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Ana Cristina Cesar ou Ana C.

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Acreditei que se amasse de novo esqueceria outros pelo menos três ou quatro rostos que amei Num delírio de arquivística organizei a memória em alfabetos como quem conta carneiros e amansa no entanto flanco aberto não esqueço e amo em ti os outros rostos Em Contagem regressiva - Inéditos e Dispersos Ana Cristina Cesar. Fotografia: Cecilia Leal. 1976 Ana Cristina Cruz Cesar nasceu no Rio de Janeiro em 2 de junho de 1952. Desde cedo, demonstrou talento e gosto pela arte de escrever. Já aos sete anos de idade, tinha os primeiros poemas publicados num jornal, o  Suplemento Literário da Tribuna da Imprensa .  Tamanha força e precocidade não deixou escapar outra formação para a jovem que se licenciou em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde conheceu nomes como Heloísa Buarque de Hollanda, uma das primeiras no meio acadêmico a reparar no talento daquela que se tornaria nome singular na poesia marginal. Depois do curso de Letras,...

Aula de Português

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Por Pedro Fernandes A situação tal qual como exposta é típica de uma escola pública ou particular; não se admitem distinções na maioria dos pontos anteriormente especificados. Até que as teorias lingüísticas por aqui despertem, em meados da década de 1960, o tradicionalismo vigora no espaço dedicado às aulas de Português; a partir de então, duas curiosas correntes de opinião se formam entre os professores de Língua Portuguesa, ambas enfeitiçadas por essas reviravoltas no modo de compreensão da língua, conseqüentemente na compreensão dos estudos gramaticais, uma vez posto ser este indissociável daquele. Uma vertente entenderá o ensino de gramática da língua como um total liberalismo das normas postas, outra, se manterá no tradicionalismo ferrenho e enxergará as teorias lingüísticas como baleleísmo. No interior desta última ainda surgirá uma subcorrente que preocupada com o que ensinar sente-se perdida no âmago das discussões.  Inicialmente faz-se necessário uma espécie de ra...

Troca de pele, de Carlos Fuentes

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Por Maria Antonieta Gomez Um dos aspectos mais significativos em Troca de pele , de Carlos Fuentes é a peculiaridade em seu acesso à “cultura do signo”, própria do gênero romanesco. É Julia Kristeva quem afirma em termos gerais que o romance denuncia a passagem do símbolo (característica da epopeia) ao signo. Nesta afirmativa, ela distingue, tanto no símbolo como no signo, duas dimensões básicas: uma vertical e outra horizontal. Por um lado, o símbolo em sua dimensão vertical possui uma função de “restrição” enquanto mostra-se como o monovalente e unívoco. E, em sua dimensão horizontal (a articulação das unidades significantes entre si), o símbolo é disjuntivo; isto é, em sua lógica se excluem mutuamente duas unidades opositivas. No campo do símbolo, na epopeia, o mal e o bem, por exemplo, são incompatíveis. Caso contrário no ideograma do signo; em sua dimensão vertical não opera, como no caso do símbolo, uma função de restrição que acumula no unívoco ou em referênci...

A figura (divina) de Jesus (des)construída - o mito

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Por Pedro Fernandes Há discussões das mais variadas em torno da figura de Jesus, talvez pelo carisma histórico (isso é o que analisaremos), que ainda alimenta multidões e até então líder político algum conseguiu. Logo se percebe que adotaremos aqui a perspectiva de um Jesus como figura política daquela sociedade, tomando por base uma das discussões que gira em torno de sua falsa divindade uma vez que historicamente esta divindade teria sido construída ao longo dos séculos e sido uma decisão política sobre uma renovação do cristianismo. Para tanto admitiremos que a história de Jesus enquanto ser santo tem algo de mítico, uma vez partirmos do pressuposto de que o mito explica a ordem social cósmica vigente e preocupa-se com as origens e a fixação de valores. A imagem de fábula, mentira, tida hoje como sinonímia comum para o termo mito fora estabelecida ainda no mundo greco-romano e, no entanto, sabe-se que o mito narra um fato verdadeiro em busca de uma verdadeira razão par...

Dois livros de Kertész de uma trilogia sobre o Holocausto

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Por Rafael Narbona A chaminé de Auschwitz se converteu no símbolo mais radical e o fio de nossa memória não cessa de regressar a essa imagem buscando uma causa capaz de explicar a transformação de seres humanos em colunas de fumaça. Ernst Nolte afirma que não havia nenhuma crueldade neste procedimento. Simplesmente, se tratava de eliminar os responsáveis por um rumo histórico indesejável. Imre Kertész era só um adolescente que vivia em Budapeste, quando Eichmann realizou o milagre burocrático de enviar em alguns meses algo perto de 325 mil judeus húngaros aos campos de concentração alemães. Kertész era judeu, mas não descobriu o que isso significava até que sofreu a experiência da deportação. Sua estadia em Auschwitz foi muito breve (apenas três dias); o resto de seu cativeiro se passou entre Buchenwald e Zeitz. Esse translado significou a passagem de um Vernichtungslager (campo de extermínio) a um Arbeitslager (campo de trabalho). Kertész podia ter relatado sua expe...

As mentiras de “O nome da rosa”

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Por Agustí Fancelli  “Tinha vontade de envenenar um monge”. Essa foi a razão de peso que Umberto Eco diz em suas Pós-escrita a O nome da rosa sobre os motivos que o impulsionaram a publicar, três anos antes, em 1980, seu grande romance histórico. Anteriormente o professor de semiótica da Universidade de Bolonha havia escrito apenas ensaios – alguns com muito êxito, como Obra aberta , Apocalípticos e integrados ou Lector in fabula que seus discípulos leram com fruição. O nome da rosa se converteu de maneira fulgurante num Best-Seller. E de alguma maneira o admirado professor deixou de ser patrimônio daqueles estudantes para abraçar o grande público. Não nos surpreendeu: sabíamos de sua extensa habilidade para ir de São Tomás de Aquino a Snoopy, do Superman a Joyce, do Beato de Liébana a Agatha Christie e Mafalda passando por Gertrude Stein, os irmãos Marx e a música de Luciano Berio ou John Cage. Um tipo assim estava chamado a sair dos limites da aula. Confesso...