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Do poder da escrita

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Pedro Fernandes No princípio era o verbo - Bíblia, João, 1: 1-18 Uma folha branca. Ela é um desafio para escritor de qualquer nível vencido a cada momento em que novas palavras e idéias surgem para preenchê-la.  Vejo a escrita como um processo delicado. Através dela somos colocados diante situações que esperam ser resolvidas. Isso é o que chamo pensar com palavras.  Comparo escrever com entrar num mundo escuro e desconhecido. É um problema que nos traz satisfação e conhecimento. Agora mesmo é tudo breu. E a página se preenche com volteios, letra após letra, palavra a após palavra, formando uma ideia, uma situação. Já parou para imaginar o mundo como vivemos sem a escrita? Existiríamos até aqui?  Seríamos, muito provavelmente, um dos muitos elos perdidos como são os nossos antepassados de antes ou sem a escrita, aqueles que pouca coisa conhecemos e o pouco que conhecemos são de longas suposições.  Vejo a escrita como capaz de construir e erguer o universo que ...

Chinatown, de Roman Polanski

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Em vez do preto-e-branco típico do noir , a fotografia em tons alaranjados não esconde a cinzenta visão de mundo do diretor O detetive J.J. Gittes (Jack Nicholson) é colocado no centro de uma trama gigantesca envolvendo boa parte dos homens poderosos de Los Angeles nos anos de 1930. Na trama, seu bom humor e sua malandragem contratam com a maldade assumida dos demais personagens, bem ao estilo do pessimismo moral que caracteriza o universo cinematográfico do polonês Roman Polanski. Conforme a história é esclarecida, percebe-se que o crime investigado é apenas mais um de tantos desvios de conduta de todos os envolvidos e que nenhum dos suspeitos parece realmente inocente. Com seus antecessores na tradição do cinema noir, o detetive é um solitário que esbarra num mundo podre e normalmente sem solução. Gittes parece lidar bem com isso. Quando perguntado se ele está sozinho, responde com uma pergunta: "Esta não é a situação de todos?" Não só sobrevive no centro da podr...

Duas notas entre o geral e o particular

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Por Pedro Fernandes Oscar 2009 As principais premiações cinema em 2009 parecem inaugurar novos rumos para os filmes produzidos em Hollywood. O favoritismo da mega produção de O curioso caso de Benjamin Button , de David Fincher, desbancado pela simplicidade da produção de Quem quer ser um milionário , de Denny Boyle, reflete várias questões na indústria do cinema. Uma, parece ser a respeito do modo de fazer cinema, apesar de que essa questão que vou apontar ser uma tônica noutras premiações da Academia: não é necessário ser dono de uma gorda conta para se produzir bons filmes. E, outra, que está para além da forma de fazer cinema, que é o reconhecimento, enfim, da real maior indústria cinematográfica do mundo - a indiana. Reconhecimento ou provocação. Fica a critério de quem julgar. E, em linhas gerais, e talvez seja este o fator verdadeiro: o interesse hollywoodiano de expandir para além das fronteiras a que sempre esteve preso. Afinal de contas, o Oscar 2009 agraciou mais aos que...

o tempo

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Patrick Proktor. Matamos o tempo e o tempo nos enterra. (Machado de Assis) martelava o tempo tique-taque tique-taque tique-taque enxerguei-me escravo do tempo tique-taque tique-taque tique-taque quase tive um ataque! tique-taque tique-taque tique-taque matamos o tempo tique-taque tique-taque tique-taque o tempo nos enterra tique-taque tique-taque tique- taque tique-taque tique-taque * Acesse  o e-book  Palavras de pedra e cal  e leia outros poemas de Pedro Fernandes.

A eternidade de um enigma (notinhas)

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Por Pedro Fernandes Cena de Capitu . 1. Hoje, depois de ir a livraria tive contato com um belíssimo trabalho impresso. É um catálogo de imagens da minissérie Capitu , do mesmo diretor de Os Maias e A pedra do reino , Luiz Fernando de Carvalho, também feita para a TV Globo. Estão lá sua metodologia de trabalho que inclui uma imersão dos atores e técnicos nas obras literárias. 2.   O livro é dividido em duas partes, e se apresenta o processo de preparação dos atores e a história filmada de um dos maiores clássicos da literatura brasileira, Dom Casmurro , também vem regado de imagens com tratamento especial da fotografia típica do seriado . 3.  Durante dois meses os atores e a equipe técnica se reuniram semanalmente e assistiram palestras sobre a obra de Machado de Assis - Sergio Paulo Rouanet, Daniel Piza, Maria Rita Kehl, Luiz Alberto Pinheiro de Freitas, Carlos Byington, Edmilson Martins Rodrigues e Gustavo Bernardo. Os textos dessas palestras é o que compõe a prime...

Holocausto

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Por Pedro Fernandes O vocábulo holocausto só entrou para o léxico da língua portuguesa por volta do século XIV - conforme o Aurélio veio do grego holókauston , sacrifício em que a vítima era queimada inteira, pelo latim, holocaustu . Entretanto, seu sentido original permanece apenas como registro, porque depois do genocídio dos judeus empreendido pelo regime nazista de Adolf Hitler, no decorrer da Segunda Guerra Mundial, tornou-se espécie de nome próprio para tal fato. Mas, já em referência a massacres a palavra fora utilizada por Winston Churchill quando num discurso seu em que descrevia o assassinato de cerca de um milhão de armênios pelo governo turco. Noutro entretanto, a inédita escala de extermínio de judeus pelos nazistas, em que o número extrapola à casa de milhões de pessoas, exigiu um nome específico, um nome próprio - com iniciais maiúsculas, como sentido do caráter único de tamanha barbárie, afinal, se o número de judeus vai a casa dos milhões mais haverá de ir se...