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Jorge Fernandes e seu livro de poemas

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Por Pedro Fernandes O ano é 1920. A capital do Estado se resumia a uma cidade provinciana; quase parada. A noite natalense resumia-se às festas da Igreja e, como atesta-nos o poeta Veríssimo de Melo, aos raros dias de agitação da política nacional. No cenário literário apenas os cafés eram os centros da boemia, das atividades culturais e dos saraus recheados de sonetos. Isso também nos é constatado nos vários textos que Câmara Cascudo escrevia nos jornais da época.   Num deles, “Cabelos curtos ou compridos”, em 1924, no jornal  A Imprensa , Cascudo apresentava o resultado duma pesquisa no mínimo engraçada, mas que refletia bem o espírito do povo norte-rio-grandense por essa época: fez ele uma entrevista com quinze pessoas – poetas, jornalistas, comerciantes, teatrólogo, médico –, perguntando acerca do cabelo feminino, se o preferiam curto à moda inglesa ou se longos e encaracolados. O resultado foi que seis votaram pelo primeiro, seis pelo segundo e três pelos dois, o que nos ...

H. Dobal

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Por Pedro Fernandes H. é a abreviatura de Hindemburgo. Associado ao Dobal, assim é que se chama o poeta piauiense: Hindemburgo Dobal, reconhecido H. Dobal. Poucos leitores terão ouvido falar seu nome ou lido sua obra.  O que não é surpresa. Há centenas deles Brasil afora. E neles, ao meu ver, está o valor da poesia brasileira contemporânea. Aqui, ficam algumas anotações colhidas do encontro da obra deste poeta numa das muitas idas à biblioteca; o pequeno texto informativo não tem ambição nenhuma se não registrar ou trazer aos olhos de outros leitores quem é H. Dobal e algumas de suas obras. H. Dobal nasceu no dia 17 de outubro de 1927 em Teresina. Formou-se em Direito e trabalhou como funcionário público, passando nesse período por Brasília e Rio de Janeiro. Sua presença na literatura começa como participante do Grupo Meridiano. O movimento que ajudou a fundar se fez conhecer pela publicação de uma revista de mesmo nome. Foi um espaço que deu a conhecer as influênci...

Notas

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Por Pedro Fernandes * Aos leitores fixos e aos leitores transeuntes desse espaço 1. Coisa pessoal: Aproveito a ocasião para neste espaço agradecer aos bons momentos vividos nestas duas últimas semanas de intensa movimentação acadêmica (isso até deixa o escritor que aqui fala sem fôlego) mas tudo, enfim, compensa; afinal  a arte não nos cansa, ainda mais a literatura. Semana passada foi a vez da VI Semana de Estudos Linguísticos e Literários em Pau dos Ferros (RN) e quero confessar da tarde belíssima que foi a do Grupo de Trabalho em que apresentei comunicação; entre literatura e José Saramago foi tudo excelentemente bom. As meninas Cecília, Layze, Helissa, do Campus de Currais Novos da UFRN - estudiosas da obra de Saramago, Mia Couto e Florbela Espanca, respectivamente, (as coloco como estudiosas, mas não se estuda literatura - lê-se!, respira-se!, vive-se!, como em todas as artes) que me acompanharam no GT e de discussão daquele evento, me sinto muito grato. Já nesta semana q...

Metróplis, de Fritz Lang

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Ficção futurista critica a exploração do operariado, que na trama vive no subterrâneo enquanto os chefes moram no alto Apontar Metropólis como a primeira obra de ficção científica da história depende das delimitações que definem o gênero. Mais adequado seria considerá-lo uma "ficção de antecipação", que traça o futuro pessimista para a civilização. Feito em 1926, sua ação se passa no ano 2000. Menos discutível é a influência que sua estética produziu nos filmes que lhe seguiram e é ainda patente, por exemplo, em Blade Runner (1982), de Ridley Scott, e em Minority Report - A Nova Lei (2002), de Steven Spielberg. A ideia de uma cidade futurista dividida rigidamente entre dominadores e dominados continua a ser inspiradora. A parte que cabia aos dominados, é uma ideia de mundo infernal no qual os homens, tratados genericamente como operários, executam tarefas desgastantes no subsolo, enquanto no andar superior os donos das fábricas se reservam o direito dos prazer...

Euclides da Cunha

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  Em 1902 quando é lançado Os Sertões , há um sobressalto nos meios literários e políticos brasileiros. Euclides da Cunha vinha lembrar a existência de uma realidade nacional - o outro Brasil, pobre e atrasado, do interior - que as nossas elites, fixadas no Litoral e voltadas para a Europa, em sua maioria desconheciam, enquanto a minoria preferia ocultá-la de si mesma, para não perturbar a tranqüilidade artificial de que gozava nos grandes centros, especialmente o Rio de Janeiro. Brutalmente, como às vezes era de seu feitio, contando o que fora na realidade a campanha de Canudos e o aniquilamento dos seguidores de Conselheiro, expunha sem meias palavras todo o drama do desamparo e do atraso de que eram vítimas as populações do sertão, ou dos sertões, como ele preferia dizer. Às elites do Litoral, que consciente ou inconscientemente teimavam em desconhecer, não o drama apenas, mas até mesmo, às vezes, a própria existência das populações do interior nordestino, Euclides mostrava co...

As vidas de Gertrude Stein e Alice B. Toklas

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Por Iker Seisdedos Alice B. Toklas e Gertrude Stein Uma boa pergunta pode ser a linha mais curta a uma resposta adequada. Como puderam sobreviver duas velhas lésbicas judias na França ocupada durante a II Guerra Mundial? Esta é uma boa pergunta. A partir dela, a jornalista Janet Malcolm pesquisou sobre a escritora experimental Gertrude Stein e sua companheira e secretária pessoal durante décadas, Alice B. Toklas. A resposta foi publicada em três artigos no New Yorker e depois recolhida no livro Duas vidas: Gertrude e Alice . Quando a guerra estourou em 1939, Stein e Toklas, talvez o casal mais pitoresco das letras estadunidenses já haviam saído de sua casa na rua parisiense Fleurus, um dos cenários clássicos do que ficou conhecido como “geração perdida”. O termo foi criado pela escritora para referir-se aos amigos literatos, aventureiros e expatriados. Viviam então tranquilamente entre as frequentes visitas de Picasso, Hemingway ou Man Ray em Culoz, lugar ao sul da França s...