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Dossiê James Joyce: peças para um retrato do artista (III)

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Enquanto prosseguia a seriação do livro Um retrato... o escritor começa a escrever o romance Ulysses . Por esta época, 1914, foram muitos os reveses  ―  basta lembrar que então eclodia a Primeira Guerra Mundial. E é por causa da guerra que Joyce sai de Trieste (apesar de pretender continuar por lá) e vai para Zurique  ―  Suíça  ― , onde fica até 1919. Depois de quatro rejeições pelas editoras do seu livro Um retrato... Joyce o tem publicado pela conhecida editora Harriet Shaw Weaver, a mesma responsável pelo The Egoist . Com o fim da guerra, em outubro de 1919, Joyce volta para Trieste, agora território italiano em sua boa parte. Mas, ao encontrar a cidade como um caos, o escritor volta novamente para Paris, onde residiria por longos vinte anos. Adquirindo uma certa estabilidade, Ulysses nasce nesse momento, em 1921, depois de trabalhar nele desde seus vinte oito anos de idade, quando ainda escrevia o conjunto de contos de Dublinenses . Originalment...

Maria Madalena Antunes

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Madalena Antuntes, 1940. Foto: arquivo Lúcia Helena Pereira Maria Madelena Antunes de Oliveira nasceu no dia 25 de maio de 1880, no engenho Oiteiro, município de Ceará Mirim; filha do coronel José Antunes de Oliveira e Joana Soares de Oliveira. Posteriormente, ao se casar com Olympio Varela Pereira, passou a assinar Maria Madalena Antunes Pereira, tornando-se, a partir de 1958, mais conhecida como a Sinhá - Moça do Oiteiro. Para os que conheceram a escritora, falam de uma Madalena Antunes criança alegre, virtuosa, cheia de amor pela família, pelos irmãos Juvenal Antunes de Oliveira, que foi poeta, Etelvina Antunes de Lemos, também poeta e Ezequiel Antunes de Oliveira. Senhorinha ou Sinhá de engenho, Madalena parece não ter levado a alcunha muito ao pé da letra; relatos dizem ter sido ele afetiva e carinhosa para com as filhas de escravos; citem-se Tonha e Patica, "crias da casa do coronel", com as quais apegou-se, em correspondida afeição, além, da fidelida...

Dossiê James Joyce: peças para um retrato do artista (II)

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Viúvo a quase um ano, Joyce, por puro acaso, conheceu uma moça de vinte anos, filha de um pedreiro beberrão separado da mulher, que se mudara para Dublin. Nora Barnacle estava longe de Joyce em termos de formação, abandonara os estudos ainda aos treze anos. Ainda assim, nasce entre os dois um relacionamento que duraria para todo o resto da vida. Três meses depois de se conhecerem, ambos decidiram sair da Irlanda, fixaram-se em Pola (Croácia hoje) e depois em Trieste (Itália hoje), cidades estas que faziam parte da Áustria-Hungria. James Joyce e Nora Barnacle. Instalados em Trieste, Joyce passa a trabalhar numa escola como professor de inglês. Já por aí, Nora engravidara. Perdida, por está num país em que não tinha noção nenhuma do idioma e ainda com o hábito de beberrão de Joyce, Nora teve de se resignar. Estado que alivia quando da chegada de George Joyce, em 1905, que apesar das alegrias, trouxe mais complicações financeiras. Na esperança de arranjar alguma estabilidade, ...

Dora Ferreira da Silva

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Por Pedro Fernandes Há duas coisas que como acadêmico de Letras tenho vício, duas não, três: da biblioteca, fuçar o que me pareça novidade, conhecer daquilo que ninguém ainda falou - pelo menos pra mim; da internet, buscar leituras interessantes sobre literatura (diria que semelhante atividade ao primeiro vício) e, por fim, ler - uma reunião dos dois outros vícios. Recentemente tenho começado alguns incursões pelo universo poético, colocando por um instante a prosa na estante - se bem que não funciona bem assim, há mesmo um intercalar de prosa e poesia constante. Mas, o fato é que a metade maior do tempo tenho ido por esse universo do poema, resultado, agora, de um minicurso que ministrarei com uma minha amiga de versos no curso de Letras. O curso sai, acredito, em setembro. Somando-se estas duas atividades, os vícios e o estudo da poesia para o minicurso, encontro com a obra de uma escritora até agora uma desconhecida para mim: Dora Ferreira da Silva. Uma poeta, diria, sem d...

Dossiê James Joyce: peças para um retrato do artista (I)

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Quando a obra clássica de Joyce chega ao Brasil é por volta de 1966, por iniciativa de Enio Silveira. Trata-se da edição traduzida pelo filólogo, escritor e acadêmico Antonio Houaiss. Em 2005, chega a tradução feita por Bernardina Pinheiro, uma iniciativa sua, que se dedicou a essa tarefa ao longo de mais de sete anos, tudo para atingir um objetivo que ao seu modo de ver não se via na edição do Houaiss: recuperar o tom da linguagem coloquial do romance, uma de suas principais características. A tradutora concordava que a versão de Houaiss era bastante rebuscada. Bem, se este objetivo foi ou não logrado, isso é outra história porque a verdade é que Ulysses , tal como um Grande sertão: veredas , de Guimarães Rosa,   apresenta dificuldades até para os leitores na sua língua original. *** James Joyce nasceu em 1882, numa Irlanda que se debatia com as conseqüências de uma longa história de domínio inglês, fortalecido a partir do século XVI. Além do calhamaço de divisões políti...

João Cabral de Melo Neto: influências de Sevilha e o lirismo contido

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" Há que sevilhizar a vida . Há que sevilhizar o mundo ." (J.C. de Melo Neto) Em 1956, João Cabral é novamente removido para Barcelona, agora como cônsul adjunto e autorizado a morar em Sevilha para fazer pesquisas no Arquivo das Índias. Foi então que Cabral se descobriu na cidade e descobriu totalmente a cidade. Saiu dos bairros turísticos, dos grandes monumentos, que representam um Sevilha mais aparente e mais exterior e foi para a Sevilha íntima que não se oferece facilmente. Caminhou por todos os bairros populares como Macarena e Santa Maria la Blanca descobrindo seus becos, tabacarias e praças; participou de tertúlias no bairro taurino de São Bernardo onde sempre via os toureiros como os irmãos Pepe Luiz, Antonio e Manolo Vasquez; conheceu os bailadores de flamenco do bairro cigano de Triena; fez longos passeios pela Calle Ciertes até La Campana e passou a traduzir todo esse mundo fascinante em sua poesia. "Sevilha é uma cidade íntima. ...