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Itinerários da poesia de Zila Mamede

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Corpo a corpo Pasto branco potro bravo corpo a corpo corre o certo tempo incerto de um corisco Pasto e cobra rosto franco na empreitada: febre e fogo nesse jogo de encontrar-se Pasto e potro rasto e sono em breve trato: rosto acorda laço e corda desatados Pasto grave tenso rosto: cobra-cobra se consome na empreitada re-presada Pasto franco rosto breve fogo e risco fome e riso no improviso desse jogo Pasto bravo potro branco corpo a corpo: na campina o potro: a crina engalanada (Zila Mamede,  Corpo a corpo ) Zila Mamede – itinerário e exercício da poesia (parte V): Corpo a corpo – paisagem dos cinqüent’anos ou uma volta em mágoa por Paulo de Tarso Correia de Melo* “[...] a beleza é tão grande mas ninguém a enxerga.” ( Marinha ou Paisagem dos cinqüent’anos ) Embora a autora defina Corpo a corpo como “uma volta sem mágoa” a cada um dos lugares que marcam o seu itinerário poético, a novidade desses poemas inéditos es...

No país dos homens, de Hisham Matar

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Por Lorraine Adams  O que uma criança pode entender do totalitarismo? No excelente romance de estréia de Hisham Matar, essa pergunta transcendo o campo do psicológico para alcançar algo de raro na ficção contemporânea: uma trama sofisticada, dominada por arquétipos, narrada pela lógica de um menino de 9 anos e escrita com ênfase e o lirismo característicos da poesia. Esse maravilhoso livro foi alvo de diversas campanhas de marketing, mas não deixe que alguém te fale, como os publicitários fizeram na Inglaterra logo que No país dos homens apareceu, que esse é um Caçador de pipas líbio. A criação de Matar poderia estar ambientada em qualquer região do mundo: a Líbia, terra natal do escritor, fica livre de suas idiossincrasias, tornando-se simplesmente um virtual país totalitário. E, ao contrário do best-seller de Khaled Hosseini sobre dois garotos no Afeganistão, o romance de Matar é livre tanto nos lugares-comuns quanto de enfeites. O cerne do livro vai além de alguns temas...

Vinicius de Moraes

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Por Antonio Candido Os poetas que valem realmente fazem a poesia dizer mais coisas do que ela dizia antes deles. Por isso, precisamos deles para ver e para sentir melhor, e eles não dependem das modas nem de escolas, porque as modas e os poetas ficam. Se hoje dermos um balanço no que Vinicius de Moraes ensinou à poesia brasileira, é capaz de nem percebermos quanto contribuiu, porque, justamente por ter contribuído muito, o que fez de novo entrou para a circulação, tornou-se moeda corrente e linguagem de todos. Do que trouxe, lembro apenas: a peculiaríssima ligação que estabeleceu entre o mar, a praia e a vida amorosa; a mistura do vocabulário familiar com uma espécie de casto impudor; a invenção de um léxico do amor físico que abole qualquer diferença entre ele e o que é considerado não-físico. E mais um uso próprio do ritmo de romance popular, quem sabe inspirado inicialmente em García Lorca. E uma reconstrução do soneto. E a transformação do versículo solene dos primeiros ...

Itinerários da poesia de Zila Mamede

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Pablo Picasso. Menino conduzindo um cavalo  (1905) O cavalo e menino a Pablo Picasso Era o cavalo em pêlo em pêlo era o menino, e os dois –   mais sua solidão, mais seu destino. Ninguém sabe se o cavalo angustiava a tarde, se do menino era a angústia que o cavalo tocava. Os dois passavam sempre abstraídos (na tarde que continham) da campina de cinzas que os cercava. Se de um, se de outro, súbito chegava o grave canto, já se sabia – era a tarde dos dois: que a do menino, contida numa estrela aparecia, e a do cavalo, sobre montões de feno se dobrava. (Zila Mamede,  Exercício da palavra ) Este é o quarto livro de Zila Mamede, onde toda sua poesia foi reunida, codificada, projeto que delimita fases, mas quer sobretudo, encontrar a linguagem despojada, assumindo um processo que alcança o grande valor de procurar/tentar novas soluções para o verso. [...] Um livro que pode ter uma virtude: não peca, pela unicidade, pela virtud...

Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, de Woody Allen

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Comédia explora distúrbios de um casal e as razões dos fracassos dos relacionamentos Noivo Neurótico, Noiva Nervosa , dirigido e protagonizado por Woody Allen, narra a história do relacionamento entre um conhecido comediante, Alvy Singer (Allen), e uma cantora de casas noturnas, Annie Hall (Diane Keaton), contada desde pouco antes do primeiro encontro até pouco depois do rompimento. Como se pode supor tanto pelo título em português quanto pela experiência de quem já viu Allen atuando em algum de seus filmes, são as complicações psicológicas do homem que mimam a relação. No caso deste filme, as neuroses dele são completadas pela personalidade complicada também dela. Inicialmente, Allen pretendia filmar um suspense em que o romance do casal fosse um dos subenredos, mas logo percebeu onde estavam as melhores cenas e acabou reduzindo a trama ao romance. Desde o primeiro momento, a insegurança  e as manias de ambos são tanto o motor das alegrias quanto os motivos que imped...

Mais dois poemas de Pedro Fernandes

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Francis Bacon. Crucificação . Três estudos. 1962. INSTANTE (POEMA. REVOLUÇÃO) calarei a todos com tiros de fuzil para que me ouçam no interior de minha fala poética que se desdobra na trama frenética as palavras no papel. passarei por cima dos primeiros com a ajuda de minha insana infâmia no interior de meus gritos amarrados à tinta na cadeia papel branco. na história não há espaços para o sutil para a felicidade como dizia hegel. no meu poema há brechas para tanto mas vigora mesmo um grito melancólico no bucolismo nefasto e vadio das palavras negras presas no papel. do poder absoluto resta eu desmanchado em palavras [balas] atiradas com fuzil [minha caneta] ou gritos preso(a)s [as palavras] num poema de papel. DOS FINS DO DIA EM QUE A LUA SOBE MAIS CEDO Dos fins do dia em que a lua sobe mais cedo Sempre voltei para casa assim como sol E deixei me embalar nas linhas tênues Ou oblongas dum verso Como colecionador de sua humildade Julgo-me...