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João Ubaldo Ribeiro, o Prêmio Camões de 2008

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"Em primeiro lugar desaconselharia o jovem candidato a escritor a continuar; sugeriria que desistisse enquanto é tempo. Mas se isso for mesmo impossível, eu diria: então está bem, persista, vá em frente, leia muito, todas essas coisas que são lugares-comuns. E principalmente: seja humilde, mas combine essa humildade com certa obstinação. O resto, não é com você, amigo. É um mistério." (João Ubaldo Ribeiro) João Ubaldo Ribeiro. Foto de Bruno Veiga. No último dia 26 de julho, o escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro teve mais um motivo em que o mistério de ser escritor, ainda que se dilate, não se explica. Estou falando dele ter sido mais um escritor brasileiro a ser galardoado pelo conjunto da sua obra com o que podemos chamar de Nobel das Literaturas de Língua Portuguesa, o Prêmio Camões, criado em 1988, em sua vigésima edição, portanto. Ano passado havia sido entregue ao escritor português António Lobo Antunes. Também o Nobel José Saramago já recebe...

Jules e Jim - Uma Mulher para Dois, de François Truffaut

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Diretor celebra alegria de viver nos vínculos entre personagens que compõem triângulo amoroso Se Jean-Luc Godard foi o cineasta mais inovador da Nouvelle vague , François Truffaut foi o mais amado. Dono de uma personalidade afetuosa e tranquila, ele nos legou uma obra delicada, que fala de sentimentos, relacionamentos, a alegria das pequenas coisas, e talvez essa ternura tenha ajudado no carinho do público pelo diretor. Alguns dos seus ideais estão sintetizados em Jules e Jim - Uma Mulher para Dois , história de um triângulo amoroso que sobrevive a uma guerra e a muitos percalços. A trama é baseada em um romance autobiográfico de Henri-Pierre Roché que Truffaut comprou em um sebo anos antes e ficou encantado com o que chamava de "perfeito hino ao amor e, talvez à vida". O então crítico prometeu que, caso um dia fizesse filmes, adaptaria Jules e Jim . O austríaco Jules (Oskar Werner) é retraído e introspectivo, culto e inteligente. Torna-se amigo do francês Jim ...

2050

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Paul Benney encontrei-me nu. criança sob uma abóbada celeste chumbo num futuro passado a limpo distante alheio a mim mesmo. divaguei e divaguei nas capoeiras rotas poeirentas, amareladas, por vezes escura, vestida de morte. desterros. no céu cinza escarlate um passado futuro desatado, distante desdobra-se em gotas de estrelas escusas, alheias a mim. quisera reverter a abóbada celeste a abóbada do meu pensamento dissecar todo o lamento em fúria da natureza escura, morta. re(ver) o azul celeste que carrego na abóbada do meu pensamento. ex(por) o brilho vivo das estrelas. acalentar o lamento fúria da natureza vê-la em colorido, forma viva. *  Este poema foi publicado inicialmente nos site Jornal de Poesia e Garganta da Serpente.  Acesse  o e-book  Palavras de pedra e cal  e leia outros poemas de Pedro Fernandes.

Literatura pra quê?

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Por Pedro Fernandes Ao longo da história da arte e não diferente da tradição literária - do conjunto de textos escritos produzidos pela humanidade não para fins práticos (como manter registros, leis, fórmulas científicas, atas de sessões etc.) - tem sido perguntado quais valores e/ou funções práticas fundam esse campo. Comentemos acerca desse questionamento. Nossa fala se guia pela voz de Umberto Eco, "Sobre algumas funções da literatura". Associada a esta indagação tem surgido uma linha do pensamento segundo o qual o texto literário se produz por amor de si mesmo, sendo sua leitura apenas para deleite, puro passatempo, uma ampliação dos conhecimentos fazendo dos leitores assíduos intelectuais - quando do caso dos leitores gerais, da prosa e da poesia -, ou puro e simples espaço de elevação espiritual - quando do caso dos leitores da poesia. A partir desta ainda há outra, oposta, segundo a qual a literatura comporta um caráter de interventora nalgumas linhas sociais. Iss...

Kenzaburo Oe

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  Kenzaburo Oe. Tóquio, 1995. A ambiguidade é importante para mim, já que a realidade oculta inumeráveis significados, pode ser interpretada de múltiplas formas. O tema determinante de minha obra se resume numa pergunta: Como viver nosso presente? Como viveremos no século XXI? (Kenzaburo Oe) É o segundo trabalho da literatura é criar o mito. Mas, seu primeiro trabalho é destruí-lo. (Kenzaburo Oe) Kenzaburo Oe nasceu a 31 de janeiro de 1935 num vilarejo da província de Ehime, na ilha de Shikoku. É o terceiro de um grupo de sete irmãos. Sua família é de uma estirpe de abastados proprietários rurais que foram perdendo patrimônio à medida que avançavam a reforma agrária no seu país logo depois da Segunda Guerra Mundial. Aos nove anos, Oe enfrentou a morte do pai, decorrente no front da Guerra do Pacífico, em 1944; neste mesmo ano morreu ainda a avó com quem melhor desenvolveu proximidades, a contadora de histórias que lhe permitiu acessar o mundo de histórias, mitos e lendas da...

De como uma escritora “maldita” findou transformada em Best-Seller

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  Por Máximo Soto Goliarda Sapienza   Se uma das características da obra de arte é a quantidade de interpretações a que leva seu caráter poético, polissêmico, sem dúvida L’arte dela gioia , romance da escritora siciliana Goliarda Sapienza, alcança essa posição.   Descartado duas décadas, a partir de 1976, por diferentes editoras italianas, censurado como imoral, pornográfico, escandalosamente feminista e absurdamente perverso ou como um pastiche melodramático torrencial com um fundo moralista, L’arte dela gioia tornou-se um “romance maldito” que aos poucos que por ele se interessavam faziam-no por uma mórbida curiosidade sobre quão longe Goliarda Sapienza havia chegado com suas transgressões. O romance foi finalmente publicado em 1996, em uma pequena editora, logo após a morte da escritora, graças aos esforços de Angelo Pellegrino, seu último companheiro.   Pouco depois, acontece algo que leva um dos maiores críticos italianos a escrever “mais uma vez está provado q...