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Matar e criar

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Por Candido Pérez Gallego T. S. Eliot, 1947. Foto: George Platt Lynes No número de junho de 1915 da revista Poetry  aparece um poema de um tal T. S. Eliot ( A canção de amor de J. Alfred Prufrock ), que havia nascido em 1888 em Saint Louis (Missouri), passaria pela universidade de Harvard, por aquele período se casaria em Hampstead, Bertrand Russell o convidaria para o jantar de seu novo casamento e até propõe deixar-lhe um quarto em sua casa. A esposa tem uma instabilidade mental, é extremamente frágil  e logo terá a primeira crise importante. No fim, naquele poema se pintava um homem jovem prematuramente velho que passeia pelos bairros marítimos de Boston. Um texto que se abre de um novo modo e esmagador: "Sigamos então, tu e eu / Enquanto o poeta no céu se estende / Como um paciente anestesiado sobre a mesa". A poesia moderna acaba de entrar no panteão e faz uma homenagem a Baudelaire, Laforgue e Apollinaire. Se nos diz que será "tempo para matar e criar...

Cinco livros e cinco filmes para conhecer Charles Bukowski

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Por Pedro Fernandes Bukowski divide a crítica em dois grandes grupos: o dos que admiram sua ousadia e capacidade de fazer da experiência de vida, com linguagem simples e despojada, uma literatura e o dos que assinalam que somente isso ou meter-se em experiências depravadas é insuficiente para se produzir algo que possa ser chamado de literatura. Embates à parte, o fato é que o escritor cada vez mais tem ganhado espaço entre os leitores dentro e fora de seu país; e isso é nada mais que produto de uma motivação convincente de que a literatura não está restrita a um uso delicado ou rebuscado da linguagem. Ou que a literatura, para ser convincente, deve ter por “vocação” não apenas à construção de situações imaginativas, mas a transposição da matéria vivida. Um ou outro lado deve antes de assumir uma posição negativa em relação ao autor e sua obra conhecer sobre. Por isso, esta postagem. Ela copia uma sequência com a sinopse sobre cinco livros e cinco filmes indispensáveis p...

Caderno vermelho, caderno azul

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Por Maurício Montiel Figueiras De quem falamos quando falamos de Paul Auster? Do narrador que nos anos oitenta se tornou a nova ponta de lança da literatura estadunidense graças ao fato de a crítica francesa reconhecer o valor e as contribuições de títulos como O inventor da solidão , A trilogia de Nova York (composta por Cidade de vidro , Espectros e A sala trancada ), No país das últimas coisas e Palácio da Lua ? Do poeta cuja habilidade lírica fica evidente não só em Ground Work: Selected Poems and Essays (1970-1979) mas no seu trabalho como tradutor para o inglês de Jacques Dupin, Edmond Jabès e Stéphane Mallarmé, entre outros? Do ensaísta que em A arte da fome demonstra que pode praticar com facilidade o gênero de Montaigne? Do editor responsável por The Random House Book of Twentieth-Century French Poetry e Achei que meu pai era Deus , uma antologia que recupera cento e setenta e nove das quatro mil histórias verdadeiras recebidas como parte do National Story Project, lanç...

António Ramos Rosa

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Por alguns redutos da poesia, a obra do poeta António Ramos Rosa circula no Brasil. É evidente que o seu exercício literário num blog mantido (não com assiduidade) entre 2008 e 2012 e as participações esporádicas em diversos periódicos brasileiros são produtos para que não se diga ser o seu nome um total desconhecido por aqui. Que dos seus livros, até o presente, só conhecemos Animal olhar , uma antologia organizada por Rosa Alice Branco e publicada pela editora Escrituras. No entanto, é bom que se sublinhe que a obra e o nome somam como uma das mais interessantes figuras da literatura portuguesa contemporânea. Desde a publicação de O grito claro , seu primeiro título vindo a lume em 1958, Ramos Rosa escreveu quase uma centena de livros, reiterando uma observação já traçada por aqui noutra ocasião sobre a proficuidade dos escritores de além mar. Os últimos título publicados por ele foi Em torno do imponderável , de 2012, e Numa folha leve e livre , publicado no mesmo ano ...

A jangada de pedra, de George Sluizer

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Por Pedro Fernandes Foi só depois de saber da adaptação de Ensaio sobre a cegueira por Fernando Meirelles para o cinema para ter conhecimento de que, muito antes, outro cineasta também havia se aventurado no exercício de transpor para a sétima arte uma obra do José Saramago. Não lembro agora onde li, mas li que o escritor português sempre se questionou, com certa curiosidade certamente, sobre como seria ver na tela uma personagem que nem ele próprio, seu criador, tinha uma visão bem-acabada. De fato, não é o caso de A jangada de pedra que, como leitor, consigo ter uma imagem mais ou menos elaborada das figuras engendradas pelo romance, mas a partir do romance de 1995, sim, o que sobressai na tessitura da narração, são vultos, expressões. Se por um lado isso até facilita a visualização do criador cinematográfico porque tem a liberdade de moldar a personagem à maneira do que capta do romance e, talvez, nunca lhe pese a acusação (fajuta, diga-se) de que a personagem no cin...

Um ano depois

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Por Pedro Fernandes Não adiantemos falsas esperanças, Teria sido, sem dúvidas, uma boa e honesta manchete para o jornal do dia seguinte, mas o director, após consultar com seu redactor-chefe, considerou desaconselhável, também do ponto de vista empresarial, lançar este balde de água gelada sobre o entusiasmo popular, Ponha-lhe o mesmo de sempre, Ano Novo, Vida Nova, disse. José Saramago,  As intermitências da morte Vai o ano correndo em dias e noites até que deságue para o fim que é o início de outro ano que novamente deverá correr em dias e noites e desaguará noutro ano e mais noutros, sucessivamente. É assim desde que criamos o tempo. Enquanto os anos vão correndo também corremos nós até desaguarmos para a morte, esta que é o fim de tudo. Não há para nós como o ano que tem outro ano para desaguar outra vida que possamos estar nela a desaguar e continuar a viver. É assim o curso natural da vida. E neste momento em que comemoramos a chegada de mais um...