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Três notas introdutórias sobre Os sertões, Euclides da Cunha

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ilustração: Andrés Sandoval (detalhe) Livro posto entre a literatura e a sociologia naturalista, Os sertões assinalam um fim e um começo: o fim do imperialismo literário, o começo da análise cientifica aplicada aos aspectos mais importantes da sociedade brasileira (no caso, as contradições contidas na diferença de cultura entre as regiões litorâneas e o interior). Antonio Candido,  Literatura e sociedade 1.  O crítico Antonio Candido define com essas palavras a importância d’ Os sertões  no panorama literário e cultural brasileiro. Obra publicada em 1902 e tida pela crítica como marco do pré-modernismo. A obra está dividida em três partes, "A terra", "O homem", e "A luta". Dado o conteúdo e a forma como que o romance se apresenta sua monumentalidade se constitui sob vários aspectos, e um dos, é fato de, ao ser assim composta, não ajustar-se a nenhuma categoria das criadas pela crítica; e, sequer ser possível ser acomodada facilmente...

Odysseás Elýtis

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Axion esti fez Odysseás Elýtis reconhecido em nível internacional. A obra levou catorze anos para ser escrita e acompanhada pelas notas do compositor Míkis Theodorákis deu a volta ao mundo. Mais tarde, o poeta reconheceu que não foi sua escrita mas o talento do compositor que transformou seu nome entre as referências da poesia grega. Para se ter uma ideia sobre a dimensão dessa obra, foi ela que colocou Elýtis entre nomes como Kostís Palamás e Ángelos Sikelianós. O poeta, “um dos mais brilhantes deste século”, como o descreveu um de seus tradutores, nasceu no interior de uma família de boas posses na ilha de Creta, em Heraclião, de frente para o mar Egeu, que tanto amou e cantou em suas odes. Em sua juventude, Elýtis tentou estudar Química e Direito, mas foi seduzido pela poesia, escrita na qual deu seus primeiros e tímidos passos em 1935; mas só foi cinco anos mais tarde que publicou sua primeira antologia de poemas com o título de Orientações *, que fez ressurgir o surreal...

Desmundo, de Ana Miranda

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Por Pedro Fernandes Não é este o primeiro romance de Ana Miranda, mas bem poderia sê-lo. Na catedral de livros construída por ela, desde o seu primeiro bem sucedido Boca do Inferno , seguido de O retrato do rei , Sem pecado , A última quimera , Clarice , Amrik , Dias & Dias e Yuxin , seu mais recente, a escritora cearense se faz única em cada um deles. Se alguns escritores buscam/ buscaram a unidade ou estão/ estiveram em torno de um gesto escritural uniforme que os defina, para ela, não: cada romance se alimenta de uma linguagem própria e se constitui único, como quem se reinaugura continuamente. De modo que, afirmar que este Desmundo poderia ser seu primeiro trabalho não é exagero. Notará isso quem tiver lido ao menos duas obras suas. Agora, diferentemente de outros autores que se dizem sem um projeto literário próprio – e estou aqui pensando em José Saramago como exemplo – Ana Miranda sabe claramente do seu itinerário. Em certo momento recente com a escritora, e...

Gonçalves Dias, o primeiro poeta do Brasil

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Durante as já tão minhas faladas e mais ou menos produtivas férias do mês de janeiro, passei os olhos numa biografia que há uns cinco anos tive oportunidade de ler. Falo da biografia do escritor brasileiro Gonçalves Dias. O livro foi um dos volumes que saiu numa coleção intitulada A vida dos grandes brasileiros publicada pela IstoÉ com texto do autor Pedro Pereira da Silva Costa.  E como é grande a literatura de Gonçalves Dias! Ainda maior parece ter sido sua vida. O amor que devotou ao Brasil em seus versos não parecia tanto com aquele poeta fingidor do qual falaria contemporaneamente Fernando Pessoa. Pelos traços biográficos seus, posso mesmo admitir que Gonçalves Dias realmente andava  e amava (por) essas paragens selvagens. A post de hoje é dedicada ao poeta maranhense. Canção do exílio Kennst du las Land, wo die Citronen blühn Im dunkeln Laub die Gold-Orangen glühn, Kennst du es who? – Dahin! Dahin! Möchtich… ziehn. Goethe Minha terra tem palme...

A um Passo da Eternidade, de Fred Zinnemann

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O beijo acalorado entre Burt Lancaster e Deborah Kerr, rolando na areia da praia, é uma das cenas mais românticas da história do cinema No começo da década de 1950, os Estados Unidos já começavam a se recompor dos traumas da Segunda Guerra Mundial, mas algumas feridas ainda não estavam cicatrizadas. Entre elas, o ataque sofrido em Pearl Harbor, um assunto dolorido para os americanos e exorcizado em A um Passo da Eternidade , filme baseado no best-seller de mesmo nome de James Jones e uma das maiores bilheterias da época. A direção é de Fred Zinnemann, que já havia cutucado a caça às bruxas do senador Joseph MacCarthy em Matar ou Morrer (1952). Em seu outro grande trabalho, o cineasta de origem austríaca filmou o cotidiano de uma base militar americana no Haví, alguns dias antes do ataque japonês. Montgomery Clift vive Robert Prewitt, um soldado que acaba de ser transferido. Boxeador talentoso, Prewitt largou o esporte após um acidente e recusa-se a voltar a lutar. Acaba ho...

Notas de viagem

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Por Pedro Fernandes 1.  Na primeira viagem a Mossoró há duas semanas, um pequeno desgosto, porque não pude acompanhar na noite de 19 de março, o lançamento da 3ª edição do Jornal Trabuco e o lançamento do Projeto Caderno Sarau. O que rolou foi apenas uma curta conversa com o poeta mossoroense Gustavo Luz. Na pauta desse encontro não programado estavam assuntos pessoais e assuntos que dizem respeito à organização do Caderno de Poesia Sarau – projeto que terá lançamento junto com a quarta edição do Jornal Trabuco , prevista para maio – e ao seu livro de poesia, agora em segunda edição, sem data para relançamento, o Das máquinas . 2. A reedição de Das máquinas  tem o texto da quarta capa escrito por mim, depois de uma leitura na íntegra do conjunto de poemas; abaixo tomo a liberdade de transcrever alguns inéditos da obra. Tão logo o livro seja publicado copio por aqui o referido texto que escrevi. 3.  Desta conversa com Gustavo, outra novidade: as publicações da edi...