulhei de inventar um verbo poético acessível, cedo ou tarde, a todos os sentidos”. Uma centena de páginas bastaram par...

Adalgisa Nery

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Adalgisa Nery Adalgisa Nery foi poeta, romancista, contista e jornalista. Filha de Gualter Ferreira e de Rosa Cancela Ferreira (ele mato-grossense e ela portuguesa e neta de francesa), nasceu no dia 29 de outubro de 1905, no bairro das Laranjeiras, Rio de Janeiro. Órfã de mãe aos oito anos, Adalgisa desde a infância demonstrou forte sensibilidade poética. Em 1922, aos 16 anos, casou-se com o artista Ismael Nery, com quem teve sete filhos, todos homens, mas somente o mais velho, Ivan, e o caçula, Emmanuel, sobreviveram.  O primeiro casamento lhe proporcionou o convívio com intelectuais como Álvaro Moreyra, Aníbal Machado, Antônio Bento, Graça Aranha, Jorge de Lima, Manuel Bandeira, Mario Pedrosa, Murilo Mendes e Pedro Nava. Entre 1927 e 1929 o casal Adalgisa e Ismael foram viver na Europa, onde conviveram com vários nomes das chamadas vanguardas, desde Villa-Lobos e Tomas Terán, a Marc Chagall e Juan Miró. O companheiro morreu depois de dois anos dessa época. E ela foi...

Casablanca, Michel Curtiz

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História de amor em tempos de guerra é um dos títulos mais cultuados de todos os tempos Se existe um filme que se tornou peça do imaginário coletivo, é Casablanca . Dirigido pelo húngaro naturalizado americano Michael Curtiz, entre 1941 e 1942, quando os Estados Unidos aliaram-se a um grupo de nações para combater o eixo formado por Alemanha, Itália e Japão, na Segunda Guerra Mundial, o clássico toca em tema sagrado. Menos pelos fatos históricos, a aclamação universal dessa película nasceu do assunto abordado, um romance em tempos de guerra, cujo apelo ultrapassa qualquer fronteira ou cultura. A aura mágica de Casablanca fez dele referência para inúmeros cineastas, como Woody Allen ( Sonhos de um Sedutor , de 1972, no qual ele é ator e roteirista) e Sydney Pollack (que filmou sua versão caribenha em Havana , de 1990), novelas radiofônicas e paródias, como um desenho do coelho Pernalonga. Humphrey Bogart, como durão, justo e apaixonado Rick Blane, ajudou na consolidação d...

Dez mulheres da literatura potiguar

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Há alguns nomes que se tornaram destaque num cenário mais amplo: penso que nomes como Zila Mamede (pela proximidade que manteve com figuras de maior escalão  como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, com este nem sempre amistosa); Nísia Floresta (que morou parte da vida no Rio de Janeiro, viajou a Europa diversas vezes e despertou a atenção de Décio Pignatari sobre sua vida); ou mesmo Auta de Souza (lida por Manuel Bandeira) como os nomes do passado que ganharam certo destaque além das fronteiras do Rio Grande do Norte. Dos nomes contemporâneos sou suspeito falar, mas Diva Cunha e Marize Castro, suponho, estão entre as que têm melhor projeção além da literatura local. Estas estão numa listinha que preparei a seguir, mas há outras, um tanto desconhecidas. Apresento algum traço biográfico e algumas de suas obras. Que fique de estímulo a outros leitores. Ah, a numeração é apenas a título de organização! Não é isso aqui um ranking . 1. Nísia F...

Porque T. S. Eliot é um dos maiores nomes da poesia moderna

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Thomas Stearns Eliot exerceu, como poeta, dramaturgo e crítico literário, uma grande influência no período de entre-guerras. Foi cabeça visível do movimento modernista e poemas seus como “A terra desolada” (1922) ou dramas poéticos como Assassinato na catedral (1935) e The cocktail party (1950) revitalizaram com seus exercícios de estilo a literatura inglesa. O poeta nasceu no dia 26 de setembro de 1888 na cidade estadunidense de Saint Louis e morreu em Londres em 1965. A publicação de “Quatro quartetos” durante a II Guerra Mundial lhe valeu o reconhecimento, ainda vivo, como o maior poeta de língua inglesa e, em 1948, foi-lhe dado o Prêmio Nobel de Literatura. Peter Ackroyd, escritor e crítico literário, é um dos maiores especialistas no estudo da vida e obra de T. S. Eliot. A biografia que publicou em meados da década de 1980 sobre o autor de “A terra desolada”, intitulada com o nome do poeta, é considerada um dos melhores documentos sobre sua vida. É a partir desse te...

Uma lista dos livros que serão sempre lembrados como os únicos de um escritor

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Ilustração: Sakuya Higuchi É verdade que há escritores que se definem autor de um só livro; uns compreendem que, por mais que tenha escrito dezenas deles, cada um é só uma tentativa falhada ou o rascunho do grande livro. Já outros compreendem que o conjunto de títulos publicados forma um só livro.  Ao dizerem isso, os escritores assumem, por dois caminhos uma anedota literária segundo a qual o esforço contínuo de quem se dedica a escrever é conseguir escrever a obra que o projete para a eternidade, para um lugar entre os do panteão da literatura.  Quem se assumiu entre os escritores do primeiro grupo, se não publicamente, foi Guimarães Rosa. Grande sertão: veredas  é o grande livro que foi escrito das experimentações do escritor com as múltiplas formas narrativas, como o conto e a novela, e mesmo a poesia.   Ou ainda, Ariano Suassuna, este sim, envolvido no trabalho contínuo de fazer e desfazer narrativas, qual Penélope à ...