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A figura (divina) de Jesus (des)construída - o mito

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Por Pedro Fernandes Há discussões das mais variadas em torno da figura de Jesus, talvez pelo carisma histórico (isso é o que analisaremos), que ainda alimenta multidões e até então líder político algum conseguiu. Logo se percebe que adotaremos aqui a perspectiva de um Jesus como figura política daquela sociedade, tomando por base uma das discussões que gira em torno de sua falsa divindade uma vez que historicamente esta divindade teria sido construída ao longo dos séculos e sido uma decisão política sobre uma renovação do cristianismo. Para tanto admitiremos que a história de Jesus enquanto ser santo tem algo de mítico, uma vez partirmos do pressuposto de que o mito explica a ordem social cósmica vigente e preocupa-se com as origens e a fixação de valores. A imagem de fábula, mentira, tida hoje como sinonímia comum para o termo mito fora estabelecida ainda no mundo greco-romano e, no entanto, sabe-se que o mito narra um fato verdadeiro em busca de uma verdadeira razão par...

Dois livros de Kertész de uma trilogia sobre o Holocausto

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Por Rafael Narbona A chaminé de Auschwitz se converteu no símbolo mais radical e o fio de nossa memória não cessa de regressar a essa imagem buscando uma causa capaz de explicar a transformação de seres humanos em colunas de fumaça. Ernst Nolte afirma que não havia nenhuma crueldade neste procedimento. Simplesmente, se tratava de eliminar os responsáveis por um rumo histórico indesejável. Imre Kertész era só um adolescente que vivia em Budapeste, quando Eichmann realizou o milagre burocrático de enviar em alguns meses algo perto de 325 mil judeus húngaros aos campos de concentração alemães. Kertész era judeu, mas não descobriu o que isso significava até que sofreu a experiência da deportação. Sua estadia em Auschwitz foi muito breve (apenas três dias); o resto de seu cativeiro se passou entre Buchenwald e Zeitz. Esse translado significou a passagem de um Vernichtungslager (campo de extermínio) a um Arbeitslager (campo de trabalho). Kertész podia ter relatado sua expe...

As mentiras de “O nome da rosa”

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Por Agustí Fancelli  “Tinha vontade de envenenar um monge”. Essa foi a razão de peso que Umberto Eco diz em suas Pós-escrita a O nome da rosa sobre os motivos que o impulsionaram a publicar, três anos antes, em 1980, seu grande romance histórico. Anteriormente o professor de semiótica da Universidade de Bolonha havia escrito apenas ensaios – alguns com muito êxito, como Obra aberta , Apocalípticos e integrados ou Lector in fabula que seus discípulos leram com fruição. O nome da rosa se converteu de maneira fulgurante num Best-Seller. E de alguma maneira o admirado professor deixou de ser patrimônio daqueles estudantes para abraçar o grande público. Não nos surpreendeu: sabíamos de sua extensa habilidade para ir de São Tomás de Aquino a Snoopy, do Superman a Joyce, do Beato de Liébana a Agatha Christie e Mafalda passando por Gertrude Stein, os irmãos Marx e a música de Luciano Berio ou John Cage. Um tipo assim estava chamado a sair dos limites da aula. Confesso...

Dez curiosidades sobre a vida e a obra de Agatha Christie

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Agatha Christie alcançou até a terceira idade, lúcida e produzindo. Dividida entre os últimos romances policiais, a possibilidade de se reinventar com um novo nome, um novo estilo, e vendo-se incapaz de construir algo que superasse o que já havia feito, ou que menos se aproximasse, a escritora rendeu-se e foi escrever suas memórias. A vida não foi má com ela; não há nada de impactante ou misterioso, qual a obra que construiu, na sua biografia. E mesmo sua autobiografia revela uma mulher típica de seu tempo, a Inglaterra vitoriana, de vida plácida, sem grandes desassossegos. Então, as curiosidades aqui reveladas denotam mais os limites alcançados pela grandiosidade de uma técnica simples que usou com todas as variações possíveis a forma que lhe deu sucesso já na estreia literária em 1920. Vida • Apaixonada por viagem, Agatha chegou a dar volto ao mundo e fez várias expedições ao mundo antigo acompanhada do segundo companheiro, que era arqueólogo. Quando jovem, nessas viagen...

Lawrence da Arábia, de David Lean

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Épico ambientado o deserto explora, na forma de espetáculo, os limites do indivíduo alçado à estatura de herói Se há um sinônimo para cinemão, este foi durante anos identificado com os filmes de David Lean. O aumentativo se justifica por seu completo domínio nas narrativas de dramas épicos, no uso recorrente do formato cinemascope, pelo apuro visual de tirar o fôlego (era capaz de esperar dias por um pôr-do-sol perfeito) e pela longa duração de seus filmes. Lean já era um veterano de histórias fascinantes (como Desencanto, de 1945, e as duas adaptações de clássicos de Charles Dickens – Grandes Esperanças , de 1946, e Oliver Twist , de 1948) quando, na década seguinte, só confirmou sua habilidade em produzir espetáculos, como A ponte do rio Kwai, de 1957. Ao longo dos cinco anos seguintes, o diretor entregou-se à difícil tarefa de traduzir em imagens as reflexões existenciais e políticas do escritor T. E. Lawrence, oficial que liderou as forças britânicas em combate...

O último amor de Goethe

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  Por Luis Fernando Moreno Claros Um dos raros registros de Ulrike von Levetzow, o último amor de Goethe “O amor, cujo poder sente a juventude, combina mal a velhice”. Sobre esta máxima de Goethe que, da experiência adverte contra as paixões extemporâneas, trata os textos “O homem de cinquenta anos” e “Elegia de Marienbad”, e entre a diversidade de pontos de vista aí assumidos está o último episódio amoroso na vida do autor do Fausto . Na edição espanhola, que copia a singular novela “O homem de cinquenta anos” e os célebres poemas que compõem a chamada Trilogia da paixão, entre eles, “Elegia de Marienbad”, a organizadora, Rosa Sala, recolheu numerosos fragmentos de cartas, diários privados e entrevistas pertencentes a várias personagens do entorno de Goethe. Corria o ano de 1823, quando o nobre conselheiro privado da Corte de Weimar, Johann Wolfgang Goethe, um escritor famoso em toda Alemanha, já septuagenário, se apaixonou como um adolescente por uma linda garo...